Guerra comercial

Arte da negociação ou método do caos? Cronologia das tarifas de Trump

11 abr, 2025 - 07:00 • Redação

Entre ameaças, avanços, recuos e muita confusão, o Presidente norte-americano declarou uma guerra comercial ao mundo com efeitos imprevisíveis. Em poucos dias, as bolsas perderam biliões de dólares e o fantasma de uma recessão global começou a pairar. Até que Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas, excepto para a China. Quem vai ganhar o braço de ferro entre as duas maiores potências comerciais?

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Para Donald Trump, “tarifa” é a "a palavra mais bonita do dicionário". Desde a sua tomada de posse, a 20 de janeiro, o Presidente dos Estados Unidos da América, que no século passado lançou o livro "Arte da Negociação", declarou uma guerra comercial ao mundo e impôs tarifas sobre as importações de vários países. É uma continuação da política económica do seu primeiro mandato.

A estratégia de Trump está a ter impacto no mercado financeiro e nas relações diplomáticas com os parceiros económicos, como a União Europeia, o Canadá, o México e a China. E enquanto a Europa dá uma chance ao diálogo e às negociações, a China não perde tempo em retaliar com as suas próprias taxas.

Está instalada uma guerra comercial. Se está confuso com os avanços e recuos das tarifas, a Renascença organizou uma cronologia onde reúne os pontos mais importantes, até agora.

20 de janeiro

Horas após ter tomado posse, Donald Trump assinou uma ordem executiva que determinava uma revisão da política comercial dos Estados Unidos.

Anunciou assim que, a partir de 1 de fevereiro, iria aplicar tarifas adicionais de 25% sobre os produtos importados do Canadá e do México, acusando os dois países vizinhos de não terem tomado medidas suficientes para travar o fluxo de droga (fentanil) e de imigrantes para os Estados Unidos.

Trump declara guerra comercial ao mundo. "Esta é a nossa declaração de independência".
Trump declara guerra comercial ao mundo. "Esta é a nossa declaração de independência".

1 de fevereiro

Trump cumpriu as suas ameaças e assinou uma ordem executiva que impôs tarifas de 25% sobre quase todos os produtos importados do Canadá e do México, e de 10% sobre a China. Disse que iria manter as taxas até o fluxo de fentanil e imigrantes diminuir e que, caso os países respondessem, as taxas alfandegárias poderiam mesmo aumentar.

O Canadá e o México indicaram que iriam retaliar. Já a China ameaçou com “contramedidas”.

3 de fevereiro

Após negociações, Trump adiou 30 dias a imposição das tarifas sobre o México e o Canadá, cujos governos prometeram intensificar a supervisão das fronteiras e do fentanil. Ao mesmo tempo, ameaçou a Europa.

4 de fevereiro

As tarifas de 10% sobre as importações chinesas entraram em vigor. A China respondeu com taxas adicionais sobre, entre outros produtos, o gás natural e as máquinas agrícolas.

As duas maiores potências económicas mundiais estavam numa guerra comercial, com um fim imprevisível e com possíveis ondas de choque por todo o globo.

10 de fevereiro

Trump ressuscitou uma tarifa de 25% sobre todo o aço e alumínio estrangeiros, retomando uma política do seu primeiro mandato.

27 de fevereiro

O Presidente norte-americano avisou que as tarifas contra o Canadá e o México - e uma taxa adicional de 10% sobre bens chineses (que somaria à do mês anterior) – entrariam em vigor a 4 de março, “como previsto”.

“As drogas continuam a entrar no nosso país a partir do México e do Canadá a níveis muito elevados e inaceitáveis. Uma grande percentagem destas drogas, na forma de fentanil, são feitas e fornecidas pela China”, escreveu nas redes sociais para justificar as medidas.

4 de março

As tarifas sobre as importações do Canadá, do México e da China (os maiores parceiros comerciais do Estados Unidos) entraram em vigor.

O ainda primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, respondeu com tarifas de 25% sobre 155 mil milhões de dólares de produtos norte-americanos, aplicadas em duas fases.

6 de março

Dois dias após a imposição de tarifas ao Canadá e ao México, Trump suspendeu muitas dessas taxas. Informou que iria permitir que os produtos comercializados sob as regras do acordo EUA-México-Canadá (USMCA), um pacto comercial assinado durante o seu primeiro mandato, evitassem as pesadas tarifas de 25%.

