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Mundial de voleibol

“A Bulgária tem ‘soldados' e comete muitos erros não provocados. Depende muito dos irmãos Nikolov"

21 set, 2025 - 14:20 • Carlos Calaveiras

Jogou na seleção búlgara, o próximo adversário de Portugal no Mundial de voleibol, chegou ao nosso país em 1989 e nunca mais de cá saiu, transformando entretanto o CNG. Esta é a história de Radoslav Peytchev, um economista que virou distribuidor.

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A seleção portuguesa de voleibol vai defrontar a Bulgária nos oitavos de final do Mundial da modalidade, que está a decorrer nas Filipinas.

Esta segunda-feira, a partir das 8h30, as duas equipas tentam chegar aos quartos de final (e assim repetir o feito de 2002).

A Renascença falou com o búlgaro Radoslav Peytchev. Veio para jogar no Benfica em 1989 e nunca mais deixou Portugal. Está feliz há 32 anos no Clube Nacional da Ginástica, na Parede, no concelho de Cascais.

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Perdeu-se um economista, mas ganhou-se um voleibolista de excelência, que agora ajuda a desenvolver a modalidade em Portugal, o país que o adotou.

Nesta conversa com Bola Branca, Peytchev, de 65 anos, dá um ligeiro favoritismo à Bulgária, mas aponta debilidades ao seu país de origem. Portugal pode passar, se conseguir contrariar a dupla de irmãos que está do outro lado da rede.

Tem visto os jogos de Portugal no Mundial de voleibol. O que lhe tem parecido?

Eu vi um jogo em direto, depois vi os outros em diferido. Acho que a seleção portuguesa teve a capacidade de se superar no primeiro jogo contra Cuba. Todos sabiam o significado desta vitória e conseguiram superar-se em termos da sua forma de estar no jogo, de conseguir adaptar-se ao jogo forte no ataque e superioridade física da equipa de Cuba e, a partir daí, conseguiram tirar o nervosismo e a emoção que o jogo decisivo exigia.

A partir daí, os outros dois jogos [contra Estados Unidos e Colômbia] não correram de forma tão esperada. Mas, para mim, aquilo que aconteceu é que depois do primeiro jogo, todos os atletas e a equipa técnica acharam que o objetivo praticamente estava conseguido, mas o certo é que nesses dois jogos não houve consistência, períodos altos e baixos, mas no final, lá venceram a Colômbia [no quinto set]. Começou mal, notou-se aquele nervosismo e aquela ansiedade de que tinham de ganhar e era importante mas, no final, conseguiu-se o objetivo que colocou Portugal nos oitavos de final.

Como é a seleção búlgara?

Na minha opinião, neste momento, a Bulgária é um pouco favorita. Não pelo seu historial ou posição no ranking mundial, mas pelo aquilo que fez no seu grupo. A Bulgária contratou no ano passado o treinador italiano Gianlorenzo Blengini, que tem como objetivo o apuramento para os Jogos Olímpicos em 2028 e fez as suas escolhas nesse sentido. Apostou em atletas muito jovens com muita qualidade.

E o que aconteceu? Preferiu ter ‘soldados’. Soldados, atletas que querem, atletas com capacidade, atletas que vão acreditar na liderança e vão cumprir tudo aquilo que ele quer e a sua ideia. E este é, no fundo, um dos trunfos da seleção da Bulgária, que conta com atletas muito altos, fisicamente muito bons, que conseguem já dar qualidade boa ao seu jogo. Apesar disso, cometem ainda muitos erros não provocados. Por exemplo, no primeiro set contra a Alemanha, a Bulgária perdeu 14 serviços. Uma equipa não pode perder 14 serviços num set. Mas isto quer dizer que a Bulgária consegue superar estes erros com um poder ofensivo no ataque, no bloco e no serviço e esses vão ser os pontos mais fortes da equipa.

E de Portugal, quais são os pontos fortes?

Portugal tem um jogo muito determinado, muito coletivo, aposta mais na fase da transição. No fundo, defender bem e depois criar situações no contra-ataque para conseguir equilibrar essa parte. Vai ser determinante quem conseguir superar a demasiada emoção e nervosismo que vai haver no início do jogo, porque sabemos que a emoção demais gera desequilíbrios.

