30 mai, 2025 - 18:15 • João Filipe Cruz
O antigo árbitro internacional Duarte Gomes lamenta a "forca em público" em que as críticas aos árbitros tendem a desaguar em polémicas como a do pisão de Matheus Reis a Andrea Belotti, na final da Taça de Portugal, e admite que esta pode ser uma bola altura para a classe falar.
Em declarações a Bola Branca, Duarte Gomes salienta que, com a arbitragem, "tudo o que é dito é geralmente mal interpretado", contudo, mostra-se "muito certo" de que chegou a hora de quebrar o silêncio.
"Nem sempre o silêncio é o melhor aliado. É em muitas circunstâncias, mas há um momento em que temos de perceber, até pela dinâmica dos tempos e por um conjunto de queixas e suspeições que vão acontecendo sistematicamente em torno da arbitragem, que é importante falar, esclarecer, explicar, assumir com a humildade e a dignidade de quem não tem nada a esconder", reconhece, depois de Tiago Martins, o videoárbitro da final da Taça, ter sido alvo de ameaças, ao que a Renascença apurou.
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Duarte Gomes defende uma comunicação "prudente", sem reações a quente, mas sim de forma "ponderada e estratégica, com eficácia".
Ainda assim, considera também importante que o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol não se esconda: "A estrutura da arbitragem que tomou posse há pouco tempo terá em mãos o desafio de perceber de que forma podemos começar a abrir a porta da nossa casa, que nada tem a temer ou esconder, para aos poucos irmos explicando algumas decisões e situações de jogo. Uma estratégia de comunicação que passe por não nos escondermos nestes momentos."
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Duarte Gomes já não arbitra, no entanto, no verão, assumirá funções no Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol.
Num olhar para o passado, confessa que "não há dias fáceis, mas há dias muito gratificantes" na vida de árbitro. Contudo, lembra também que a arbitragem "é uma escolha legítima e feita com ponderação", que feita com noção dos danos colaterais que possam surgir.
"O problema é a dimensão desses danos colaterais. Uma coisa é o dano colateral desportivo, que incide sobre a competência, o erro. E o escrutínio do erro, quer gostemos, quer não, está num patamar extremamente elevado. É com esta realidade que os árbitros de topo têm de lidar, isto é inevitável", assume.
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Outra coisa "completamente diferente", argumenta, "é quando este tipo de crítica ataca a idoneidade e a integridade" de um árbitro.
"Mais grave ainda, cria ameaças que são muitas vezes estendidas à família. E quando entra para patamares de ódio que não são justificáveis. O problema é que muitas vezes, em Portugal, e não só, ultrapassamos essa linha com muita facilidade, sem que haja a devida punição. Há uma sensação de impunidade em relação a tudo o que se diz, nomeadamente pessoas com responsabilidades acrescidas junto da opinião pública e que, por força das emoções exacerbadas, dizem um conjunto de barbaridades que são crime e que não são sentenciadas como tal", afirma.
Em suma, para Duarte Gomes: "Uma coisa é a responsabilidade de um erro técnico, que tem de ser assumida e tem de ter uma consequência desportiva, uma penalização. Outra coisa é a forca em público."