03 fev, 2025 - 20:30 • Diogo Camilo , Fátima Casanova
Borracha, cortiça, mas principalmente medicamentos. Os Estados Unidos são o principal destino das exportações portuguesas fora da União Europeia e só ficam atrás de Espanha, França e Alemanha. O setor mais afetado por possíveis tarifas impostas por Donald Trump será o dos produtos farmacêuticos, que teve nos EUA o seu maior cliente fora de portas em 2023 e 2024.
Só no ano passado, até novembro, Portugal exportou mais de 4,9 mil milhões de euros em bens para os EUA. Destes, mais de 1,1 mil milhões foram em medicamentos. Só na última década, o peso das exportações para território norte-americano cresceu 30%.
Este domingo, o Presidente norte-americano anunciou que vai impor taxas aduaneiras sobre produtos europeus “muito em breve”, depois de fazer o mesmo a Canadá, México e China, no sábado - entretanto já suspendeu por 30 dias as tarifas ao México.
“A União Europeia é muito má para nós. Trata-nos muito mal. Não aceitam os nossos automóveis nem os nossos produtos agrícolas”, afirmou. No olho do furacão estão, sobretudo, as trocas comerciais de bens, com uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações dos Estados Unidos, que irá afetar as exportações europeias e portuguesas.
Em resposta, o bloco europeu prometeu “retaliar fortemente”. Mas, para Portugal, isso de pouco serve: as importações dos EUA para o nosso país representam apenas 0,21% das compras ao estrangeiro, segundo os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), enquanto as exportações de Portugal para território norte-americano valem quase 6% do total de bens exportados.
Até novembro do ano passado, Portugal exportou um total de 4,93 mil milhões de euros em bens para os Estados Unidos, mais 404 milhões do que os registados no mesmo período do ano passado - para um aumento de 8,9%.
O valor representa 6,7% do total de exportações de Portugal, em linha com os 6,8% do ano passado, quando foram exportados 5,2 mil milhões de euros em bens para os Estados Unidos.
Trata-se de um aumento de 30% do peso das exportações para os EUA só na última década. Em 2015, as exportações para os Estados Unidos representavam apenas 5,2% do total de exportações - cerca de 2,6 mil milhões de euros, duplicando de valor nos últimos 10 anos.
Entre os setores que mais bens exportam para os Estados Unidos está a indústria farmacêutica: no ano passado, até novembro, por cada 100 euros recebidos por exportações aos EUA, 25 deles vieram de produtos farmacêuticos.
Ao todo, segundo os números do INE, o setor foi responsável por vendas de 1,3 mil milhões de euros - cerca de 25% de todas as exportações de Portugal em 2023. Entre janeiro e novembro do ano passado, as vendas foram de 1,1 mil milhões (23% do total).
Comparando com o resto do mundo, os EUA representaram quase metade das exportações em produtos farmacêuticos em 2023.
O setor tem crescido muito nos últimos anos, multiplicando-se em sete vezes desde 2015.
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O segundo setor em que os EUA têm um maior peso nas exportações é o dos derivados do petróleo, superior a 20%, e com exportações de 950 milhões até novembro do ano passado.
O terceiro setor com mais exportações foi o da borracha, com mais de 370 milhões de euros de exportações em 2023, que subiram para os 383 nos números de 2024, que só são conhecidos até ao mês de novembro.
Em termos de peso, a cortiça é mais dependente, com 12% das exportações em 2023 foram para os Estados Unidos.
Em serviços, Portugal exportou 5,4 mil milhões de euros para os EUA até ao mês de novembro, segundo dados do Banco de Portugal (BdP). São mais 500 milhões do que os 4,9 mil milhões no mesmo período de 2023. Desse valor, mais de 45% dizem respeito a exportações de viagens e turismo - 2,3 mil milhões de euros.
A ameaça de Trump está também a preocupar a Associação Empresarial de Portugal (AEP). Em declarações à Renascença, o presidente, Luís Miguel Ribeiro, avança que já há empresas em dificuldades financeiras devido ao abrandamento económico da Europa no último ano e que, com as tarifas aduaneiras americanas, a situação tende a agravar-se.
"Era um mercado para onde as exportações portuguesas estavam a aumentar significativamente, com cerca de 9% de aumentos em 2024. É um mercado importante e acontece na mesma altura em que o principal mercado para as nossas exportações, o da Europa, está em estagnação e se perspetiva que possa vir a haver recessão", afirma o empresário.
O responsável da AEP diz que o impacto "já está a acontecer" e pode levar a uma diminuição do volume de negócios em vários setores, como o do têxtil ou do calçado, que podem levar a dificuldades de tesouraria.