04 nov, 2025 - 00:00 • Filipa Ribeiro
O antigo ministro das Finanças, Fernando Medina, considera a "poupança" esperada para o Ministério da Saúde é outra "história da carochinha do Governo" que "não vai acontecer, porque não há nenhum plano, nenhuma ideia, nem estratégia" para executar os objetivos de poupar no setor da saúde.
O ex-governante do PS acredita que se possa estar a caminhar para uma situação de "derrapagem orçamental na Saúde" ou de "cortes na prestação de cuidados".
Numa altura em que a Saúde volta a estar debaixo de fogo, o antigo ministro do PS - que já por várias vezes defendeu a demissão de Ana Paula Martins do Ministério da Saúde - acusa a governante de estar a "destruir o SNS sem visão estratégica, a não ser atirar dinheiro para cima dos problemas".
Fernando Medina critica a ministra da Saúde que, na sua opinião, não tem "uma marca positiva e que já vai muito tarde na sua saída". Acusa Ana Paula Martins de ser responsável por uma situação "insustentável no SNS".
Sobre os problemas e a solução apontada pelo Presidente da República - um acordo político alargado -, Fernando Medina considera inviável esse caminho: "Depois de o Governo ter interrompido a reforma que vinha do governo anterior, de ter demitido as pessoas altamente competentes, de ter demitido as próprias pessoas que contratou e de ter lançado o caos completo, creio que apelar a um consenso não tem qualquer viabilidade".
O antigo ministro das Finanças considera que Marcelo Rebelo de Sousa foi "pouco assertivo" no discurso que fez sobre a Saúde.
Do lado dos social-democratas, Miguel Poiares Maduro considera que o apelo do presidente da República tem sentido e, sobre a ministra da Saúde, defende que Ana Paula Martins está a sofrer com a pressão e expetativas colocadas pela própria e pelo Governo no ministério.
Face aos casos dos últimos dias nos hospitais, o antigo ministro do PSD considera que é necessário aguardar para perceber se os casos em que houve falhas do SNS no tratamento de doentes e grávidas estão relacionadas com as políticas adotadas pelo Governo.
Na análise ao Orçamento do Estado que está agora em discussão na especialidade, o antigo ministro das Finanças diz que falta credibilidade no crescimento da economia de 2,3% face ao contexto internacional. "Não é prudente a expectativa de crescimento económico. Num quadro de realismo usaria a dimensão que estava na casa dos 2%", sublinhou.
Fernando Medina apelida ainda o documento aprovado de Orçamento de "fim de linha" depois de "tudo o que o Governo tem vindo a fazer de errado". O ex-ministro das Finanças diz que as opções de "governar para eleições" está a colocar a economia mais dependente da "conjuntura de trabalhadores a receberem mais salários e mais dependentes do ciclo económico" que, para o antigo governante, é o "oposto de uma boa gestão financeira".
O antigo ministro das Finanças considera que "em caso de abalo económico, o país pode regressar de forma direta e crónica à situação de défice orçamental", ainda assim acredita que no próximo ano não seja necessário recorrer a um orçamento retificativo.
O socialista defende ainda "não ser favorável" a que no OE haja movimentos de grandes aumentos da despesa - isto depois de o PS ter defendido um aumento das pensões. Para Fernando Medina, os compromissos de natureza estrutural devem ser ponderados e recalendarizados por não ser este o momento para eles.
No entanto, depois de o ministro das Finanças ter apelidado a proposta do PS de irresponsável, Fernando Medina diz que no executivo não há moral uma vez que abriu a discussão ao deslizar no calendário a discussão de medidas como a lei laboral.
Para Miguel Poiares Maduro, o Governo optou por um orçamento "politicamente prudente e económico financeiro otimista". O social-democrata elogia que o Executivo tenha optado por não incluir propostas legislativas que poderiam ser controversas - como a lei laboral - para diminuir a possibilidade de o documento ser chumbado.
Apesar de considerar que é otimista, Poiares Maduro acredita que o Governo "não vai correr o risco de haver défice no próximo ano pelo peso político" que teria. Admite que possa haver "travão" a nível de execução orçamental, mas sem orçamento retificativo.