15 jun, 2024 - 11:54 • Arsénio Reis , Sandra Afonso
Depois do BPI e da gestão da tesouraria da dívida pública, Cristina Casalinho gere agora os milhões de uma das maiores Fundações do país, a Fundação Calouste Gulbenkian. A economista é desde fevereiro a única gestora executiva da instituição. Como administradora executiva tem, entre outros, o pelouro financeiro, ou seja, é responsável pelo orçamento anual, que ronda os 100 milhões de euros.
Em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, da Renascença, Cristina Casalinho explica onde aplica a fundação estes milhões, mas também como é assegurada a manutenção deste nível de financiamento. Dito de outra forma, como e onde investe a fundação os seus ativos.
A economista comenta ainda os riscos atuais que ameaçam as economias e o investimento, as decisões do Banco Central Europeu sobre os juros e a inflação, o futuro do euro digital, as perspetivas de crescimento do governo ou a necessidade de trabalhadores estrangeiros.
A antiga presidente do IGCP, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, “acredita na capacidade de ajustamento” de Portugal e dos países em geral. Por isso mostra-se tranquila com os alertas crescentes de que o país não tem mão-de-obra para toda a construção que vai arrancar, sobretudo devido ao PRR.
Cristina Casalinho lembra que “os portugueses têm uma flexibilidade que nos faz encontrar soluções relativamente rápidas. Somos relativamente fáceis no penso rápido”. Acredita ainda que a legalização dos imigrantes não será um problema, “estamos todos muito motivados e com grande vontade de superar esse obstáculo, porque precisamos deles”.
A antiga presidente do IGCP, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, “acredita na capacidade de ajustamento” de Portugal e dos países em geral. Por isso mostra-se tranquila com os alertas crescentes de que o país não tem mão-de-obra para toda a construção que vai arrancar, sobretudo devido ao PRR.
Cristina Casalinho lembra que “os portugueses têm uma flexibilidade que nos faz encontrar soluções relativamente rápidas. Somos relativamente fáceis no penso rápido”.
Acredita ainda que a legalização dos imigrantes não será um problema, “estamos todos muito motivados e com grande vontade de superar esse obstáculo, porque precisamos deles”.
Sem considerar novas medidas políticas, a economista diz que é “bastante plausível” um crescimento até 2,5% nos próximos anos. Já para “termos níveis de crescimento mais dinâmicos” e chegar aos 4,3% apontados pelo governo, são necessárias “alterações tecnológicas significativas” que aumentem a produtividade.
Nesta entrevista a economista defende ainda que é preciso um novo modelo económico e produtivo, que responda às necessidades da população mundial, que duplicou nos últimos 50 a 60 anos.
“Vamos ter que alimentar as pessoas de forma diferente, temos que ter água portada e gerida de forma distinta, o modelo agrícola também vai ter que ter alterações muito significativas e a própria questão da mobilidade”, explica.
Isto obriga a repensar “o nosso modelo produtivo, baseado no modelo de combustão interna ou em combustíveis fósseis para geração de eletricidade, a economia vai ter que ser toda eletrificada”. O problema, diz, é que “vamos ter que alterar a nossa fonte energética e ainda não há nenhum substituto seguro, barato e com que as pessoas se sintam confortáveis”.
Esta necessidade de alteração do modelo produtivo, sobretudo a nível tecnológico, visa ainda assegurar a produção a custos baixos.
Nesta entrevista ao programa Dúvidas Públicas, Cristina Casalinho, explica que a inflação permaneceu baixa durante muitos anos porque a produção estava concentrada em países com mão-de-obra barata. “Houve uma grande deslocação da produção, sobretudo para a Ásia, onde os custos eram mais baixos”.
O que aconteceu é que “esta arbitragem tem um tempo, esgota-se… E, esgotou-se!”
A economista dá um exemplo simples: “lembrem-se do custo de uma t-shirt, aquela simples, há cerca de três ou quatro anos, talvez até mais, o preço deixou de baixar e até já subiu um bocadinho. Todos nos lembramos da t-shirt a um euro ou dois euros, hoje em dia está a… (cinco euros ou mais), exatamente”.
