Dúvidas Públicas

Mercadona defende redução do IVA para 6% na alimentação básica

29 jun, 2024 - 11:30 • Sandra Afonso , Arsénio Reis

A Mercadona não garante a abertura da primeira loja em Lisboa no próximo ano, nem chega para já ao Algarve. Em entevista à Renascença, quando a cadeia de supermercados espanhola assinala o 5.º aniversário em Portugal, a Diretora de Relações Institucionais fala do processo de expansão da marca, que já emprega seis mil no país e já comprou três mi milhões a fornecedores nacionais. Defendem menos burocracia e a descida do IVA e estão abertos a discutir alterações no horário.

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Mercadona defende redução do IVA para 6% na alimentação básica
Veja a entrevista

Há cinco anos, a 2 de julho de 2019, a cadeia de supermercados espanhola Mercadona abriu a primeira loja no país, em Canidelo, Vila Nova de Gaia. Hoje, já tem 50 lojas e conta chegar até ao final do ano com 60. Está a expandir-se “como uma mancha de azeite”, de norte para sul, mas ainda não será este ano que chega à cidade de Lisboa ou ao Algarve.

Em entrevista à Renascença, a Diretora de Relações Institucionais da Mercadona Portugal, Inês Santos, também não garante a abertura em Lisboa no próximo ano.

Ao que apurámos, há pelo menos três localizações em negociação para a instalação de futuros supermercados na cidade de Lisboa. Uma delas já conta com a aprovação da autarquia, na Quinta do Lambert, na freguesia do Lumiar, junto ao Campo Grande. A empresa tem também em vista um espaço em Sete Rios.

Inês Santos admite que “Lisboa é uma cidade muito consolidada, mas não é impossível” abrir lojas na capital, garantindo sempre o modelo da marca, que exige espaço. No entanto, entre licenciamentos e obras, ainda não há datas fechadas. Ainda assim, a primeira loja da Mercadona irá abrir em Lisboa “o mais cedo possível e não será a única”, assegura.

Em outubro abre a primeira loja no Alentejo, em Évora, fica a faltar o Algarve, onde não está prevista nenhuma abertura para já. Os planos para os próximos anos passam por consolidar a rede nos locais onde já chegaram.

Destaque ainda para a inauguração em julho do maior parque logístico da empresa na Península Ibérica, instalado do lado de cá da fronteira, em Almeirim.

“É o maior investimento em Portugal, são mais de 250 milhões que investimos, foram dois anos de construção, e será a instalação que vai criar mais emprego. Contamos ter 500 pessoas a trabalhar até ao final do ano, só no bloco logístico. Esperamos também que seja uma âncora para que toda aquela zona possa crescer”, diz Inês Santos.

O maior grupo espanhol de retalho alimentar fechou o último ano com um volume de negócio em Portugal acima dos 1.400 milhões de euros e já antecipou para este ano um crescimento de 35% nas vendas. Além disso, 2024 deverá ser também um ano de viragem para a marca, o ano em que começam a ganhar dinheiro em terras lusas.

Mercadona já dá emprego a seis mil em Portugal

Neste momento, a Mercadona já tem cerca de seis mil trabalhadores no país e diz não ter dificuldade em contratar, ao contrário do que defendeu na anterior entrevista ao Dúvidas Públicas o presidente da Confederação do Comércio, João Vieira Lopes, de que o setor está a ser afetado pela falta de mão-de-obra no país.

“Nunca deixámos de abrir uma loja ou qualquer instalação por falta de pessoas”, garante a Diretora de Relações Institucionais.

Da mesma forma, não equacionam a redução dos horários, em resposta à falta de trabalhadores, como sugere o presidente da CCP. Ainda assim, a Mercadona diz que está disponível para discutir o tema, no âmbito de uma solução acordada por todos.

