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Trump critica ONU e antecipa "morte da Europa Ocidental"

23 set, 2025 - 17:22 • João Pedro Quesado

Donald Trump levou para as Nações Unidas das "palavras vazias" as tradicionais queixas e a política interna norte-americana, avisando os países sobre a imigração — que acusou a ONU de financiar. O Presidente dos EUA repetiu que agora a "América é respeitada novamente", rejeitou reconhecer a Palestina, tentou vender energia aos outros países depois de criticar os esforços para abrandar o aquecimento global, e gabou-se de ter os melhores resultados de sempre em sondagens.

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Trump na ONU: "As alterações climáticas são a maior farsa alguma vez perpetrada no mundo"
Trump na ONU: "As alterações climáticas são a maior farsa alguma vez perpetrada no mundo"

Donald Trump criticou esta terça-feira as Nações Unidas por não colaborarem com o atual governo dos Estados Unidos da América (EUA) nos esforços para terminar as "sete guerras" que alega ter conseguido parar. Num discurso que durou praticamente quatro vezes mais que os supostos 15 minutos, o Presidente norte-americano também criticou outras partes da ONU: as escadas rolantes, o teleponto e não o terem contratado para a renovação da sede da ONU em 2008.

"Num período de sete meses, terminei sete guerras intermináveis", sublinhou Trump perante a Assembleia Geral da ONU, incluindo na conta "Camboja e Tailândia, Kosovo e Sérvia, Congo e Ruanda, Paquistão e Índia, Israel e Irão, Egito e Etiópia, e Arménia e Azerbaijão".

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"Lamento ter de fazer estas coisas em vez das Nações Unidas. Infelizmente, em todos os casos, as Nações Unidas nem sequer tentaram ajudar", acusou Donald Trump, ironizando de seguida que "as duas coisas que conseguiu das Nações Unidas" foram "uma má escada rolante", que disse ter avariado quando chegou ao edifício, e "um mau teleponto", que não funcionou no início do discurso.

"Quem estiver a operar este teleponto está em grandes sarilhos", disse o Presidente dos EUA, arrancando gargalhadas das representações diplomáticas de todo o mundo.

"Qual é o propósito das Nações Unidas", questionou depois Trump, lamentando que "a ONU tem tanto potencial, tremendo, mas não está nem perto". Agora, continuou, "tudo o que parecem fazer é escrever uma carta muito veemente e depois nunca seguem essa carta. São palavras vazias e palavras vazias não resolvem a guerra".

Depois, voltou às queixas pessoais.

"Há muitos anos, um promotor imobiliário muito bem sucedido em Nova Iorque, chamado Donald J. Trump, candidatou-se à renovação e reconstrução deste mesmo complexo da ONU. Na altura disse que o faria por 500 milhões de dólares", afirmou Trump, declarando que ia colocar "chãos de mármore" na sede da ONU. E lamentou: "eles decidiram seguir outro caminho, que produziu um produto muito inferior. Apercebi-me que não sabia o que estavam a fazer no que toca a construção".

Europa também deve impor tarifas à Rússia

Noutros momentos do discurso, Donald Trump focou-se nos atuais conflitos. Criticou a Rússia por uma guerra "que ia vencer em três dias, mas não funcionou assim" e "não está a fazer a Rússia parecer bem", e depois garantiu estar pronto para aplicar sanções sobre Moscovo, para forçar Vladimir Putin a terminar o conflito — uma ameaça que já repetiu com vários prazos, mas ainda não cumpriu.

"No caso de a Rússia não estar pronta para chegar a acordo para terminar a guerra, então os Estados Unidos estão totalmente preparados para impor uma série muito forte de poderosas tarifas, que iriam parar o derramamento de sangue, acredito, muito rapidamente", garantiu Trump, acrescentando depois que "as nações europeias, todos vocês aqui reunidos, teriam de se juntar a nós em adotar exatamente as mesmas medidas".

"Eu pensava que essa [guerra] seria a mais fácil" de terminar, admitiu Donald Trump, "por causa da minha relação com o Presidente Putin, que sempre foi boa".

"Libertem os reféns agora"

Em dias de uma nova vaga de reconhecimentos do Estado da Palestina entre países ocidentais, Trump recusou aderir a esse movimento porque "as recompensas seriam demasiado grandes para os terroristas do Hamas, para as suas atrocidades".