Cristina Casalinho recomenda, assim, que “sigam a t-shirt”, em vez de um qualquer índice.
Ainda não há uma decisão final mas o Banco Central Europeu já anda há algum tempo a preparar o lançamento do euro digital.
A antiga administradora do BPI acredita que os bancos centrais vão mesmo avançar com as moedas digitais. “Vai ser uma realidade, é impossível não ser”, diz. “As autoridades monetárias não podem deixar os ativos digitais sem algum tipo de escrutínio e sem lá estarem presentes”.
A economista defende ainda que as moedas digitais deverão revolucionar os pagamentos internacionais. No entanto, em países como os da zona euro, que já partilham uma moeda única, ou mesmo no espaço da União Europeia, este impacto não vai ser tão sentido.
Ainda assim, estas moedas internacionais “podem ser um facilitador dos pagamentos internacionais” e reduzir os custos associados. Estes pagamentos consomem hoje cerca de 6% do PIB mundial, “se conseguirmos eliminar esse custo será muito significativo”.
Com o surgimento das moedas digitais aproxima-se também o fim do dinheiro físico, que hoje já não existe em alguns países europeus. Cristina Casalinho defende que “é inevitável” o desaparecimento das notas e das moedas.
Como Administradora Executiva, com o pelouro financeiro, uma das funções de Cristina Casalinho desde fevereiro é gerir o orçamento anual da Fundação Calouste Gulbenkian, cerca de 100 milhões de euros.
O dinheiro é distribuído por quatro eixos estratégicos, definidos pelo fundador: a arte, a ciência, a educação e a beneficência. Em 2022, uma revisão estratégica reorientou estes quatro eixos para três áreas: “a área de cultura tem cerca de 27 milhões de euros, a área de programas também um valor equivalente e a área de ciência tem cerca de 20 milhões”.
Mais conhecida do grande público pela atividade no mundo das artes, a fundação tem também uma sólida ação social e educativa, agora empenhada em atividades que espelhem a preocupação com a sustentabilidade. No entanto, em nada do que faz substitui o Estado, “é sempre uma lógica complementar e sobretudo colmatar falhas, onde não está ninguém”, diz Cristina Casalinho.
Com um forte cariz cultural, um dos desafios que hoje a fundação enfrenta é a diversificação do público, “renovar e atrair públicos mais diversificados, retendo ou mantendo os públicos mais tradicionais da fundação”.
Outro desafio é garantir que a gestão dos investimentos está alinhada com as orientações da Fundação, que em 2019 concluiu a venda das participações no petróleo. “Progressivamente as fundações tem-se afastado do negócio do fundador, para não ficarem contaminadas por algum enviesamento que a origem dos rendimentos levantasse”.
A Fundação substituiu os 20% que tinha na Partex por ativos que respondam às questões da sustentabilidade. Os fundos em que investe têm ainda, pelo menos, que cumprir determinados princípios, relacionados com a corrupção, cumprimento dos direitos humanos e respeito pelo direito ao trabalho, entre outros.
A Administradora Executiva faz um balanço positivo da alienação do petróleo. Explica que hoje a Fundação até investe mais em participações não líquidas, que antes representavam 20% e hoje já chegam aos 35% dos ativos da instituição.
Esta alteração fez com que aumentasse a exposição ao mercado imobiliário, mas Cristina Casalinho acrescenta que esta é uma tendência “transversal ao mundo da gestão de ativos, que as fundações integram”.
Garante ainda que a fundação investe em “fundos muito variados”, normalmente por dez anos, e que o faz de forma conservadora, para garantir a “estabilidade de retornos ao longo do tempo”.
O objectivo é, “no mínimo, manter o valor real da carteira, com um valor adicional que é público, uma rendibilidade real de mais 3,5%”.
Na prática, “não temos retornos estelares nos bons momentos, mas contem connosco para surpreender quando a evolução do mercado é menos favorável. A carteira está desenhada para precaver dos cisnes negros ou de acontecimentos que penalizem os mercados”.
São excertos da primeira entrevista da nova administradora executiva da Fundação Calouste Gulbenkian, ao programa da Renascença Dúvidas Públicas. A entrevista está também disponível em podcast.