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Legislativas federais

"Assim não dá". Como os partidos querem mudar a Alemanha nestas eleições

17 fev, 2025 - 09:15 • Guilherme Correia da Silva, correspondente na Alemanha , João Pedro Quesado (gráficos)

Na Alemanha, faz-se campanha em quase todo o lado e em todo o lado se ouve o mesmo: o país precisa de uma reviravolta a seguir às eleições de domingo. A verdade também é que ainda há muitos eleitores que não sabem em quem votar.

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Não há como escapar. A campanha está em quase todo o lado. Até no ecrã do computador, enquanto navegamos na Internet, aparece publicidade de partidos políticos quando menos se espera.

Basta visitar um site de notícias, clicar num botão para ouvir um áudio, e surge de repente um anúncio da política alemã Sahra Wagenknecht.

"O nosso país precisa de um recomeço", diz Wagenknecht. "O nosso país merece mais do que a política fracassada dos velhos partidos."

É uma publicidade do partido BSW, curta e direta, que reflete bem o que tem sido a campanha na Alemanha: muitas promessas de mudança face à incerteza económica e política.

À procura de ideias frescas

O país vai a eleições antecipadas no domingo, após o colapso do governo de Olaf Scholz, em novembro passado. As constantes brigas internas entre os parceiros da coligação - os sociais-democratas de Scholz, os Verdes e os liberais - acabaram por ser fatais e adensaram o clima de apreensão na sociedade.

As preocupações dos eleitores alemães são muitas e variadas. Um grande receio continua a ser uma possível escalada da guerra na Ucrânia. A lista de problemas a resolver no país também é extensa. Muitos dizem que a Alemanha precisa urgentemente de leis migratórias mais restritivas; outros receiam o crescimento da xenofobia. A economia atravessa tempos difíceis, a vida está cada vez mais cara, as pensões de reforma são baixas, falta habitação.

Há a sensação generalizada de que, como as coisas estão, não podem continuar.

77% dos alemães exigem reformas profundas na economia, de acordo com uma sondagem recente da YouGov, com um detalhe significativo - só 36% dos eleitores acreditam em mudanças reais após a votação de domingo.

Sem aviso prévio, ao navegar pela Internet, surge uma nova publicidade a outro partido político. Desta vez, aparece misturada com os posts de amigos e conhecidos no Facebook, enquanto fazemos scroll pela página.

Hendrik Streeck, candidato pela CDU na cidade de Bona, alerta no vídeo, pago pela delegação partidária local, que muitas pessoas se estão a "afastar da democracia". E isso "numa altura de grandes crises: a guerra na Ucrânia, as alterações climáticas, atrasos em reformas estruturais".

"Todos nós sentimos que não dá para continuar como até aqui."

Streeck é um virologista conhecido na Alemanha pelas suas posições contracorrente durante a pandemia da covid-19, quando exigia menos proibições e mais liberdade de movimentos para os cidadãos.

"Temos de ser corajosos e abordar questões incómodas", diz o político no vídeo no Facebook. "É urgente mudar para que o motor económico alemão volte a funcionar."

Os conservadores, que lideram as sondagens, querem reduzir a burocracia. Reconhecem que o modelo de negócios tradicional da Alemanha, baseado em gás russo e matérias-primas chinesas baratas, acabou. Prometem dar um "salto quântico" na digitalização do país e investir em novas tecnologias, como a Inteligência Artificial e a microeletrónica.

Friedrich Merz, o futuro chanceler?

Nestes dias de campanha, a propaganda da CDU/CSU aparece um pouco por todo o lado, não é só na Internet: está nos posters nas ruas, em letreiros luminosos gigantes à beira da estrada e em anúncios nos túneis do metro e em estações de comboios.

O cabeça de lista do partido, Friedrich Merz, atualmente líder da oposição, é retratado nos cartazes como alguém atarefado, a discursar no Parlamento, a falar com jornalistas ou sentado à secretária a escrever em papéis.

Merz promete "ação" e "competência" caso vença as eleições.

"Vamos tornar a Europa grande de novo!", prometeu Merz, durante a campanha, adaptando o slogan do presidente norte-americano, Donald Trump.

A responsabilidade é gigantesca, acrescentou o político conservador.

Se o próximo governo não conseguir alavancar o país, as consequências podem ser tenebrosas: "Isto deveria unir-nos para evitar que este país caia nas mãos dos populistas", desafiou.

A polémica sobre migração

No encalço dos conservadores está a Alternativa para a Alemanha (AfD).

