19 out, 2024 - 08:00 • Susana Madureira Martins e Beatriz Pereira (Renascença) e Maria Lopes (Público)
Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, Pedro Nuno Santos deixa implícito que lhe desagrada um eventual apoio do PS a uma eventual candidatura do Almirante Gouveia e Melo às presidenciais de 2026.
Até ao final do ano, o secretário-geral do PS conta ter definidos os nomes para a corrida autárquica, com Lisboa e Porto como alvos principais - a cidade nortenha é a mais disputada no partido.
O jornal Observador escreveu há dias que Pedro Nuno Santos terá dito, numa reunião interna, que só sai da liderança do partido depois de ser primeiro-ministro. É assim?
Então, mas eu estou a liderar o PS para quê? É para isso, exatamente, obviamente.
E se não acontecer?
Não trabalho nesse cenário. Trabalho no cenário de o PS se renovar, avaliar o que correu bem e mal, encontrar novas respostas, mobilizar o povo português.
Essa renovação que quer fazer no próximo ano é a preparar-se para umas possíveis legislativas no Verão de 2026?
Governámos durante oito anos, agora estamos na oposição. O PS deve aproveitar este período para repensar as suas políticas, o seu programa.
Ganhar tempo?
Não, não é isso. É prepararmos um projeto novo. Não é refundar o PS; é renovar programaticamente, atrair novos quadros. Esse é o trabalho que terei de fazer e liderar durante o próximo ano. Não estamos a pensar em nenhuma data em concreto para eleições, mas temos de estar preparados, seja para qual for o momento.
Quando vão acontecer os Estados Gerais do PS? Com quem?
Vamos lançá-los, em princípio, no início do próximo ano. Até lá, traremos novidades sobre o processo. Sobre a forma como o vamos construir, qual é a equipa que vai coordenar e gerir todo o processo.
E essa coordenação, vai ser uma coisa interna do PS? Ou vai abrir o PS a gente da sociedade civil, independentes?
O nosso objetivo é conseguir encontrar novos quadros que se vão formando em diversas áreas e que, pensando da social-democracia, do socialismo democrático, possam trabalhar connosco mesmo não sendo militantes. Mas que queremos obviamente integrar, ouvir, envolver, para termos pensamento e programa novo, respeitando o quadro de princípios e de valores do PS, mas com respostas novas para desafios novos. E respostas novas para alguns desafios antigos que ainda não foram vencidos.
Nos congressos das federações deixou a garantia de que o PS apresentará um candidato forte, por exemplo, para vencer as autárquicas no Porto. Já tem nome?
Essa decisão ainda não está tomada, mas espero que em breve a possamos tomar para começarmos a preparar a alternativa para a Câmara Municipal do Porto.
‘Em breve’ significa…?
Não quero dar o prazo e depois ultrapassá-lo. Mas quero até ao final do ano ter esse processo internamente fechado.
Com Manuel Pizarro? José Luís Carneiro?
Não está fechado. Temos vários nomes. São bons candidatos. Fernando Araújo é bom candidato. Nós teremos ainda tempo, mas não destaquei ninguém.
E em Lisboa? Já perdeu a esperança de que Duarte Cordeiro seja uma hipótese?
Não tem essa disponibilidade. Lisboa está a marcar passo: não temos um presidente de Câmara com uma visão para a cidade; há problemas inaceitáveis, incompreensíveis numa capital, como de higiene, uma cidade intransitável. Não temos um projeto de futuro para a cidade. Não faz sentido continuarmos a perder tempo com Carlos Moedas.
E Alexandra Leitão ou Mariana Vieira da Silva seriam nomes para resolver estes problemas?
São dois bons nomes. Têm visão, têm mundo, uma grande preocupação social, sabem quais são os problemas da cidade, são de Lisboa, conhecem bem a sua cidade, têm experiência política, capacidade e competência para gerir bem e liderar um projecto interessante para a cidade de Lisboa. Qualquer uma delas daria uma grande presidente de câmara.
O PS deveria ter uma votação diferente da que teve, que viabilizou os orçamentos de Carlos Moedas…
O PS local faz as suas avaliações, não acompanho diretamente. Fazem a melhor avaliação e tiram as melhores conclusões.
Sobre presidenciais, acrescentou António José Seguro à lista de bons nomes presidenciáveis. Na verdade, fez parte de um grupo que o tirou de cena [em 2014] ...
Eu só quis enunciar nomes que considero que são bons nomes. As nossas discordâncias ou até divisões de poder internas não marcam as nossas relações para sempre.
Não quis destacar ninguém. Até porque o PS não apresenta candidatos, as candidaturas dependem dos próprios. Aquilo que me comprometi foi que o PS deve apoiar de forma clara e inequívoca um candidato que seja da nossa área política.
Isso significa que, em caso algum, o PS poderia apoiar uma eventual candidatura, por exemplo, do Almirante Gouveia e Melo?
Repito, pela positiva, que o PS deve apoiar um candidato da sua área política.
E acha que é de que área?
Não sei. Não quero ser desagradável. Eu não conheço o pensamento político do Almirante Gouveia e Melo e é muito importante, quando apoiamos alguém, acreditarmos e conhecermos qual é o pensamento e o posicionamento político do candidato.
Foi a falta dessa avaliação que motivou os últimos desaires presidenciais do PS?
O PS não tem apoiado candidatos de forma oficial. E isso não tem ajudado. Somos o partido que ofereceu ao país Presidentes da República como Mário Soares e Jorge Sampaio, dimensão que aumenta a nossa responsabilidade. O facto de não termos tido candidaturas óbvias do PS não ajudou a que um candidato da área da esquerda, do centro-esquerda, pudesse ganhar eleições. Facilitámos o trabalho do centro-direita e da direita.
Francisco Assis já foi colocado por vários militantes como presidenciável.
Se me começarem a perguntar por vários nomes, eu vou dizer que sim. Porque eu não quero estar a excluir ninguém. Francisco Assis foi eleito agora para o Parlamento Europeu. Foi alguém muito importante para a minha eleição interna e continua a ser muito importante para mim.
Não foi um dos [dirigentes] que mandou calar?
Eu não mandei calar ninguém. Eu disse o que achava. A minha relação com o Francisco Assis é ótima. Isso não quer dizer que nós pensemos sempre o mesmo.