14 mai, 2025 - 20:39 • João Pedro Quesado
Os atrasos nos comboios em Portugal em 2024 registaram o nível mais alto desde 2016. Segundo a Infraestruturas de Portugal (IP), apenas 78,3% dos comboios, tanto de passageiros como de mercadorias, chegaram ao destino menos de cinco minutos depois da hora prevista. É o pior registo desde que o indicador de pontualidade é monitorizado pela gestora da rede ferroviária portuguesa.
Os dados a que a Renascença teve acesso surgem no Relatório Anual de Desempenho de 2024 da IP, que mostra uma queda de cinco pontos percentuais na pontualidade dos comboios face a 2023.
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Os serviços que mais sofrem com atrasos são os mais caros, que só a CP presta. Apenas 34,4% dos comboios Alfa Pendular, o principal serviço ferroviário em Portugal, chegaram ao destino até cinco minutos depois da hora prevista. Nos comboios Intercidades, o indicador de pontualidade sobe para apenas 42,5%.
Os comboios urbanos são os que têm melhor pontualidade, com ligeiramente mais de 86% dos serviços a cumprir o horário. A esmagadora maioria dos serviços urbanos é feito pela CP, com a Fertagus a ser responsável apenas pelos serviços entre Setúbal e Roma-Areeiro (tendo exclusividade na ligação das duas margens do rio Tejo nos serviços urbanos).
Segundo os dados desagregados dos serviços urbanos de Lisboa, a Fertagus acabou o ano com uma pontualidade de 93%, que compara positivamente com a pontualidade dos urbanos da CP na área de Lisboa (84%). O que não está medido pelos dados de 2024 é a consequência das alterações de horários da Fertagus, a 15 de dezembro, para aumentar a frequência de comboios para Setúbal — que resultou na redução de lugares disponíveis a partir da estação de Coina, no Barreiro.
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Os comboios regionais, que estão incluídos na categoria de "restantes tráfegos", tiveram uma pontualidade de 63,54%. Já nos comboios de mercadorias, onde o atraso é considerado apenas a partir dos 30 minutos, a pontualidade foi 76,61%.
Os indicadores pioram num ano em que a disponibilidade da rede — o tempo em que a infraestrutura esteve aberta à exploração — aumentou face a 2023, passando a 79,4%. O indicador estava em queda progressiva desde 2018, o que a IP justifica com o intensificar das obras do programa Ferrovia 2020. O aumento da disponibilidade deve-se, diz a IP, à conclusão dos "trabalhos de modernização na Linha do Norte, no troço Ovar-Gaia, e procedeu-se à abertura, em novembro, do troço Celorico da Beira-Guarda na Linha da Beira Alta".
Segundo a Infraestruturas de Portugal, as culpas dos atrasos dividem-se entre a própria IP, os operadores e ainda causas externas (como acidentes e greves), não sendo apresentada nenhuma ponderação para nenhum destes fatores.
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Do lado da IP, são apontados como culpados os "trabalhos de modernização e conservação nas linhas do Norte, Oeste, Sul, Beira Alta e Cascais, bem como pelo elevado número de limitações de velocidade, principalmente nas linhas onde ocorrem os trabalhos e avarias diversas em componentes da infraestrutura".
Aos operadores ferroviários são apontados "tempos de paragem excedidos em estações", na "formação/manobras de comboios de mercadorias", e ainda "avarias de material circulante, comum a todas as categorias de comboios".