18 fev, 2025 - 06:30 • Diogo Camilo
A capital saudita vai ser o palco de um encontro entre altos responsáveis dos Estados Unidos e da Rússia, com o objetivo de abrir caminho ao início de negociações para o fim da guerra na Ucrânia. O problema? É que o país invadido e onde decorre essa mesma guerra, não foi convidado.
“A Ucrânia considera que quaisquer negociações sobre a Ucrânia, sem a Ucrânia, são negociações sem resultados. Não podemos reconhecer nenhum acordo feito sem nós”, foram as palavras de Volodymyr Zelensky, esta segunda-feira, quando questionado por jornalistas sobre se o país tinha sido convidado para as negociações.
É que o chefe de Estado ucraniano não está longe de onde vão decorrer as reuniões, em Riade, na Arábia Saudita. Zelensky está também na península árabe, mas no país vizinho, os Emirados Árabes Unidos, na discussão de um “grande programa humanitário”, e viaja para a Turquia esta terça-feira.
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No dia a seguir ao encontro entre norte-americanos e russos, Zelensky estará na mesma cidade, Riade, como parte de uma “viagem há muito planeada” - e que não está relacionada com os EUA ou a Rússia.
De costas voltadas durante três anos, este é o primeiro encontro entre oficiais norte-americanos e russos desde janeiro de 2022.
Do lado dos Estados Unidos, o líder é o secretário de Estado, Marco Rubio, que chegou esta segunda-feira à Arábia Saudita e se faz acompanhar do conselheiro de segurança nacional Mike Waltz e pelo enviado especial para o Médio Oriente, Steve Witkoff.
Do lado da Rússia, Vladimir Putin enviou dois negociadores experientes: o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e o conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov.
Este último indicou que Moscovo e Washington ainda não acertaram o início dos encontros para o fim da guerra na Ucrânia, nem quem vai liderar as negociações.
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Em declarações ao canal televisivo estatal russo, Ushakov adiantou ainda que Kirill Dmitriev, o chefe do fundo soberano russo, também se poderá juntar à comitiva russa para discutir questões económicas que possam surgir.
Segundo o porta-voz do Kremlin, citado pela agência noticiosa russa Tass, o principal objetivo passa por “preparar negociações entre os líderes de Rússia e EUA”.
De fora ficam também as potências europeias, que estiveram reunidas esta segunda-feira em Paris, da qual saíram com uma certeza: a união entre Europa e os EUA na segurança da Ucrânia é uma “questão de existência”.
Na origem deste primeiro encontro, que Trump promete que será o “primeiro de muitos”, está um telefonema a Vladimir Putin que foi ideia do novo presidente dos Estados Unidos.
Depois de uma chamada “longa” e “altamente produtiva”, Donald Trump declarou que as negociações para acabar com a guerra na Ucrânia começariam “imediatamente”. “Concordámos em trabalhar juntos, em estreita colaboração, incluindo visitar as nações uns dos outros.”
Depois da conversa com Putin, Donald Trump telefonou ao presidente ucraniano, na qual Zelensky diz ter falado sobre “oportunidades para alcançar a paz”.
Horas depois, em declarações aos jornalistas na Sala Oval, o presidente norte-americano adiantou que a primeira reunião seria na Arábia Saudita num “futuro não longíquo” e que haveria mais que um encontro e entre ambos: “Esperamos que ele venha cá, que eu vá lá e que nos encontremos”, disse.
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Esta não é a primeira vez que acontecem negociações de paz sem um país ser convidado. A história está cheia de exemplos - e nenhum deles corre especialmente bem para a parte em que se encontra neste momento a Ucrânia.
O grande exemplo histórico aconteceu no final do século XIX, no inverno entre 1884 e 1885, quando o chanceler alemão Otto van Bismark convidou as potências europeias para a Conferência de Berlim, onde se formalizaram as divisões do continente africano. De fora ficaram todos os estados pré-coloniais que já existiam em África.
Antes da cimeira, os países europeus controlavam cerca de 10% de África. Duas décadas depois, apenas Etiópia e Libéria permaneciam fora do controlo europeu.
Outro exemplo é a divisão do Império Otomano, já no final da Primeira Guerra Mundial, entre França e Reino Unido. Franceses e britânicos desenharam as fronteiras do Médio Oriente de acordo com as suas intenções, que levaram a décadas de conflito que ainda se sentem hoje.
Três décadas depois, o Acordo de Munique assinado em 1938 permitiu à Alemanha nazi de Adolf Hitler anexar uma parte da Checoslováquia, com o pretexto de proteger minorias alemãs no território e prevenir mais uma grande guerra na Europa. Nas negociações estiveram o Reino Unido, a França e a Itália. A Checoslováquia nunca foi convidada.
Menos de um ano após o primeiro caso, Hitler voltou a fazer um acordo sem chamar parte interessada. A Alemanha nazi assinou em agosto de 1939 o pacto de não agressão Molotov–Ribbentrop, que permitiu uma invasão da Polónia sem que a União Soviética respondesse, ao mesmo tempo que permitiu aos soviéticos expandirem-se pela Roménia e pelos estados bálticos, atacarem a Finlândia e até reclamar algum do território da Polónia.