Geração Z

Líderes "fracos" na Europa "não estão preparados" para vitória de Trump

19 jun, 2024 - 18:00 • Alexandre Abrantes Neves , João Campelo (sonorização)

A “direita radical que cresceu aquém” das expectativas, a Europa que “não vai ser um escudo contra Trump” e os cenários políticos em Portugal. Neste episódio, fazemos um rescaldo das Europeias e não fugimos à pergunta do momento – António Costa tem ou não condições para liderar o Conselho Europeu?

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Líderes "fracos" na Europa "não estão preparados" para vitória de Trump
Ouça aqui o episódio desta semana. Foto: Shealah Craighead/White House

A Europa “não está de todo preparada” para uma vitória de Trump nas eleições nos Estados Unidos, em grande parte “porque temos líderes fracos”. O alerta é feito pelo jovem jurista Francisco Cordeiro e Araújo, professor na área de Direito Europeu na Universidade de Lisboa e que se junta esta semana ao podcast Geração Z da Renascença/EuranetPlus para fazer um rescaldo das eleições europeias.

O também fundador do projeto “Os 230” – que pretende aproximar os deputados portugueses da população – diagnostica uma “falta de visão estratégica” para fazer face a um possível segundo mandato de Trump que “poderá ser mais solto” do que o primeiro.

“Os nossos líderes têm um discurso que é para agradar a todos. É um discurso que seu chamo Hannah Montana e ‘best of both worlds’ – vamos fazer isto, mas isto não implica nenhum sacrifício. No debate Eurovisão, disse-se ‘por cada euro que vamos meter na Ucrânia, vamos meter um para a saúde, para a educação, para a cultura’. Pois, mas vamos buscá-los aonde?”, criticou.

Cordeiro de Araújo mostra-se especialmente preocupado com a “dependência militar” que a União Europeia tem em relação a Washingthon – e, por isso, espera que haja um reforço no investimento do pilar europeu na NATO para “pararmos de ir à boleia deste guarda chuva de proteção de outras potências”.

Daniela Cunha, também jovem entendida nos meandros europeus – trabalhou na presidência portuguesa do Conselho da União Europeia em 2021 e atualmente exerce funções na Direção-Geral dos Assuntos Europeus – partilha destas preocupações, mas acrescenta outra “muito importante”: a Ucrânia.

Se for eleito, será antes de mais um teste à solidariedade da União Europeia com a Ucrânia. Na resposta às necessidades mais estruturais da Ucrânia, há um grande peso dos Estados Unidos. Na manutenção deste apoio, não pode haver só promessas, custa muito dinheiro e os Estados Unidos são o principal impulsionador”, defende.

Influencer exige a Costa "esforço comunicacional"

O consenso à mesa é, então, de que “é melhor esperar para ver” quem é que assume os "top jobs" da União Europeia – a presidência da Comissão, do Parlamento, do Conselho Europeu e ainda a chefia da diplomacia europeia.

Para os dois convidados, a figura de António Costa para estar à frente do Conselho Europeu seria uma “aposta certa e consensual”, mas Daniela Cunha duvida de que isso traria um impacto concreto à vida diária dos portugueses – e justifica com o exemplo de Durão Barroso.

“Obviamente, há um poder de influência, há um conhecimento da realidade nacional, mas não sinto que termos tido Durão Barroso durante dez anos como Presidente da Comissão Europeia tenha feito imenso por Portugal. Para mim, é mais importante o facto de António Costa ser consensual e muito popular na União Europeia”, considera.

Sobre a Operação Influencer, Cordeiro de Araújo não recusa que “pode vir a ser uma pedra no sapato”, mas duvida que o desfecho para o antigo primeiro-ministro seja “desfavorável, até porque não há acusação até agora”. O também presidente da associação 2.3 pede, contudo, que seja feito um “esforço comunicacional” para que a situação não manche a reputação das instituições europeias.

“Há presunção de inocência e a probabilidade de condenação é mínima, mas no discurso político nem tudo é factos. Muitas vezes é suposições e pode ser aproveitado em discursos anticorrupção por alguns líderes partidários (…) Mas acho que António Costa vai ter mais peso político do que Charles Michel teve até agora”, previu.

Direita radical pode não estar afastada

As sondagens indicavam o contrário, mas os resultados das eleições europeias vieram mostrar apenas uma subida tangencial para os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e do Identidade e Democracia (ID): conquistaram, respetivamente, mais sete e mais nove eurodeputados.

Os nossos líderes têm um discurso que é para agradar a todos. É um discurso que seu chamo Hannah Montana e ‘best of both worlds’

Para Francisco Cordeiro de Araújo, o facto de Úrsula von der Leyen ter destacado que “o centro resistiu” no pós-eleições mostra que a presidente da Comissão Europeia sabe que tem um “poder de constituir maiorias sem precisar da direita radical”. O jurista alerta, contudo, que não é certo que se feche a porta completamente a estas forças – nomeadamente, à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, já que “Itália é um Estado crucial para o futuro”.

Cordeiro de Araújo ressalva ainda que muitas das decisões que se esperarão nesta legislatura europeia não dependerão apenas das maiorias no parlamento europeu, mas também dos governos nacionais e da postura de cada Estado-membro no Conselho Europeu, que é ouvido em temas estratégicos da União – como o alargamento à Ucrânia e Moldova.

Começou-se a gerar aqui um discurso que é completamente individualista de ‘Ah, poderemos deixar de beneficiar de fundos europeus’. Mesmo que não se aumente o orçamento da União e isso aconteça, temos de perceber que vivemos num projeto de solidariedade. Já nos estenderam a mão e eu acho que é altura de estendermos a mão. Se nós falharmos perante esses países, vai sair muito mais caro”, defende.

Partidos portugueses “nem sempre” querem estabilidade

Colocando o foco em Portugal, o fundador do projeto "Os 230" considera que a redução na abstenção não permite fazer grandes leituras, sublinhando apenas que “não é animadora porque é demasiado curta”.

Sobre leituras políticas nacionais, Cordeiro de Araújo traz o caso da Madeira para relembrar que “os partidos nem sempre pensam em estabilidade” e para explicar que prefere esperar até outubro “para ver se estes resultados fazem ou não os partidos não quererem legislativas antecipadas”.

Daniela Cunha não anda muito longe desta posição. A especialista em assuntos europeus sublinha que “as eleições europeias mostraram que não há nenhuma alternativa à situação atual”. Ainda assim, deixa também claro que “nada está afastado” e que há nuances – como o equilíbrio orçamental ou a perda de popularidade do governo – que podem fazer a oposição começar a pedir legislativas antecipadas.

Daqui a um ano, [vai haver] o desgaste natural do governo. Se não existirem resultados das medidas, obviamente o PS vai começar [a mostrar-se aberto a eleições]… Também o próprio equilíbrio orçamental, a entrada no novo ano, outras classes profissionais que que podem ver ou não as suas aspirações refletidas…Eu acho que se ganha uma folga para isto não ser um tema recorrente até outubro, na aprovação do Orçamento do Estado”, remata.

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  • TIMBO CASPITE
    24 jun, 2024 LISBOA 10:31
    É só verem o que se passa na Filadélfia e em outras cidades americanas: um caos social equiparável ao que se passa na Europa. Esquerdistas nunca mais!

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