A+ / A-

Sporting

Quem é o “ancelottiano” Rui Borges? Uma breve análise ao treinador do Sporting

10 mai, 2025 - 08:55 • Hugo Tavares da Silva

O ex-treinador do Vitória chegou a Alvalade depois do Natal e prometeu “atitude” quando faltasse “inspiração”. Dois comentadores Bola Branca traçam o perfil do treinador do Sporting.

A+ / A-

Apresentou-se em Alvalade, depois do natal, com um slogan profético, quem sabe: "Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude". O cidadão de Mirandela, assinando um brilharete no Vitória SC, sucedia a João Pereira, um treinador que teve muitas dificuldades para manter o nível de jogo e a mentalidade do grupo na ressaca da saída de Ruben Amorim para o Manchester United.

O treinador que flertou com a impossibilidade do bicampeonato ("vamos ver", disse no Marquês) deixou o Sporting com 11 vitórias em 11 jornadas (39 golos marcados, cinco sofridos). O Benfica estava a cinco pontos e o FC Porto a seis.

Rui Borges chegou para apagar os fogos e devolver a chispa a futebolistas vários como Viktor Gyökeres. Antes de aterrar no gigante de Lisboa, o treinador passou por Mirandela, Académico de Viseu, Académica, Nacional, Vilafranquense, Mafra, Moreirense e Vitória de Guimarães. Aos 43 anos, Borges, com apelido de poeta, tem a possibilidade de conquistar uma dobradinha.

A história desata-se definitivamente já este sábado, no Estádio da Luz. Ao Sporting basta ganhar o dérbi para ser campeão nacional pela terceira vez em cinco anos, algo só visto nos anos 50.

Os comentadores Bola Branca Francisco Guimarães e Francisco Sousa fazem um breve retrato do treinador do Sporting.

Já segue a Bola Branca no WhatsApp? É só clicar aqui

Francisco Guimarães

É um treinador com o perfil de equipa de contenção. Vulgo, equipa pequena. As suas equipas têm dificuldades a sair a jogar. Geralmente, não são dominadoras, o que as torna mais talhadas para o contra-ataque. Já o era no Vitória, continua a sê-lo no Sporting, o que, tendo em conta que se trata de uma equipa de maior dimensão, pode considerar-se um problema.

As suas equipas são verticais. Gosta de laterais ofensivos, médios que lancem bolas longas, trincos a ir buscar jogo aos centrais e avançados em profundidade. Demora tempo a tomar decisões durante o jogo, e nem sempre acerta. Por vezes, em desespero, vale tudo, inclusive ideias nas quais não acredita.

A sua maior qualidade é a “ancelottização” do processo. A simplicidade é o segredo (às vezes é simples demais). Fiel ao discurso do “unidos venceremos”, carregado de chavões, consegue passar a mensagem com eficácia. De facto, as suas equipas lutam até ao fim, unem-se perante as adversidades e os jogadores com mais personalidade assumem o papel de líderes, em substituição deliberada do treinador.

É um treinador sereno e calmo durante o jogo. Uma estátua impenetrável, o que é bom em tempos de maior pressão e ansiedade.

Francisco Sousa

É um treinador que vinha até com uma base do ponto de vista de sistema tático distinto das experiências anteriores. É um técnico muito capaz de fazer crescer jogadores, de valorizar os jogadores em público também, é um dos pontos que foi de coesão e que continua a ser de sustento emocional e motivacional no balneário, a forma como ele valoriza constantemente as grandes figuras da sua equipa em público. Vai-se desfazendo em elogios, ainda há pouco disse que Gyökeres é o melhor avançado da Europa, valorizando constantemente o papel de Hjulmand, vai deixando palavras elogiosas para alguns dos miúdos que têm vindo a aparecer, para Francisco Trincão e outros nomes importantes.

Depois, há aqui de certa maneira dois pesos e duas medidas, porque já teve aqui um discurso de certa forma nonsense a propósito de Conrad Harder. Há aqui jogadores que claramente se percebe, quer por rendimento, quer por perfil tendo em conta a ideia de jogo do treinador, que não têm um encaixe perfeito. Acho que Rui Borges acaba, muitas vezes, por desvalorizar os jogadores, não os utilizando. Enfim, acho que já teve aqui na sua forma bastante genuína de comunicar, completamente despreocupada com a forma como o discurso sai mais ou menos polido, alguns deslizes.

Parece-me, na comparação com Bruno Lage, menos em ebulição no banco de suplentes. Assim como Lage mostrou também uma boa capacidade de adaptação às circunstâncias, acho que o Sporting ganhou estabilidade com o regresso ao 3-4-2-1. É sinal de inteligência e capacidade de reflexão de Rui Borges. A questão é que as escolhas dos perfis, em vários momentos, acabaram por desiludir.

Se é um facto que o Sporting também vai dando sinais de melhoria, tendo em conta o crescimento de alguns jogadores que foram evoluindo quase à força por serem cada vez mais utilizados em determinadas posições, dou o exemplo evidente do Zeno Debast, que ainda está longe de dominar todas as competências como médio, mas sem dúvida cresceu nesse departamento, até na forma como pressiona e recupera, era uma das grandes fragilidades que tinha, até a jogar como central. Mas recuperou alguns jogadores que estavam de fora e que vão ser muito importantes para esta ponta final, já o mostraram a espaços, Pedro Gonçalves, Morita, isso vai ser muito importante.

Recuperou o melhor Gyökeres para esta ponta final de época, tem sido absolutamente decisivo, sendo que o Sporting, e isso não abona muito a favor de Borges, é mais Gyökeres-dependente do que era com Ruben Amorim, sendo que já marcava muitos golos com Amorim. A equipa era mais harmoniosa antigamente, essa dependência é real, tem sido real. Acho que tem sido uma tábua de salvação, vá, para o Rui Borges.

Do ponto de vista das opções, nem sempre foi um treinador capaz de fazer esta equipa crescer de forma sustentada.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+