12 jun, 2025 - 06:30 • Diogo Camilo
O local é o Mosteiro dos Jerónimos e o então primeiro-ministro, Mário Soares, assina o tratado de adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), numa altura em que o Governo ainda tabelava os preços dos principais bens, como o gasóleo, o leite ou o pão.
O dia é 12 de junho de 1985, mas só seis meses depois, a 1 de janeiro de 1986, é que Portugal integrará oficialmente a CEE.
Nesse ano de 1985, o Diário da República fixava o preço máximo para um litro de leite meio gordo ultrapasteurizado em 62 escudos. O preço, adaptado aos dias de hoje com o efeito da inflação e a conversão para euros, traduz-se em cerca de 72 cêntimos.
O mesmo litro de leite meio gordo custa hoje 88 cêntimos, segundo o Observatório de Preços - ou seja, mais 16 cêntimos.
Esta é apenas uma das diferenças em 40 anos de mudanças.
O litro de gasóleo era fixado também pelo Governo e, na última atualização de 1985, foi fixado em 70 escudos - o que equivale, com o efeito da inflação e a conversão para euros, a 1,63 €/litro.
Hoje em dia, o preço médio do gasóleo simples está ligeiramente abaixo, nos 1,52 €/litro.
Em 1985, o carro mais vendido foi o Nissan Micra, lançado dois anos antes mas só chegado a Portugal nesse ano, com um custo de cerca de 270 mil escudos. Convertido para euros são cerca de 1.346€, que com ajuste à inflação atual, equivale a 6.281€ atualmente.
O mais recente modelo do Nissan Micra, lançado em 2023, tem um custo base de 15.999 euros, e a próxima versão, que sairá no final do ano, será 100% elétrica, num sinal de mudança dos tempos.
Mas as mudanças não são feitas só a nível dos bens. Os salários cresceram mais de nove vezes em relação aos de 1985.
Criado por decreto depois do 25 de Abril de 1974, o salário mínimo estava fixado em 1985 nos 19.200 escudos - ou seja, 95,77 euros. Ajustando aos preços atuais, o mesmo significa 447 euros.
Atualmente, o salário mínimo está nos 870 euros, ou seja, quase o dobro do valor real do salário mínimo de há quarenta anos.
Já a riqueza gerada quase duplicou nos últimos 40 anos. Em 1985, o PIB per capita português era de cerca de 10.266 euros, passando para 20.217 euros nos números mais recentes, com variáveis iguais.
A nível demográfico, muito aconteceu desde 1985. Nesse ano, mais de metade dos portugueses tinham menos de 35 anos e a faixa etária com mais pessoas era a dos 10 aos 14 anos.
Na altura, Portugal tinha cerca de 1,2 milhões de idosos com mais de 65 anos. Hoje em dia são mais de 2,5 milhões - mais do dobro.
E isso acontece porque a esperança média de vida cresceu quase 10 anos neste período. Se um português contava viver até aos 73 anos em 1985, em 2025 pode viver em média até aos 82 anos.
Para isso contribuíram muito os avanços na saúde e não há melhor gráfico que ilustre isso do que o da taxa de mortalidade infantil. Em 1985, cerca de 18 em 1.000 bebés morriam no seu primeiro ano de vida. Hoje esse número é quase sete vezes inferior - cerca de dois em cada mil.
Com o passar dos anos, o número de portugueses a completarem o ensino secundário, licenciatura, mestrado ou até doutoramento disparou. Ao mesmo tempo, a idade média do primeiro casamento também.
Em 1985, a mulher portuguesa casava-se, em média, aos 23 anos e o homem aos 25 anos. Hoje o homem tem, em média, quase 36 anos na altura do primeiro casamento e a mulher 34 anos.
A idade da mãe na altura do primeiro filho também mostra estas alterações em 40 anos. Em 1985, em média, a mãe tinha 24 anos na altura do nascimento do primeiro filho, que passou aos 30 anos em 2023.