O partido - considerado populista e de extrema-direita - é rei incontestado nas redes sociais entre as forças políticas alemãs, com mais de 6,7 milhões de seguidores nos vários perfis, e está em segundo lugar nas sondagens, obtendo cerca de 20%. É o dobro da percentagem que obteve nas últimas eleições federais, em setembro de 2021.

Um dos principais temas da AfD durante a campanha tem sido o combate à imigração ilegal, sobretudo após vários ataques no país envolvendo suspeitos de origem estrangeira.

O programa do partido é bastante claro quanto a este ponto: é preciso agilizar a "remigração de criminosos" vindos de outros países e "deportar sistematicamente" os imigrantes ilegais.

Parte do plano da AfD para os primeiros 100 dias de governação é "fechar completamente as fronteiras e rejeitar todos os que entrarem ilegalmente e sem documentos. E enviar uma mensagem clara ao mundo inteiro: As fronteiras alemãs estão fechadas", anunciou a cabeça de lista do partido, Alice Weidel.

Outros partidos - os conservadores, os sociais-democratas ou os Verdes, por exemplo - lembram que o asilo é um direito fundamental na União Europeia.

O chanceler cessante, o social-democrata Olaf Scholz, garante, por outro lado, que já fez muito em relação à imigração ilegal: reintroduziu os controlos nas fronteiras e aumentou as deportações de migrantes em situação irregular - no ano passado, foram quase 20 mil deportações.

Para a AfD e os conservadores, isso não é suficiente.

Possíveis coligações

Mesmo que não vença no próximo domingo, o partido do chanceler Olaf Scholz poderá ter uma palavra a dizer sobre o próximo governo, a avaliar pelas últimas sondagens. A CDU/CSU não deverá conseguir sozinha uma maioria no Parlamento federal e precisará de parceiros de coligação.

Tanto os sociais-democratas, de Scholz, como os Verdes são possíveis parceiros. É certo que não concordam com os conservadores em vários pontos, mas todos são partidos tradicionais (afastados dos extremos políticos) e partilham o entendimento de que o país necessita de transformações urgentes, particularmente na economia.

O SPD, por exemplo, propõe mobilizar fundos públicos e privados para investir em infraestruturas. Sugere ainda um bónus "Made in Germany" para premiar investimentos de empresas alemãs. Os Verdes prometem expandir as energias renováveis, reduzir a burocracia e alargar o espaço de manobra fiscal, para que o país possa pedir mais empréstimos.

Mas em quem votar? Em partidos que estiveram no governo até agora, como os sociais-democratas e os Verdes, ou em alguém novo?

Há uma página na Internet, chamada "Wahl-O-Mat", onde os eleitores alemães podem comparar as suas posições políticas com as dos partidos. Este ano, assim que entrou no ar, o site registou um número recorde de visitas - 9,2 milhões em 24 horas - quase o dobro do registado no mesmo período nas eleições de 2021. As pessoas querem saber que partido mais se aproxima das suas convicções.

Mais de um terço dos alemães ainda não sabe em quem votar no próximo domingo, de acordo com uma sondagem recente. Porém, a grande maioria da população tem uma ideia clara do que deseja: mudanças.

Comentários
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  • ze
    17 fev, 2025 aldeia 10:00
    a Alemenha,o motor económico da europa precisa mesmo de novos politicos e de novas politicas,assim como esta europa e também Portugal,precisa urgentemente de novas politicas e principalmente de sangue novo na politica,cada vez perdemos mais soberania,industrias e comércio,agricultura,ensino,e Justiça mais célere com mais meios e mais aplicações de penas a quem lesa o país,incluindo politicos e detentores de cargos politicos.Portugal se não muda,acabará depressa como o conhecíamos,é preciso estimular e falar verdade,os orgãos da comunicação social.poderiam e deveriam ter um papel relevante e falar verdade,mas passa-se o contrário,quem ganhará com isto?=os portugueses é que não certamente,e começarmos a produzir, e deixar esta vergonha nacional da mão sempre estendida a uma UE que precisa mesmo de uma reviravolta.A corrupção instalou-se neste país,é practica corrente e é fácil,pois sabem que estão protegidos por uma justiça lenta e que com tantos recursos os prazos de prescrição estão á vista,as policias precisam de ter força, mais meios e melhores sal ários.para se sentirem motivados a defender este país e o povo dele.Esperemos que tudo isto não passe de um sonho e que acordemos este país.

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