Dois anos do 7 de Outubro

Israel reconstrói comunidades destruídas pelo Hamas: “É muito difícil superar traumas como este”

07 out, 2025 - 06:00 • Henry Galsky com Vanessa Barata

Dois anos após os ataques de 7 de outubro, kibutzim como Be'eri e Nir Oz ainda vivem o impacto da violência. Famílias desalojadas preparam-se para regressar a casas reconstruídas do zero, num processo que envolve milhares de milhões de euros e a promessa de maior segurança militar.

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Pérola Gaz, brasileira de 70 anos que vive em Israel desde 1987, acordou no dia 7 de outubro de 2023 ao som de rockets do Hamas. Moradora do kibutz Be'eri, no sul de Israel, já estava relativamente “acostumada” à situação. No dia anterior, tinha recebido duas netas para dormir em sua casa — algo comum na rotina da família, uma vez que os seus dois filhos e sete netos vivem em Beeri.

Quando soaram as sirenes, levou as duas meninas — na altura com seis e dez anos — para o quarto protegido, um compartimento da casa com paredes de betão e porta de ferro. Imaginava que a situação se normalizaria em breve, como já acontecera em inúmeras ocasiões anteriores. Mas isso não aconteceu.

Nesse dia, terroristas do Hamas invadiram o kibutz, incluindo a casa de Pérola. Ela manteve as netas em silêncio no interior do abrigo durante 20 horas, até serem resgatadas por soldados do Exército de Israel.

O kibutz, uma comunidade coletiva com raízes socialistas, foi praticamente destruído em poucas horas. Quase todos os vizinhos da rua de Pérola foram mortos. Dez por cento dos pouco mais de mil moradores foram assassinados; casas foram incendiadas, mulheres violadas e 30 pessoas sequestradas.

Dois anos depois, Pérola e a família vivem noutro kibutz, mais a sul, enquanto aguardam a reconstrução de Be'eri. “É muito difícil superar traumas como este. Há dias piores, há dias melhores. Penso em voltar porque faço parte desta comunidade”, conta.

Be'eri, situado a apenas 4,5 quilómetros da Faixa de Gaza, foi um dos kibutzim invadidos pelo Hamas a 7 de outubro, nos ataques que desencadearam o ciclo de violência atual. Mais a sul fica Nir Oz, onde viviam 400 pessoas. Localizado a 2,5 quilómetros de Gaza, o kibutz foi quase totalmente destruído. Nesta pequena comunidade, 117 pessoas foram assassinadas ou sequestradas. Dos 48 reféns ainda mantidos em cativeiro — 20 ainda vivos —, nove são de Nir Oz.

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“Só daqui a três anos conseguiremos reconstruir completamente Nir Oz. Algumas famílias já regressaram. Alguns jovens também estão no kibutz para o reerguer. Somos refugiados internos de Israel e será preciso construir um novo kibutz. O plano é que seja ainda maior do que antes”, diz Rita Lifshitz, de 84 anos.

“Cerca de 85% do kibutz terá de ser reconstruído do zero, porque as casas foram queimadas e destruídas na invasão do Hamas”, acrescenta.

O processo de reconstrução destes kibutzim está em fase adiantada. Amit Salvi, responsável pela área económica de Be'eri, afirma que a maioria dos moradores deverá regressar — entre 90% e 95% dos sobreviventes. Do ponto de vista da segurança, garante ter recebido promessas de presença permanente do Exército entre Gaza e o kibutz.

Segundo um relatório do governo israelita, dos 17,5 mil milhões de shekels (cerca de 4,5 mil milhões de euros) destinados à reabilitação das comunidades atacadas, ao longo de cinco anos, cerca de 7,9 mil milhões (aproximadamente 2 mil milhões de euros) já foram investidos. Mais 525 milhões de shekels (133 milhões de euros) foram reservados para incentivar o retorno dos moradores.

Entre traumas e memórias difíceis, os habitantes de Be'eri e Nir Oz mantêm viva a vontade de reerguer as suas comunidades — e, com elas, parte da esperança de um país em permanente reconstrução.

Há dois anos, os ataques do Hamas fizeram cerca de 1200 mortos em território israelita e mais de 250 reféns foram levados para a Faixa de Gaza. Estima-se que 48 pessoas estejam ainda em cativeiro, das quais apenas 20 estarão vivas.

Desde então, Israel iniciou uma operação militar em Gaza que matou mais de 65 mil pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que a ONU considera fiáveis.

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