16 nov, 2024 - 19:40 • Lara Castro com Reuters
Yevhen Stepanenko, de dois anos de idade, é um típico bebé despreocupado enquanto corre pela sua sala de estar nos arredores da capital ucraniana.
Uma vida assim parecia improvável quando nasceu, no início de março de 2022, com os tanques russos a aproximarem-se do hospital, enquanto Moscovo invadia o país em grande escala.
“Não sabíamos ao certo o que nos traria a próxima hora, duas ou três horas, quanto mais o dia seguinte”, disse a sua mãe, Liudmyla Rodchenko.
A vida de Stepanenko até agora espelha a trajetória do seu país ao longo dos quase mil dias de guerra, ambos marcados por uma adaptação gradual a um estado de guerra constante.
A ofensiva russa prossegue a leste, engolindo aldeia a aldeia, enquanto drones e mísseis sobrevoam vilas e cidades muito atrás da linha da frente.
Os ucranianos aprenderam a continuar a viver apesar do perigo, construindo famílias, empresas e carreiras no meio do grito frequente das sirenes antiaéreas e das explosões distantes das defesas aéreas.
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Rodchenko, uma mãe solteira que tem mais três filhos, diz que tem tentado proteger o filho de algumas das realidades.
“Estou a tentar garantir que ele tenha uma infância normal, desviando a atenção das sirenes antiaéreas”, disse ela, acrescentando que, apesar disso, ele se assusta com elas.
Ainda assim, os alertas são muito diferentes dos perigos mais graves que Stepanenko, enfrentou nos seus primeiros tempos.
Rodchenko, de 42 anos, lembra-se de ter fugido pelo país com um recém-nascido embrulhado num saco, durante a geada do final do inverno, recolhendo água quente das tropas nos postos de controlo para obter leite para bebé.
“Ele estava todo embrulhado em cobertores, nem se conseguia ver a cara dele”, disse à Reuters, descrevendo o filho como ‘um pequeno herói’.
Semanas mais tarde, as tropas ucranianas revelaram os horrores da ocupação russa na cidade natal da família, Bucha, onde civis massacrados foram deixados espalhados pelas ruas.
Rodchenko, tal como muitos outros ucranianos, receia que os combates se prolonguem por anos, mas a logística e a falta de recursos dificultam a deslocação para o estrangeiro.
Milhões de pessoas fugiram das suas casas e o seu regresso continua a ser incerto, ameaçando a frágil situação demográfica do país.
Nataliia Tatushenko, a educadora de infância de Stepanenko, disse que as crianças tendem a ser mais sensíveis e apegados à segurança dos seus pais.
Nataliia Tatushenko acredita, no entanto, que as difíceis circunstâncias atuais podem prepará-los melhor para um futuro como adultos resilientes.
As autoridades ucranianas têm procurado promover um sentimento de resiliência entre a população, especialmente porque os ataques aéreos russos à rede de energia tornaram os apagões uma caraterística regular da vida.
“Neste momento, são pequenos e comportam-se como as crianças, mas quando forem um pouco mais velhos ficarão mais calmos em situações de stress”.