12 out, 2025 - 08:00 • José Pedro Frazão
“A guerra é o contrário da humanidade." A frase de D. Matteo Zuppi aplica-se a todos os conflitos mais agudos do momento. O papel da Igreja Católica, diz o cardeal, é ser “operador de paz”.
Em entrevista à Renascença, registada nos últimos dias, em Fátima, onde participou na Assembleia do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, D. Matteo Zuppi explica que nada mudou na preocupação papal com os conflitos do mundo, apesar das diferenças de estilo entre Francisco e Leão XIV.
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O que impede a paz na Ucrânia?
Tantos problemas… Penso também que não houve um apoio para defender os agredidos. Falta ainda um apoio forte para resolver as causas e, então, acabar o mais rápido possível com o conflito. O Papa Leão, ele mesmo, convidou as partes a olharem-se: ‘Venham aqui para sentarem-se e olharem-se, ver os olhos dos outros. O compromisso da Igreja é o de sermos operadores de paz e nunca aceitar que a guerra e a violência sejam a maneira de alargar os conflitos.
O Papa Leão pediu-lhe ajuda ou terminou a sua missão com o pontificado do Papa Francisco?
Fizemos um plano humanitário. O Papa Leão continuou a dizer que há que fazer o possível para ajudar no enorme problema humanitário que existe. A guerra é o contrário da humanidade. Há um enorme problema humanitário e a Igreja quer ajudar as vítimas de qualquer parte.
O compromisso da Igreja é o de sermos operadores de paz
Quando se encontraram em Moscovo, sentiu no patriarca ortodoxo Kyrill um desejo de paz?
Certamente. Penso que existe em todos, no fundo. Infelizmente, há em cima tantas coisas, tanto ódio, tanta vingança, a lógica da guerra e as causas que colocaram na guerra. Mas penso sempre que temos de acreditar que, por baixo de qualquer coisa, há sempre o desejo de paz.
Um dos pontos importantes diz respeito às crianças que foram levadas para a Rússia. Vê progressos nesta situação?
Há um bom diálogo também entre os responsáveis [dos dois países] sobre as crianças. Há também um diálogo que começou bem pela troca dos prisioneiros. Agora há o problema dos prisioneiros civis, de uma parte e de outra. Há muitas coisas a fazer.
A guerra produz um sofrimento enorme. Temos de estar ao lado deles, fazer o que podemos, sem deixar de lado qualquer tentativa. Precisamos de fazer. Depois os frutos, veremos. De toda a maneira estamos a fazer força para evitar o sofrimento.
Ninguém tem sozinho a chave da paz
Para a Santa Sé, também a mediação é necessária, ou é apenas um lugar para as pessoas conversarem?
Claro que ninguém tem sozinho a chave da paz. A chave da paz é um conjunto. Mas precisa que o conjunto seja entre eles, em acordo, para ajudar as partes a encontrar a chave justa da paz.
Leu este ano, numa ocasião, em voz alta, os nomes das crianças vítimas, quer do Hamas, quer de Israel. Há agora um plano de paz. Acredita que está dado um passo decisivo para a paz em Gaza?
Temos de acreditar. Sabemos que é um processo, mas é um início, o que é fundamental. Quando as coisas começam, isso não significa acabar amanhã e largar todas as coisas. Mas já o facto de dialogar, de trocar os reféns e os prisioneiros, essa é a direção justa. É acabar com a violência.
Temos de nos felicitar por este passo, mas certamente será um processo que precisa também de acompanhamento da oração e também da solidariedade.
E, por fim, Moçambique. Encontrou-se com o Presidente Daniel Chapo, em Roma. Temos a situação do Norte de Moçambique. Como é que vê esse problema neste momento?
Há tanta violência também aí, mas vi um presidente que tem a convicção de que a guerra - ou a violência, neste caso – só pode acabar com o diálogo.
O "espírito de Roma" está aqui, porque o diálogo acabou e pode sempre acabar com as causas e as razões da violência. Penso que é a visão do Presidente Chapo. Oxalá que este desejo de todos de acabar com a violência possa dar frutos rapidamente.