13 mar, 2025 - 07:00 • Susana Madureira Martins , Lara Castro (Renascença) e Helena Pereira (Renascença)
O líder do CDS-PP e ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, evita falar na conquista de uma maioria absoluta para a AD, mas diz que o Governo que esta semana entrou em gestão “merece” ganhar as eleições legislativas antecipadas. Questionado sobre uma coligação pós-eleitoral com a Iniciativa Liberal, o presidente centrista diz querer a coligação a "valer por si" sem "depender dos outros".
Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, Nuno Melo defende que o primeiro-ministro “não fez nada de ilegal” no caso que envolve a empresa Spinumviva, garantindo que “obviamente”, sendo este “um projeto da AD, o CDS-PP “estará nele de corpo inteiro. Qual é a dúvida?”
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Sobre as presidenciais, Nuno Melo não se compromete com um apoio a Marques Mendes e rejeita “antecipar ciclos”. O líder centrista diz que vai aguardar pela definição “de todos” os candidatos para depois se pronunciar e salienta que o PSD definiu que o candidato presidencial teria de ser alguém do PSD, mas o CDS não definiu “coisa equivalente”.
Se Luís Montenegro tivesse dado logo explicações sobre avenças e acabado com a empresa Spinumviva, como António Lobo Xavier defendeu, o país não teria de ir a eleições?
Vivemos uma crise política grave, séria e totalmente desnecessária, que foi criada pelas oposições à esquerda e o seu maior aliado que é um populismo que se diz de direita. Toda esta sucessão de acontecimentos acontece porque quando um Governo governa bem, as oposições têm dificuldade de politicamente contraditar o que o Governo faz e o que sobra é a pequena política. No caso, a suspeição que fica no ar, uma forma muito perversa que degrada a democracia. Houve uma circunstância que não é ilícita e que não geraria nenhuma incompatibilidade.
Mas a questão não é essa, é receber avenças de empresas.
Não cometeu também nenhum ilícito criminal.
Diz que houve responsabilidade das oposições, mas estamos perante uma crise política criada por causa do comportamento de uma pessoa que é primeiro-ministro. O CDS sente-se confortável ao ser arrastado para esta crise?
Houve um prolongar de uma situação de ataque pessoal à volta de suspeições nunca concretizadas, para retirarem dividendos partidários, à custa do interesse nacional e houve um bom governo que caiu. Os portugueses têm memória do que de bom foi feito por este bom Governo. Têm também memória do que de muito mal foi feito por Pedro Nuno Santos e pelo PS durante oito anos.
Eu acho que nenhum português estará confortável com uma situação que é de crise política e de eleições antecipadas. Eu preferia que não existisse polémica. Preferia que não existissem eleições antecipadas. O facto de existir polémica não significa que os argumentos da oposição tenham vencimento, tenham razão de ser, sejam justificados. Esse para mim é que é o ponto. O primeiro-ministro não fez nada de ilegal.
Luís Montenegro admite que, se for constituído arguido, não deixará de ser candidato nas próximas legislativas. É aceitável uma posição de o CDS fazer parte de uma coligação em que o primeiro candidato possa vir a ser constituído arguido?
Sabe que uma coisa é a constituição de arguido, outra coisa é a condenação e outra coisa ainda é uma decisão contra a instância de julgado de uma sentença. Sabe que, infelizmente, o nosso sistema judicial permite que uma denúncia anónima, por exemplo, garanta um processo e que alguém seja constituído arguido pela simples questão de uma denúncia anónima.
O CDS vai apoiar Luís Montenegro até ao fim?
Se eu lhe disse que o primeiro-ministro, em consciência, entende que não fez nada de errado e, por essa circunstância, será candidato, obviamente que neste projeto, sendo um projeto da AD, o CDS estará nele de corpo inteiro. Qual é a dúvida?
Teme que durante a campanha eleitoral possa haver algum condicionamento por parte da Justiça?
Nós vivemos num país democrático, num Estado de direito, com o princípio fundamental da separação de poderes. E o que eu espero é que a justiça funcione bem e que a política possa seguir o seu curso sem interferências de quaisquer outros patamares ou outras dimensões daquilo que é a essência do próprio Estado.