Esta foi uma questão com que a marca se debateu quando chegou a Portugal, porque em Espanha está fechada ao domingo. Por cá decidiram manter as portas abertas “porque toda a concorrência está aberta e o segundo dia de maior venda no comércio em Portugal é ao domingo”, explica. “O cliente tem a expectativa de ir ao supermercado ao domingo e enquanto isso acontecer vamos estar abertos, em linha com a concorrência”, conclui. Por outro lado, os colaboradores também contam com a remuneração extra.

A marca destaca como uma das vantagens competitivas, face à concorrência, o salário oferecido: “20% acima do salário mínimo, em loja e na logística, e com uma progressão de 11% ao ano durante quatro anos”.

Por outro lado, os trabalhadores do grupo são contratados, em regra, com contrato sem termo. Neste momento Inês Santos admite apenas que cerca de 1% esteja a prazo, como reforço sazonal.

Apesar destas condições, são públicas várias queixas de antigos trabalhadores descontentes, algumas ampliadas por forças sindicais. Entre elas, a acusação de não cumprimento da legislação laboral com os trabalhadores que são mães e pais recentes, nomeadamente, sobre a flexibilidade dos horários.

Inês Santos garante que são casos isolados. “Não haverá nenhuma empresa em que há seis mil trabalhadores e estão todos 100% satisfeitos, não digo que não possa haver algum caso isolado, às vezes erramos e enganamo-nos, temos de assumir e melhorar. Mas temos muito orgulho em ter muitas mães e pais que o decidiram ser ao longo destes cinco anos e vão continuar connosco”.

IVA a 6% na alimentação básica

“Rivalidades à parte, concorremos nas salas de vendas, mas somos parceiros nas reivindicações do setor”, garante Inês Santos.

Uma dessas reivindicações é o alívio e a simplificação fiscal, nomeadamente no IVA, que retira competitividade ao mercado nacional e complica as contas aos retalhistas.

Nesta entrevista à Renascença, a Diretora de Relação Institucionais da Mercadona em Portugal compara o código do IVA a “uma manta de retalhos, que muitas vezes é de difícil aplicação”. Nem sempre conseguem explicar ao cliente “porque é que há carne com 6% de IVA e outra, por ser considerada um produto elaborado, tem 23%”.

A Mercadona aponta, por isso, como prioridade nas alterações à legislação, “a revisão do código do IVA: simplificar e eventualmente baixar nos produtos alimentares mais básicos, para 6%”.

Sem fazer críticas diretas ao governo português, defende rapidez, simplificação e previsibilidade de procedimentos, que apoiem o investimento externo.

Em cinco anos compras a fornecedores portugueses chegam aos três mil milhões

Até ao momento, a Mercadona já conquistou entre 7 a 8% de quota de mercado, dependendo das análises, e defende que há espaço no retalho para mais concorrência, porque os clientes valorizam a diferenciação. “Temos tentado todos diferenciar-nos. O cliente aprecia isso.”

Na empresa espanhola, a aposta passa muito pela inovação e pelos produtos de “marca própria”, e nem todos vêm do país vizinho.

Nestes cinco anos, a Mercadona já comprou três mil milhões em produtos nacionais, “não só para vender nas lojas em Portugal, mas também para vender em Espanha”, onde a marca tem cerca de 1.600 lojas.

Entre os produtos nacionais mais vendidos em Portugal estão sobretudo os frescos: verduras, carne e peixe. Os produtores portugueses abastecem ainda as lojas espanholas com chocolates, vinhos, broa de milho ou o pastel de nata.

A maior dificuldade dos fornecedores nacionais é garantir produto para toda a cadeia, “nem todos estão dimensionados para isso, admite Inês Santos. “É preciso ter muita vontade e alguns têm crescido bastante”, garante.

Esta é a primeira e única, até ao momento, experiência da Mercadona fora de Espanha. Para já, não pensam em próximos mercados para novas internacionalizações, o futuro passa para já pela consolidação do investimento em Portugal.

Pode ouvir o programa Dúvidas Públicas aos sábados, na Renascença, a partir do meio-dia. Estas entrevistas semanais estão ainda disponíveis online e em podcast.

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