23 jun, 2025 - 16:46 • José Pedro Frazão , Marta Pedreira Mixão (vídeo)
O Irão vai pedir esclarecimentos ao Governo português sobre a cedência das Lajes para aviões norte-americanos de reabastecimento.
O embaixador Majid Tafreshi soube pela Renascença do teor do comunicado do Ministério da Defesa que confirma a autorização para que 12 aviões reabastecedores norte-americanos utilizassem a Base das Lajes.
Num excerto de uma longa entrevista exclusiva em Lisboa, o diplomata defende que o bombardeamento atingiu ilegalmente "instalações nucleares pacíficas" e vai questionar o Governo sobre a "neutralidade" portuguesa neste ataque norte-americano ao Irão.
Portugal deu luz verde à presença na Base das Lajes de 12 aviões de reabastecimento que poderão ter sido alegadamente usados para ajudar a operação norte-americana contra as instalações nucleares do Irão. Como vê a posição de Portugal?
Não tenho qualquer informação sobre isso, mas com base nas responsabilidades dos Estados, quando se participa numa agressão, é-se responsável pelo resultado dessa agressão. Assim, sugiro vivamente que ninguém alegue ou faça parte da agressão. Caso contrário, com base na responsabilidade do Estado, todos e cada um devem ser responsabilizados pelo que fizeram. Abastecimento ou não abastecimento, não sei. Acabei de ouvir algures...
Houve uma declaração oficial do Ministério da Defesa, dizendo que os norte-americanos pediram autorização para ter 12 aviões na base dos Açores. Como sabe, existe um acordo bilateral sobre utilização da base. Este tipo de aviões serve para o processo de reabastecimento, não dizendo especificamente que faziam parte da operação. Afirmaram que os aviões não foram utilizados para fins ofensivos. No entanto, sabemos que este tipo de bombardeiros que vieram dos EUA para o Irão, em algum momento da viagem, realizaram operações de reabastecimento. Portanto, provavelmente poderá ter sido usado esse tipo de avião. Por isso pergunto: como vê a cooperação de Portugal, sendo um país aliado dos Estados Unidos?
Como disse, não ouvi nada sobre isso. O vosso governo deveria esclarecer esta situação e com certeza, nós questioná-lo-emos. Está agora a informar-me disto. Seria uma boa questão sobre a neutralidade e o ' soft power' de Portugal. Se Portugal é aliado dos Estados Unidos ou da União Europeia, não sei. Mas a União Europeia, até o Reino Unido e mesmo outros, disseram que não tiveram qualquer interferência. E isso deve ficar claro.
É muito importante [sublinhar] agora que estes bombardeamentos foram contra instalações nucleares pacíficas. Número dois, tudo isto é ilegal. Número três, até António Guterres condenou qualquer escalada da paz e da segurança na região. E isso ficará registado na história das relações entre os dois países. E, claro, será importante vermos qual é a realidade sobre isto. Assim, iremos com certeza investigar isso e questionar o lado português. Mas até agora, o que recebi é que vocês são neutros, fazem parte da UE e farão o seu melhor para não intensificar a guerra.
Abastecer ou dar bombas como doação não faz grande diferença. Porque qualquer orientação para um resultado, se acontecer, têm ambos a mesma dimensão de participação na agressão . Mas não creio que seja verdade. Vamos investigar e ver qual será o resultado.
Então vai pedir um esclarecimento ao governo português?
Sim, de qualquer forma, apesar do que lemos ontem, iremos certamente questioná-lo. Como já disse, temos boas relações. Não tivemos qualquer problema com Portugal no Irão. A última questão remonta há 500 anos, quando os portugueses estavam na nossa região do Golfo Pérsico. Desde essa altura até agora, não tivemos qualquer problema. Mas, como disse, mais uma vez, com base na responsabilidade dos Estados, estão são atos ilícitos internacionais. Se alguém participa numa qualquer guerra, por qualquer motivo, é parte dessa agressão. Pode ser calculado se é apenas guerra ou uma agressão. Mais uma vez, isto é importante. O abastecimento ou qualquer coisa faz parte. Mas acho que é muito cedo para decidir e pensar sobre isso.