Depois de afirmar que "o Hamas tem repetidamente rejeitado ofertas de paz", o chefe de Estado norte-americano avisou que "os que querem a paz deviam estar unidos com uma mensagem: libertem os reféns agora".

Donald Trump criticou ainda que "alguns neste órgão [a Assembleia Geral da ONU] procurem reconhecer unilateralmente um Estado palestiniano", declarando que é "como se fosse para encorajar o conflito". Portugal, França, Reino Unido, Canadá e Austrália reconheceram, nos últimos dias, o Estado da Palestina.

Perante silêncios e tosses audíveis durante um discurso prolongado, o Presidente dos EUA abordou a necessidade de "trabalhar juntos para confrontar algumas das maiores ameaças", gabando-se de seguida de os Estados Unidos terem "muitas" armas nucleares.

"Tal como fiz no meu primeiro mandato, fiz minha prioridade conter estas armas, começando com o Irão. A minha posição é muito simples, o principal patrocinador de terrorismo no mundo nunca pode ter a arma mais perigosa", declarou Trump, depois de afirmar ter enviado uma carta ao líder supremo do Irão a prometer "cooperação total" em troca da suspensão do programa nuclear.

"A resposta do regime foi continuar as ameaças constantes aos seus vizinhos e aos interesses dos EUA naquela região, e alguns grandes países que estão perto", afirmou o atual inquilino da Casa Branca, descrevendo depois a operação de bombardeamento às instalações nucleares do Irão, cujos resultados são ainda pouco conclusivos.

Imigração vai ser “a morte da Europa Ocidental”

Um dos temas mais recorrentes do discurso norte-americano nas Nações Unidas foi a imigração.

“É tempo de acabar a experiência das fronteiras abertas”, declarou, após dizer que em Londres há “um terrível presidente de câmara” e a capital do Reino Unido vai adotar “a lei Sharia” — atirando que “a imigração e ideias suicidas sobre energia vão ser a morte da Europa Ocidental”.

“Têm que a terminar agora”, disse sobre “a experiência das fronteiras abertas”, exaltando depois “ser muito bom nestas coisas”. Trump sublinhou depois o sucesso da sua política de “deter e deportar toda a gente que atravessasse a fronteira — e remover estrangeiros ilegais” para parar os atravessamentos do México para os EUA.

Os avisos para a Europa continuaram: “Se não param as pessoas que nunca viram antes, que não têm nada em comum convosco, o vosso país vai falhar. Sou Presidente dos Estados Unidos, mas preocupo-me com a Europa. Amo a Europa, amo o povo da Europa. E odeio vê-la a ser devastada pela energia e imigração, esse monstro de duas caudas que destrói tudo no seu caminho”.

“Os vossos países vão para o inferno”, avisou, sobre o “problema político número um do nosso tempo, a crise de migração descontrolada”.

Antes, Donald Trump já tinha acusado a ONU de orçamentar milhões de dólares para ajudar à entrada de imigrantes nos EUA. “Pensem nisso”, pensou, “a ONU está a apoiar pessoas que estão a entrar ilegalmente nos Estados Unidos”.

Aquecimento global é “a maior fraude”

Continuando virado para a Europa, Trump pediu aos aliados para abandonar o investimento em energia sustentável, gozando com os cientistas que, alega, previram “uma catástrofe global” no ano 2000 devido ao aquecimento global.

“É a maior fraude alguma vez perpetrada no mundo, na minha opinião. Todas estas previsões feitas pelas Nações Unidas e muitos outros, frequentemente por más razões, estavam erradas”, criticou Donald Trump, acrescentando terem sido “feitas por pessoas estúpidas que custaram fortunas aos seus países e não deram a esses países nenhuma hipótese de sucesso”.

Trump, que retirou pela segunda vez, em janeiro, os Estados Unidos do Acordo de Paris — o pacto ambiental de 2015 assinado por 195 países —, entrou depois em modo de vendedor: “Temos mais petróleo que qualquer nação em qualquer lado, petróleo e gás no mundo, e se acrescentarem o carvão, somos o país que mais tem no mundo”.

Num discurso em que proclamou que a América “é respeitada outra vez” e se gabou do compromisso dos países da NATO em gastar 5% do PIB em defesa, Trump afirmou ainda que a Europa “perde mais de 175 mil pessoas para mortes por calor todos os anos porque os custos são tão elevados que não se pode ligar o ar condicionado”. O número está certo, mas diz respeito às mortes por excesso de calor.

[título alterado às 19h20]

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