O objetivo é muito grande, estar nos quartos de final para Portugal vai ser histórico, nunca aconteceu. E quem conseguir superar essa parte inicial e adaptar-se o melhor àquilo que são os pontos fortes do seu adversário, vai ser determinante para gerir depois o jogo.

E, portanto, em sua opinião, a Bulgária é favorita?

Sim, sim. Por aquilo que fez na fase de grupos. Agora, Portugal tem os seus pontos fortes e vai ser um jogo também muito tático. A Bulgária depende muito do seu melhor atacante, o Aleksandar Nikolov, e do seu irmão [Simeon], em termos de serviços. E se Portugal preparar muito bem o jogo e conseguir contrariar estes dois atletas, vai ter sucesso.

E para ganhar o Mundial quais são as seleções mais fortes?

O campeonato tem tido muitas surpresas, o Brasil e a França já foram [eliminados]. Eu acho que se vai decidir entre a Polónia e a Itália.

Foi jogador. Há algum português da atual seleção parecido consigo?

Eu fui distribuidor e fui considerado, na altura, um dos melhores, mas isso já foi. Acho que neste momento, o Miguel [Tavares] é um dos melhores passadores, do mais alto nível, dos melhores do mundo.

Está em Portugal há 35 anos, veio para jogar no Benfica. Como correram as duas épocas na Luz?

Eu cheguei em 1989 para o Benfica, onde estive dois anos, e ganhámos tudo aquilo que havia para ganhar nesses dois anos. Supertaça, Taça, campeonato e chegámos aos quartos de final da taça europeia.

E depois ficou por cá…

Depois tive uma passagem de dois anos nos Antigos Alunos em Ponta Delgada. E desde 1993 estou no Clube Nacional da Ginástica, primeiro como jogador e depois como treinador e coordenador. O Clube Nacional da Ginástica tinha só uma equipa sénior em 1993, estava na segunda divisão zona sul e tinha ganho só o playoff para a manutenção. Neste momento, o clube tem 14 equipas de competição, mais mini-voleibol. São quase 300 atletas.

Neste momento é um dos maiores clubes não só da zona da Lisboa, mas também do país. Tivemos algum sucesso, conseguimos alguns títulos nacionais, principalmente na segunda divisão. O clube é muito estável, só lhe falta arriscar um pouco. Quando estivemos na primeira divisão, era preciso apostar mais e ter melhores condições para a equipa, principalmente seniores masculinos.

Foi adotado pelo Clube Nacional de Ginástica e por Portugal.

Nunca esperei que isso fosse a minha vida. Eu sou economista, licenciado em Economia, mas nunca exerci na Bulgária. E aqui também foram anos e anos sem pensar que o voleibol podia ser a minha vida toda. E, afinal, tudo aconteceu em Portugal e eu sou grato a Portugal, aos clubes onde estive, que me deram essa possibilidade de construir uma vida estável e uma vida de sucesso através do voleibol. Estou muito feliz por estar cá.

Se calhar, não sei, sou o único treinador de voleibol que está no mesmo clube há 32 anos. Acho que é um legado que vai ficar para mim e para o historial no voleibol. Acho que, com tudo isso, também contribui para o voleibol e para a evolução do voleibol em Portugal. Joguei na seleção da Bulgária e estive lá até aos 29 anos, mas posso dizer, sinceramente, que sinto-me mais realizado em Portugal.

Perdemos um economista, mas ganhamos um craque no voleibol.

Exatamente, sem pensar, sem querer. Nunca pensei que o voleibol seria a minha vida, mas estou muito feliz com isso.

Para fechar, voltemos ao início de tudo, como começou este gosto pelo voleibol?

É um facto curioso porque estamos a falar do Campeonato do Mundo de voleibol e a minha entrada no voleibol foi exatamente por essa razão. Eu comecei a jogar com 10 anos, em 1970. E o Campeonato do Mundo de Voleibol foi na Bulgária. A nossa seleção ficou em segundo lugar, perdeu dramaticamente a final com a antiga RDA no quinto set. Todo o país viveu o campeonato e quando começaram as aulas, apareceu um treinador de voleibol e fomos todos a jogar. A partir daí, ficou essa paixão, ficou tudo aquilo que senti naquele momento e que ficou até agora.

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