05 jul, 2025 - 11:59 • Reuters
Durante mais de um ano, uma estranha explosão de ondas de rádio vinda do espaço intrigou astrónomos de todo o mundo. A origem do fenómeno parecia ser galáctica, mas a realidade revelou-se muito mais próxima — e surpreendente.
A descoberta foi feita por investigadores a trabalhar no Observatório Radioastronómico Murchison, conhecido pelo seu nome aborígene Inyarrimanha Ilgari Bundara, no remoto deserto da Austrália Ocidental. Utilizando o sofisticado radiotelescópio ASKAP (Australian Square Kilometre Array Pathfinder), os cientistas procuravam sinais rápidos vindos do espaço profundo, quando detetaram um misterioso clarão de rádio ao meio-dia de 13 de junho de 2024.
Este tipo de fenómeno — denominado rajada rápida de rádio (fast radio burst, ou FRB) — é normalmente emitido a partir de galáxias distantes, sendo um dos sinais mais intensos e enigmáticos do universo. Uma única rajada pode libertar, em milésimos de segundo, tanta energia como o Sol em 30 anos.
Mas havia algo de estranho neste caso: a explosão não apresentava qualquer sinal de “dispersão”, um efeito que normalmente ocorre quando as ondas de rádio viajam através do plasma cósmico. Isso indicava que a origem do sinal estaria muito mais perto da Terra — provavelmente dentro da nossa própria galáxia.
Durante meses, a equipa fez análises exaustivas, mas o sinal parecia ter desaparecido. Eventualmente, perceberam que a imagem captada pelo telescópio estava "desfocada", como se o objeto observado estivesse demasiado próximo. E estavam certos.
O responsável pelo estranho sinal era um velho satélite norte-americano chamado Relay 2, lançado em 1964 e inativo desde 1967. Situado a cerca de 4.500 km da Terra, este satélite histórico tornou-se involuntariamente o protagonista de um dos enigmas científicos mais curiosos dos últimos anos.
Mas como poderia um satélite inativo emitir um sinal tão intenso e rápido — com apenas 30 nanossegundos de duração?
A hipótese mais provável, segundo os cientistas, é um fenómeno de descarga electrostática. Tal como o corpo humano acumula carga ao roçar contra o tapete, também os satélites podem acumular carga ao atravessar os gases eletricamente carregados do espaço. Quando essa carga é libertada, pode gerar um pequeno “raio” — visível como uma explosão de rádio.
Contudo, esse tipo de descarga costuma durar milhares de vezes mais do que o sinal observado. E, além disso, a magnetosfera da Terra — normalmente associada a este tipo de eventos — estava invulgarmente calma nesse momento.
Outra explicação possível: o impacto de um micrometeoróide. Segundo cálculos da equipa, uma partícula com apenas 22 microgramas, a viajar a 20 km por segundo, poderia ter causado o clarão. Mas a probabilidade de tal impacto é muito baixa — cerca de 1%.
Apesar de não haver uma explicação definitiva para este fenómeno, os investigadores concluíram que é possível detetar descargas eletrostáticas de satélites a partir da Terra — algo que pode vir a ser extremamente útil num futuro próximo. Com milhares de novos satélites a serem lançados anualmente, será essencial monitorizar o seu comportamento e eventuais falhas.
Curiosamente, a rajada captada era tão curta que teria passado despercebida com as técnicas habituais. Apenas ao analisar o céu em escalas de nanossegundos é que se tornou visível. Segundo os cientistas, isso significa que até antenas modestas podem, no futuro, captar sinais semelhantes — se estiverem a olhar com a resolução adequada.
Sim, garantem os investigadores: apesar deste “falso alarme” vindo de um satélite, o trabalho da equipa não foi em vão. Continuam a ser detetados sinais genuínos vindos do espaço profundo, alguns ainda mais misteriosos, que continuam a desafiar a compreensão científica.
A investigação foi publicada esta semana pela The Conversation e mostra que, mesmo em tempos de tecnologia avançada, o cosmos — e os objetos à deriva à nossa volta — continuam a surpreender-nos.