Portanto, o que lhe digo é que vamos a votos porque as oposições assim quiseram e eu estarei na rua com consciência muito tranquila, com a enorme satisfação do dever cumprido, e esperando razoavelmente que as pessoas saibam avaliar esses resultados, não são poucos.
Como ministro e líder do CDS, estava a par das várias propostas que foram feitas pelo PSD para que houvesse uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) que durasse apenas 15 dias e depois outra que afinal durasse 60 dias?
Não é tema que devo trazer aqui ou tratar, porque tem que ver com as dinâmicas internas de governos.
Acha que é sério uma proposta de uma CPI decorrer em 15 dias, que normalmente é o tempo usado para notificar pessoas para serem ouvidas e marcarem-se as audições na Assembleia da República?
Eu acho que se tentou chegar a um entendimento para uma solução que evitasse uma crise política num país. Um acordo, por definição, não pode terminar com uma posição de uma das partes apenas porque senão não tem um acordo, tem uma capitulação. A preocupação que foi sempre expressa foi uma situação negativa para o regime, injusta até, não se prolongasse indefinidamente.
Estamos perante uma degradação de um regime e de um sistema político em que vale tudo para se ter votos, sem se perceber que amanhã ficará tudo pior. É um libelo acusatório na base de coisa nenhuma. E é uma tristeza que diminui quem assim se comporta, começando por Pedro Nuno Santos, que pretende um dia ser primeiro-ministro deste país. E que eu acho que não merece ser primeiro-ministro deste país.
Hora da Verdade
O ministro da Defesa admite o envio de militares p(...)
As últimas sondagens mostram que os portugueses consideram que o culpado nesta situação é o Governo e condenam a forma como se comportou o primeiro-ministro por não ter dado explicações.
Mas qual comportamento, especificamente? De não ter dado explicações? Para começar, eu não participei nesses estudos de opinião. Não sei como é que as perguntas foram colocadas e as perguntas podem elas próprias ser conducentes a um determinado resultado.
Há poucos dias, Paulo Rangel dizia ao Observador que a AD merece a maioria absoluta. É possível lá chegar? Acredita nisso?
O que eu lhe digo é que temos uma interrupção anormal da legislatura. Acho que é um bom Governo. Um Governo com muitos resultados e que, por causa disso, merece ser reconduzido. A dimensão desse resultado que levará a essa recondução dependerá da vontade de um povo.
E gostaria que houvesse uma coligação pré-eleitoral com a Iniciativa Liberal (IL), como sugeriu há dias também o ex-líder do CDS, Paulo Portas?
Esse assunto já está esclarecido pela própria Iniciativa Liberal. Não estou de acordo, nem em desacordo.
Mas há um pós-eleições: Se a AD ganhar as eleições com maioria relativa, como é que governará?
Nós temos de lutar por essa maioria. Não havendo essa maioria, depois logo se verá.
A IL, nesse caso, poderia entrar na equação?
Não me parece que seja o tempo de fazer um comentário. Neste momento, a AD deve concentrar-se num esforço muito grande para que possa merecer e justificar um resultado que permita valer por si e não depender dos outros. Isso implica não ter muitas distrações e não falar de outros cenários. Falar de outros cenários porquê? Tenho de me concentrar num cenário que vai dar maior vantagem para um projeto político, que é o da AD.
E se o PS ganhar as próximas eleições com a maioria relativa, acha que a AD poderá ter o mesmo comportamento que teve o PS com a AD ao viabilizar um Orçamento do Estado e um Governo minoritário? Ou seja, pode haver aqui uma reciprocidade no futuro?
Essa resposta deve ser dada por quem lidera a coligação.
Em relação às presidenciais, ainda tem esperança de ver um nome da área do CDS?
Não antecipo ciclos.
E Gouveia e Melo não é opção para o CDS?
O CDS aguardará a definição dos candidatos, de todos. O PSD definiu que o candidato presidencial teria de ser alguém do PSD. Ora, nós, no CDS, não definimos coisa equivalente. Portanto, o nosso candidato há de ser o melhor candidato.