04 fev, 2025 - 21:06 • Sandra Afonso
"Quando eu estava no segundo ano da universidade e não sabia que rumo dar à minha vida, o Paul, um dos meus amigos de Lakeside, entrou de rompante no meu quarto com a notícia do lançamento de um computador inovador". O episódio é contado por Bill Gates, o cofundador da Microsoft e multimilionário, que pela primeira vez abre o livro da sua própria vida e conta na primeira pessoa como chegou ao sucesso e marcou o rumo da revolução tecnológica que vivemos.
"Código-Fonte" (Ideias de Ler), lançado esta terça-feira a nível mundial, é o primeiro livro de uma trilogia autobiográfica. Nesta edição, descreve a infância e juventude, até à criação da Microsoft e ao final dos anos 70, quando a empresa assinou o primeiro acordo com a Apple.
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Bill Gates fala do rapaz curioso e introvertido de Seattle que se tornou num dos visionários mais influentes e transformadores da era moderna. "Desde a infância marcada pelos pais dedicados e ambiciosos e pela avó carinhosa que lhe transmitiu o amor pelo raciocínio lógico, as escapadelas noturnas para explorar os primeiros computadores, até chegar à universidade e à criação da Micro-Soft (o primeiro nome da empresa que mudou a informática e o mundo)", segundo a editora.
No livro fala sobre a obsessão por determinados projetos, algum alheamento social e admite que “podia ser rude e inapropriado sem parecer notar” o impacto nos outros. Olhando hoje para trás diz que se pode falar de neurodivergência.
Em entrevista ao "The Times of London", disse que chegaram a ameaçar rejeitá-lo na escola por ser "atrasado mental". No entanto, diz que “precisava da minha neurodiversidade” para escrever o software que deu origem à Microsoft.
Neste primeiro volume da trilogia, Bill Gates partilha também histórias pela primeira vez, como "a perda súbita do melhor amigo, a paixão por desafiantes e perigosas caminhadas nas montanhas, a luta por encontrar o seu lugar na sociedade e a descoberta precoce da informática, num momento em que o mundo sequer imaginava o impacto desta nova tecnologia".
Em entrevista ao "The Times", admite que o fim do casamento de 27 anos com Melinda Gates foi “o erro de que mais me arrependo”. Diz que se esforçou por replicar o casamento de 45 anos dos seus próprios pais e consideraria o divórcio como o seu maior fracasso. "Há outros, mas nenhum que importe”.
Ainda nesta entrevista a propósito do lançamento de "Código-Fonte", diz que não gosta de ser comparado com o bilionário da Tesla, Elon Musk, que gastou muitos milhões de dólares na campanha eleitoral de Donald Trump e tem-se pronunciado sobre a política interna de vários países. Bill Gates considera uma "loucura" as disputas online de Musk com líderes estrangeiros e este comportamento uma “agitação populista”. “É difícil entender por que alguém que tem uma fábrica de automóveis na China e na Alemanha, cujo negócio de rockets é ultra-dependente das relações com nações soberanas e que está ocupado a cortar 2 mil milhões de dólares em despesas do governo dos EUA e a gerir cinco empresas, está obcecado com esta história de aliciamento no Reino Unido”, diz Gates.
Bill Gates, que já esteve em conflito com o atual Presidente norte-americano, diz agora que precisa de se "manter próximo" do “homem mais poderoso do mundo”, com quem discutiu o financiamento de uma cura para o HIV, poliomielite, energia verde e energia nuclear. “Quem consiga entusiasmar o Presidente Trump com as coisas certas, isso é obra de Deus”, refere.
Bill Gates criou a Microsoft em 1975, com o amigo de infância Paul Allen. Atualmente, é presidente da Fundação Gates, fundador da Breakthrough Energy, uma entidade dedicada ao esforço para comercializar energia limpa e outras tecnologias relacionadas com o clima, e da Terra Power, uma empresa que investe em tecnologias nucleares inovadoras. Tem três filhos. Este é o quinto livro do empresário e filantropo, uma trilogia autobiográfica.