Anunciou ainda que as tarifas sobre o aço e o alumínio estrangeiros entrariam em vigor a 12 de março e que as tarifas recíprocas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA estavam a caminho (2 de abril).

“Estão a beijar-me o rabo”. Trump diz haver  países “mortinhos” por acordo.
“Estão a beijar-me o rabo”. Trump diz haver países “mortinhos” por acordo.

12 de março

Após a entrada em vigor das tarifas globais sobre o aço e o alumínio, a União Europeia e o Canadá anunciaram milhares de milhões em taxas sobre os produtos norte-americanos.

Posteriormente, os líderes europeus disseram que iriam suspender as taxas, deixando claro que preferem negociar com Trump a alimentar uma guerra comercial, que pode arrefecer a economia e lançar o mundo numa recessão.

13 de março

Citando os planos da União Europeia para aplicar tarifas de 50% sobre o uísque norte-americano (entre outros produtos), a partir de 1 de abril, Trump lança uma das maiores ameaças até à data: 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos dos 27 Estados-membros.

26 de março

Trump ameaçou com tarifas de 25% sobre todos os carros e peças de automóveis que são enviados para os Estados Unidos da América, incluindo marcas norte-americanas cujos automóveis são montados no exterior.

2 de abril – “Dia da Libertação"

No “Dia da Libertação" (expressão de Donald Trump), foi aplicada uma tarifa base de 10% a 184 países - e a uma ilha onde só vivem pinguins. A base de 10% seria complementada, em certos casos, por tarifas recíprocas adicionais que variam de país para país. No caso da União Europeia, foi de 20%.

4 de abril

O Ministério das Finanças da China anunciou uma tarifa de 34% sobre as importações dos Estados Unidos, igualando os planos de Trump.

Os mercados ficam nervosos e a Bolsa de Nova Iorque soma perdas desde o "Dia da Libertação". Em 48 horas, perderam-se 5,4 biliões de dólares, o pior registo desde a pandemia.

7 de abril

Trump ameaçou contrapor as tarifas retaliatórias de Pequim com uma taxa adicional de 50% sobre a China. No final de contas, seriam 104% sobre as importações chinesas.

Donald Trump anda aos ziguezagues com as tarifas?
Donald Trump anda aos ziguezagues com as tarifas?

9 de abril

As tarifas recíprocas de Trump sobre alguns dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos entraram em vigor. Produtos chineses foram tributados em 104%, os europeus em 20%, os japoneses em 24% e os vietnamitas em 46%.

A China retaliou com uma tarifa adicional de 50% sobre os Estados Unidos. No final de contas, são 84% sobre os produtos norte-americanos enviados para a China. A medida entrou em vigor 12 horas depois das tarifas recíprocas de Trump serem impostas.

Mais tarde a 9 de abril - Dia do "cessar-fogo"

Num retrocesso abrupto, Trump anunciou uma pausa de 90 dias na guerra comercial com os 75 países que não retaliaram e que estão a tentar negociar com os Estados Unidos, onde se incluem os 27 da União Europeia. Para estes, estabeleceu uma taxa universal de 10%.

“Os países que não retaliaram serão premiados”, reforçou o secretário do Comércio, Scott Bessent, numa declaração aos jornalistas.

Contudo, a China não está incluída neste "cessar-fogo" negocial. Aliás, o Presidente norte-americano agravou as tarifas sobre os produtos chineses de 104% para 125%, depois da China anunciar uma nova ronda de retaliações.

“Com base na falta de respeito que a China demonstrou pelos mercados mundiais, estou a aumentar a tarifa cobrada à China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato”; escreveu na rede social Truth Social.

Entretanto, como resposta às taxas sobre o aço e o alumínio europeus, a União Europeia aprovou tarifas de 25% sobre a importação de mais de 1500 produtos norte-americanos, desde a agricultura à indústria.

10 de abril

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, anuncia que vai suspender a aplicação das taxas aduaneiras extra aos produtos norte-americano durante 90 dias, após Trump ter anunciado uma pausa de três meses na guerra comercial.

A líder europeia deixou claro que, apesar da Europa querer apostar no diálogo, passará ao contra-ataque se as negociações não correrem bem.

A Administração norte-americana esclarece, entretanto, que as tarifas contra a China são, afinal, de 145% e não de 125%.

O Governo português anunciou um plano de 10 mil milhões para ajudar as empresas a enfrentar a guerra comercial.

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