Legislativas

Eleições em França. Extrema-direita no poder ou paralisia governamental?

07 jul, 2024 - 00:48 • Eva Massy, correspondente da Renascença em Paris

O futuro político da França decide-se este domingo. Cerca de 49 milhões de eleitores voltam às urnas para a segunda volta das eleições legislativas. Vários cenários são possíveis, à medida que a maioria absoluta da extrema-direita deixa de estar em jogo, segundo as últimas estimativas.

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Eleições em França. Extrema-direita no poder ou paralisia governamental?
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No domingo passado, depois da primeira volta das eleições legislativas antecipadas em França, acreditava-se na possibilidade da extrema-direita vir a governar o país.

A União Nacional (Rassemblement Nacional) obtinha mais de 30% dos votos, à frente da coligação de esquerda (NFP) e do campo presidencial.

Uma semana depois, a estratégia das desistências mostrou-se eficaz. Mais de 200 candidatos de esquerda e centro-direita renunciaram para favorecer o candidato mais bem posicionado e travar a ascensão da extrema-direita.

De acordo com as últimas estimativas, o partido de Jordan Bardella e Marine Le Pen alcança entre 210 e 240 lugares na Assembleia, longe da maioria absoluta de 289 deputados para governar.

Atrás fica a Nova Frente Popular com 170 a 200 assentos e os centristas do Presidente Emmanuel Macron entre 95 e 125 assentos.

Cenários pós-eleitorais

Três cenários são possíveis este domingo à noite. No primeiro, o Rassemblement National, de Jordan Bardella e Marine Le Pen, obtém maioria absoluta, com um mínimo de 289 deputados na Assembleia. Neste caso, Jordan Bardella torna-se primeiro-ministro e a extrema-direita pode aplicar o seu programa.

Para entender a complexidade desta situação é necessário notar que em França vigora um sistema semipresidencial, em que o Presidente é também chefe de Governo e divide essa função com o primeiro-ministro. Quando são de partidos diferentes, têm de "coabitar", ou seja, chegar a consensos.

Um cenário inédito, considerando as diferenças ideológicas marcantes entre os dois líderes.

Num segundo cenário, mais provável de acordo com as sondagens, nenhum partido alcança uma maioria absoluta e colocam-se várias hipóteses. A extrema-direita vence e pode tentar formar uma aliança com alguns deputados de direita e formar um Governo.

Se não conseguir, uma outra coligação pode emergir, entre o campo centrista do Presidente Macron, os socialistas, os Verdes e alguns deputados Republicanos, de direita, sem a França Insubmissa, considerada demasiado radical.

O objetivo, para estes deputados que à partida não têm grande coisa em comum, seria evitar um bloqueio político do país, conseguindo alcançar uma maioria na Assembleia e a nomeação de um Governo, chegando a compromissos para cada medida legislativa.

Se esta hipótese não funcionar e as forças ditas "moderadas" não chegarem a acordo para se sobrepor ao peso da extrema-direita, o país enfrenta um verdadeiro risco de paralisia. A Assembleia não pode ser dissolvida uma segunda vez e as próximas eleições estão marcadas para 2025.

Um terceiro cenário é ainda possível. Um "governo técnico" pode ser nomeado para gerir os assuntos correntes, sem a possibilidade de proceder a reformas significativas, até às próximas eleições legislativas, em 2025.

Este cenário tem a vantagem de ser mais neutro e funcional, mas Macron poderia ser acusado de não respeitar as preferências políticas dos eleitores.

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