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Estados Unidos gastaram mais do que a Europa no apoio à Ucrânia, como afirma Trump?

21 abr, 2025 - 07:30 • Marta Pedreira Mixão com a equipa de verificação de dados da Euranet 

Volvidos três anos de guerra na Ucrânia, surge o debate sobre quem tem carregado o peso da ajuda internacional: os Estados Unidos ou a Europa? Donald Trump afirma que os Estados Unidos já investiram mais de 350 mil milhões de dólares no apoio à Ucrânia, mas será mesmo assim?

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Com o início do terceiro ano da invasão russa à Ucrânia, em Fevereiro de 2025, reacendeu-se o debate sobre quem tem suportado o maior custo da ajuda internacional.

Donald Trump tem afirmado que os Estados Unidos da América gastaram muito mais dinheiro na Ucrânia do que a Europa, mas será mesmo assim?

“Os Estados Unidos disponibilizaram muito mais ajuda à Ucrânia do que qualquer outra nação, centenas de milhares de milhões de dólares”, afirmou Trump durante uma reunião com o seu homólogo francês Emmanuel Macron na Casa Branca, em fevereiro.

“Gastámos mais de 300 mil milhões de dólares e a Europa gastou cerca de 100 mil milhões de dólares. É uma grande diferença”.

Em comentários posteriores, Trump aumentou o montante de apoio dos EUA à Ucrânia para 350 mil milhões de dólares, culpando o ex-presidente Joe Biden pela despesa.

No entanto, Trump nunca especificou se esteve valor se referia a despesas com a defesa ou se incluía também outros tipos de apoio, como empréstimos ou ajuda humanitária.

À medida que a guerra continua e a resistência ucraniana persiste, cresce a necessidade de financiamento militar, humanitário e financeiro. Mas afinal, quem tem financiado mais a Ucrânia: os Estados Unidos ou a União Europeia?

Existem diferentes cálculos oficiais sobre as despesas dos EUA com a Ucrânia, que variam consoante o que é considerado “ajuda”. Alguns destes cálculos podem incluir até promessas de ajuda futura, mas, em qualquer dos casos, o valor é muito inferior ao citado por Trump.

Quais são afinal os números reais de apoio à Ucrânia?

De acordo com a investigação da Euranet Plus, baseada em dados do Kiel Institute for the World Economy, entre 24 de janeiro de 2022 e 28 de fevereiro de 2025, os Estados-Membros da União Europeia investiram um total de 138 mil milhões de euros na Ucrânia, comparados com 115 mil milhões de euros por parte dos EUA.


Considerando todos os tipos de ajuda — militar, financeira e humanitária —, a UE, no seu conjunto, gastou mais 23 mil milhões de euros do que os EUA.

Apesar disso, os EUA continuam a liderar ligeiramente em ajuda militar, mas com uma diferença mínima.

Entre 24 de janeiro de 2022 e 28 de fevereiro de 2025, os Estados-membros da União Europeia atribuíram cerca de 64 mil milhões de euros em ajuda militar, enquanto os EUA atribuíram cerca de 65 mil milhões.

Portanto, embora seja verdade que os EUA tenham fornecido mais ajuda militar à Ucrânia do que qualquer outro país, essa diferença é muito inferior aos valores que Trump afirma.

E se analisarmos também as verbas autorizadas mas ainda não desembolsadas?

Nesse caso, a diferença torna-se ainda mais acentuada, pois ao incluir os compromissos ainda não desembolsados, os números aumentam para 235 mil milhões de euros por parte da Europa, contra 118 mil milhões dos EUA.

Além da ajuda militar, há ainda a ajuda financeira e humanitária, nas quais a diferença também é bastante reduzida.

No que diz respeito à ajuda financeira, os EUA desembolsaram quase 47 mil milhões, enquanto a EU gastou quase 50 mil milhões de euros em subvenções e empréstimos.

Já na ajuda humanitária, os EUA dispõem de cerca de 3,5 mil milhões, enquanto a UE gastou cerca de 3 mil milhões de euros.

Trump diminui apoio à Ucrânia desde a tomada de posse

Desde que Trump tomou posse a 20 de janeiro de 2025, a ajuda dos EUA à Ucrânia estagnou. O último pacote de ajuda, no valor de 480 milhões de euros em equipamento militar, foi aprovado ainda durante a administração Biden. Desde então, não se verificou qualquer nova ajuda militar, financeira ou humanitária.

A situação agravou-se após uma reunião conturbada entre Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy na Sala Oval. Pouco depois, os EUA anunciaram uma pausa na ajuda militar e suspenderam a partilha de informações com a Ucrânia.

“A recente pausa na ajuda dos EUA aumenta a pressão sobre os governos europeus para que façam mais, tanto em termos de assistência financeira como militar”, afirma Taro Nishikawa, chefe do projeto Ukraine Support Tracker do Instituto de Kiel.

Reforço do Apoio Europeu

De acordo com a investigação da Eurnanet Plus, enquanto os EUA recuam, os países europeus continuam a reforçar o apoio à Ucrânia. Nos primeiros meses de 2025, vários países anunciaram novos pacotes de ajuda.

Em janeiro e fevereiro, o Reino Unido adjudicou 360 milhões de euros, a Alemanha 450 milhões de euros, a Noruega 610 milhões de euros, a Dinamarca 690 milhões de euros e a Suécia 1,1 mil milhões de euros.

A Comissão Europeia também desembolsou também, recentemente, o primeiro empréstimo de 3 mil milhões de euros à Ucrânia .

Além disso, os dados do Kiel Institute são reforçados por relatórios do Ukraine Oversight, um organismo federal americano – que reúne mais de 20 agências federais, entre as quais o Departamento de Defesa, o Departamento do Estado e a USAID – e que monitoriza o uso de fundos públicos.

A análise indica que, entre fevereiro de 2022 e dezembro de 2024, foram apropriados 182 mil milhões de dólares (166 mil milhões de euros)no âmbito da operação americana "Atlantic Resolve". Desse valor, 140 mil milhões de dólares (123 mil milhões de euros) foram formalmente comprometidos, mas apenas 83 mil milhões de dólares (cerca de 73 mil milhões de euros) foram efetivamente desembolsados.

Estes valores, convertidos em euros, estão próximos dos dados facultados pelo Kiel Institute.

Os EUA gastaram mais do que a Europa?

Resumidamente, não. A investigação da Euranet Plus mostra que os valores mencionados por Trump são aproximadamente o dobro dos montantes atribuídos pelo Congresso.

Apesar de os EUA serem o maior doador individual, a União Europeia, enquanto bloco e através dos seus Estados-Membros, já prestou mais ajuda global (militar, financeira e humanitária) à Ucrânia.

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