Siga-nos no Whatsapp

Hora da Verdade

Melo aposta em serviço militar "profissional", mas admite "outros modelos" se contexto mundial sofrer "alteração grave"

13 mar, 2025 - 07:00 • Susana Madureira Martins , Lara Castro (Renascença) e Helena Pereira (Público)

O ministro da Defesa admite o envio de militares portugueses para a Ucrânia, mas sempre num contexto de cessar-fogo e em missões de paz. Nuno Melo admite ainda que vai ser preciso substituir os atuais caças F-16 de fabrico americano, estando em dúvida se a opção irá recair pelos F-35 ou se por um avião europeu.

A+ / A-
Melo aposta em serviço militar "profissional", mas admite "outros modelos" se contexto mundial sofrer "alteração grave"
Melo aposta em serviço militar "profissional", mas admite "outros modelos" se contexto mundial sofrer "alteração grave"

O ministro da Defesa Nacional e líder do CDS-PP afasta o cenário de serviço militar cívico, defendendo as “virtudes de um sistema profissional em que quem é militar é militar porque quer”. Nuno Melo não afasta, contudo, estudar “outros modelos” no caso de haver uma “alteração grave” no contexto internacional.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, Nuno Melo admite que o próximo pacote de ajuda de Portugal à Ucrânia possa chegar aos 300 milhões de euros e que o facto de o Governo estar em gestão não impede essa decisão. O governante recorda que António Costa fez exatamente o mesmo em 2024.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Nuno Melo admite ainda que vai ser preciso substituir os atuais aviões militares F-16 de fabrico americano, estando em dúvida se a opção irá recair pelos F-35. O ministro da Defesa reconhece que a atual administração Trump pode fazer pensar o Governo português em alternativas de construção europeia.

A Europa está a preparar um pacote financeiro significativo para a Defesa. Se o Governo da AD for eleito de novo, vai aprovar a compra dos aviões F-35?
Os F-16 estão em fim de ciclo e teremos de pensar na sua substituição. Mas, nas nossas escolhas, não podemos ficar alheados da envolvente geopolítica. A recente posição dos Estados Unidos, no contexto da NATO e no plano geostratégico internacional, tem de nos fazer pensar sobre as melhores opções porque a previsibilidade dos nossos aliados é um bem maior a ter em conta.

Temos de acreditar que, em todas as circunstâncias, esses aliados estarão do nosso lado. Há várias opções que têm de ser consideradas, nomeadamente, no contexto de produção europeia e, também, tendo em conta o retorno que essas opções possam ter para a economia portuguesa.

A Força Aérea deseja que essa substituição seja feita por F-35, que são aviões de fabrico norte-americano. O que está a dizer é que, devido à alteração da política externa norte-americana, é menos provável que Portugal substitua os F-16 por um avião americano?
O mundo já mudou. Houve eleições nos EUA, houve uma posição em relação à NATO e ao mundo, afirmada pelo secretário da Defesa e pelo próprio Presidente dos EUA, que tem de ser tida em conta também na Europa e no que tem a ver com Portugal.

E esse nosso aliado, que ao longo de décadas foi sempre previsível, poderá trazer limitações na utilização, na manutenção, nos componentes, em tudo aquilo que tem a ver com a garantia de que as aeronaves serão operacionais e serão utilizadas em todo o tipo de cenários.

E a substituição dos F-35 podia passar por aeronaves, por exemplo, francesas?
Essa discussão não vou ter aqui.

Concorda com o Presidente da República, quando disse que os Estados Unidos são agora um antigo parceiro de Portugal?

Os Estados Unidos são um aliado fundamental da NATO, que asseguram a paz na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial e, que nós, europeus, temos a obrigação de preservar e estimar, o que não invalida não estarmos atentos às alterações de contexto, geopolíticas, às declarações que são públicas de vários líderes, e em função disso tomarmos uma decisão.

O país, com a administração Trump, pode estar a deslizar para a ditadura, como disse o Presidente?

Não, não acho. Os Estados Unidos são uma democracia antiga, que tem mecanismos que nunca permitiriam o país resvalar para uma ditadura.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, defendeu, em entrevista à CNN, que a contribuição de Portugal para a Defesa possa aumentar até aos 2,5 % do PIB. Esta é a meta também que defende?
Nós, para já antecipamos, para 2029, o crescimento do investimento na Defesa até 2% do Produto Interno Bruto. E o que estamos a fazer é já um enorme esforço para estarmos à altura das metas e dos compromissos estabelecidos com os nossos aliados. Não invalida, neste contexto geopolítico, que a reavaliação vá sendo permanente.

Quando é que acha que seria possível?

É uma matéria tão relevante e tão determinante que eu não me permito o "achómetro".

Nos últimos meses, cresceu o número de candidatos a militares contratados. Já não faz sentido falar em novo serviço militar cívico?
Eu acredito nas virtudes de um sistema profissional em que quem é militar é militar porque quer. E para isso tem de estar bem equipado e com todas as condições. E é nesse sentido que nós trabalhamos todos os dias. Não pode nenhum de nós dizer que se houver uma alteração grave no contexto geopolítico mundial, tal qual outros países da União Europeia vão fazendo agora, outros modelos não possam ser estudados.

O primeiro-ministro disse em Bruxelas que Portugal vai colaborar com forças no terreno, se for preciso, na Ucrânia. O que lhe pergunto é que tipo de forças temos que possam ir para a Ucrânia?
Neste momento, não há uma definição a esse propósito. Não há, neste momento, nenhuma definição de nenhum plano em relação a tropas que só num contexto de cessar-fogo ou de acordo para a paz pode ser ponderado. O que existe, neste momento, é uma fase de planeamento na base de diferentes cenários, sem que possa concretizar nenhuma medida específica. Quando falamos de tropas no terreno, falamos de terra, mar, ar, em que contexto? Com apoio de quem? Qual é o papel dos Estados Unidos? Há um conjunto de detalhes específicos que são absolutamente necessários para que se possa tomar uma decisão.

Mas pode antecipar que pode ser uma das missões mais arriscadas para os militares portugueses das últimas décadas?
Mas sabe que ser militar é arriscado, por definição.

O contexto em que as organizações internacionais, e desde logo a NATO, mas não só, ponderam o envio de tropas de diferentes países na Ucrânia, é na base de um cessar-fogo ou de um acordo com o assentimento e vontade das partes beligerantes e com garantias que têm que ser muito claras e definidas. E nada disso existe neste momento.

O Governo preparava-se para aprovar mais um pacote, julgo que de 300 milhões de euros, de ajuda para a Ucrânia. Isso ainda será feito nas próximas semanas com o Governo em gestão?
Portugal tem de ser capaz de cumprir os compromissos assumidos com os nossos aliados no que tem a ver com a ajuda à Ucrânia. Em 2025, tínhamos previsto teoricamente um esforço de perto de 220 milhões de euros. Se tiver de crescer até 300 milhões de euros, também não cresceria assim tanto.

O dr. António Costa assumiu, em gestão.

Mas chamou a S. Bento Luís Montenegro.
Mas não chamou o CDS e devia tê-lo feito. A Defesa é uma daquelas áreas em que os grandes consensos são desejáveis e, felizmente, têm acontecido ao longo de 50 anos da democracia. Os partidos do dito arco da governabilidade, o PSD, o PS e o CDS, têm sido capazes de alinhar o essencial das decisões, o que não invalida divergências. No contexto da ajuda à Ucrânia, esse consenso existe.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+