Cimeira da NATO

Diário de uma mensagem divulgada. Trump só chegou no fim, mas marcou o primeiro dia da NATO

24 jun, 2025 - 21:20 • Alexandre Abrantes Neves, enviado especial a Haia

Donald Trump revelou nas redes sociais que Rutte se mostrou feliz por conseguir pôr a Europa a "pagar à grande", mas o presidente dos Estados Unidos começou a ser falado na cimeira logo de manhã - e Zelensky voltou a perder destaque.

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Diário de uma mensagem divulgada. Trump só chegou no fim, mas marcou o primeiro dia da NATO
Ouça aqui o resumo do enviado especial da Renascença. Foto: Remko De Waal / Pool/EPA

Ainda nem tinha chegado e já Donald Trump fazia das suas e dava asas à imprevisibilidade. “A Europa vai passar a pagar à GRANDE como devia, e essa vitória é sua”. As palavras são do secretário-geral da NATO, mas vieram a público graças ao Presidente norte-americano, que as divulgou nas redes sociais.

A reação não demorou a chegar, com Mark Rutte a dizer a partir de Haia que “não há problema” em ver a mensagem divulgada e ressalvando que “o tom foi apropriado”. Foi o auge de Trump, praticamente omnipresente neste primeiro dia da cimeira e, neste caso, também omnipotente, ao fazer Rutte esclarecer a posição sobre os ataques ao Irão, depois de inúmeras tentativas por parte dos jornalistas.

Parabéns e obrigado pela sua ação decisiva no Irão. Torna-nos a todos mais seguros”, dizia o neerlandês, na mensagem enviada a Donald Trump.

O presidente norte-americano não falou quando chegou a Haia para o jantar oferecido pelos reis dos Países Baixos, mas andou nas bocas do mundo e desde logo de manhã. Na abertura do Fórum Público, já Mark Rutte fazia todos os possíveis para agradar a Trump – não só garantiu que sente um “compromisso total” por parte dos Estados Unidos, como também se mostrou convencido de que “mais países” vão antecipar a meta dos 5% para antes de 2035, como a Alemanha e a Dinamarca.

Ao mesmo tempo, as declarações do presidente norte-americano à entrada para o avião que o trouxe até Haia criaram apreensão para a reunião desta quarta-feira, entre os chefes de Estado e do governo da Aliança: "É um problema para a despesa da NATO", avisou Trump, quando questionado sobre a recusa de Espanha em investir 5% do PIB em defesa, e em ficar apenas pelos 2,1%.

Também nas entrelinhas se reparou no presidente republicano. Desde logo, na indicação dada por Ursula von der Leyen que, apesar de não estar diretamente envolvida, acabou por dizer que o G7 (onde se encontram os EUA) vai acompanhar a União Europeia em mais um pacote de sanções contra o Kremlin.

“O 18.º pacote de sanções é duro e eu sei que os nossos amigos do G7 vão seguir-nos com sanções também. Isto mostra que a Ucrânia está entre amigos”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, numa conferência de imprensa que partilho com o presidente do Conselho Europeu, António Costa, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e também o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Para o chefe de Estado da Ucrânia, Trump não mereceu nenhuma referência direta, mas, ao lado da União Europeia e da NATO que sempre o apoiaram, Zelensky pode ter dado um sinal subtil a Washington, ao repetir vezem sem conta a mesma expressão: “Muito obrigado”.

O ato único de Zelensky

O “bloqueio” nas negociações e a paz na Ucrânia só são possíveis, como apontou Rutte esta terça-feira, com a mão do “líder mais poderoso do mundo, dos Estados Unidos”, mas nem por isso a cimeira de Haia vai receber um verdadeiro encontro entre Trump e Zelensky – segundo a Casa Branca, os dois vão apenas ter um encontro “à margem” do programa.

Em comparação com edições anteriores, o presidente ucraniano tem desta vez uma presença de menor destaque na cimeira – não tem encontros bilaterais na agenda e não participa nas reuniões mais importantes. Ainda assim, e na conferência de imprensa em que participou esta terça-feira, aproveitou para tocar no assunto que marca os últimos dias.

“Todos nós compreendemos que a grande ameaça à nossa segurança e modo de vida é a Rússia. Mas há outros atores que também estão a servir a causa da guerra, como a Coreia do Norte e o atual regime do Irão”, defendeu.

Da única vez que teve o grande holofote da NATO virado para si, Volodymir Zelensky também aproveitou para se virar para os aliados e voltar a fazer pedidos – mas desta feita, em vez de pedir ajuda, colocou-se no mesmo saco que os europeus e apelou a que todos se juntassem na construção de uma resposta mais sólida à ameaça russa.

“Temos de liderar a corrida aos drones, tanto em drones de ataque como em intercetores, e continuar a avançar na produção de armas tradicionais, tendo em conta todas as lições aprendidas nesta longa guerra. Por favor, aumentem os vossos investimentos na produção conjunta de armas, para que todas as armas que produzimos possam fazer parte de um novo e mais forte sistema europeu de defesa e segurança”, solicitou, resumindo rapidamente num aplauso aos aliados: “Os 5% do PIB parece-nos o nível certo”.

Perante duas das mais importantes figuras do organograma da União Europeia, o líder ucraniano aproveitou para renovar os avisos de que “há indícios” de que a Rússia está a preparar uma ofensiva em território da NATO. António Costa não foi tão claro, mas alinhou nas ansiedades perante as atitudes de Vladimir Putin.

Estou profundamente desiludido com o facto de a Rússia não estar a colaborar com os esforços do Presidente Trump para isso. Embora o Presidente Zelensky já tenha concordado com um cessar-fogo incondicional, a Rússia não só não concorda, como está a aumentar a intensidade da sua agressão à Ucrânia”, afirmou o antigo primeiro-ministro português.

Apesar das preocupações russas estarem no centro da agenda, a cimeira da NATO também serviu para António Costa deixar um elogio a Zelensky, mas sobre o outro sonho ucraniano, que não a Aliança Atlântica.

“Estou muito feliz com a avaliação recente da Comissão Europeia sobre o vosso trabalho impressionante para atingirem reformas, em condições tão difíceis. Estamos a chegar às condições para continuarmos o processo de negociação para a entrada na União Europeia”, rematou.

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