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Entrevista

​“Quem serve o Exército merece mais”. CEME defende revisão remuneratória

24 out, 2023 - 07:01 • Liliana Monteiro

O Chefe de Estado-Maior do Exército mostra-se preocupado com a falta de efectivos. “Não vale a pena escamotear o problema", diz o general Eduardo Mendes Ferrão à Renascença. Na semana em que se assinala o Dia do Exército, o seu responsável máximo revela que haverá teste e controlos "mais exigentes" nos cursos dos Comandos.

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Entrevista Mendes Ferrão, Chefe Estado Maior Exército
Entrevista Mendes Ferrão, Chefe Estado Maior Exército

O Chefe de Estado-Maior do Exército, general Eduardo Mendes Ferrão, considera inevitável falar de meios humanos quando se olha para o Exército porque esses meios têm diminuído de ano para ano.

“Não vale a pena escamotear o problema de efectivos no Exército. Somos menos de dez mil, é o número mais baixo que temos, já temos menos de quatro mil praças e isso é um problema que não começou hoje, foi ligeiramente interrompido durante a pandemia e que se agrava porque as saídas são superiores às entradas”, diz Mendes Ferrão à Renascença.

O general que chefia o Exército diz-se empenhado em reverter a situação, considerando também importante o Exército mostrar-se mais à sociedade civil para que esta possa perceber o que faz e o que propõe para o futuro: “É preciso mostrar que há no Exército muitas oportunidades. Temos uma aposta grande na formação e qualificação e um cidadão que venha estudar para o Exército sai mais qualificado e bem qualificado."

No entanto, o responsável reconhece uma barreira que luta para que seja ultrapassada.

“Como comandante do Exército, considero que os homens e mulheres que servem no Exército merecem mais pelo que fazem, pelo que são e pela dedicação e espirito de serviço que têm a Portugal e aos portugueses”

“Temos um Exército com pessoas solidárias, que, quando sentem os compatriotas a sofrer, estão prontos, esquecendo muitas vezes a família, para agir em beneficio do bem comum”, garante Mendes Ferrão, acrescentando que, por isso, “essas pessoas merecem que seja revista a sua condição remuneratória”.

Os que trabalham no Exército podem fazer mais e essa é também uma prioridade para o general Mendes Ferrão, há seis meses no cargo, uma questão que já foi colocada em cima da mesa das negociações com o Ministério da Defesa. “Preocupa-me a mobilidade dos militares. Temos de deslocar muitos militares para fora da zona de residência para suprir serviço e para mim é importante rever o apoio à mobilidade”, acrescentando que, “hoje o custo dos transportes aumentou muito e é preciso apoio."

Mendes Ferrão garante também que está em curso o investimento nas condições de alojamento do Exército, com padrões alterados, transformando os espaços grandes camaratas em quartos para quatro pessoas. A alimentação e as messes estão também na mira da mudança para que sejam verdadeiramente utilizadas por todos os militares, independentemente da categoria, e com preços simbólicos para os deslocados.

“Gostava de concretizar o que está na Lei de Programação Militar (LPM); gostava de ver melhorado o estatuto remuneratório dos meus militares e civis, porque é um dever do país reconhecer o que fazem, e gostava de ver rejuvenescido o parque de infraestruturas do Exército", diz.

"Gostava levar a cabo o desígnio de transformar mentalidades dentro do Exército, com pessoas felizes e qualificadas, um ramo que olha para os papeis e processos e vê neles uma pessoa”, confessa

O CEME garante que ele próprio, o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e a ministra da Defesa estão unidos para melhorar o índice de recrutamento e retenção e as condições a eles associadas. "Sabemos os caminhos que temos de percorrer, mas sabemos quais os recursos que país tem”.

LPM não é suficiente, mas vai ajudar a renovar o Exército

O Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) nesta entrevista à Renascença que o investimento previsto na Lei de Programação Militar “não é o que queríamos , não vai chegar para reequipar totalmente o Exército, mas vai permitir melhorar”, explicando que vai dar para a renovação de materiais e equipamentos, novas viaturas, novos sistemas de comunicações e de armas esperando que possa melhorar muitas das capacidades que tinham caído no desinvestimento.

Em curso está já de resto o desenvolvimento da capacidade de sistemas aéreos não tripulados, sistemas remotos, protecção anti-aérea, sublinhando que “esta LPM, para ser cumprida até 2034, permitirá renovar o Exército e cumprir compromissos com a Nato e União Europeia”.

Também a verba prevista na lei das infraestruturas não é a necessária para a recuperação das instalações. “Precisaríamos de muito mais” diz o CEME lembrando que o edificado tem na sua maioria mais de 70 anos.

“Há muito mais a fazer e onde temos pessoas temos de as ter em condições e é essa a minha preocupação” diz o General Eduardo Mendes Ferrão.

Em curso está nesta altura a reabilitação da caserna dos Açores e Vila Real, os alojamentos na Academia Militar, um complexo de alimentação em Lamego, etc…

Curso de Comandos com novos controlos

As situações divulgadas pelos média que deram conta de casos de falência de alguns dos candidatos que frequentavam os cursos dos comandos deram origem a mudanças.

“São feitas análises regulares, periódicas, a todos os formandos durante os cursos, nomeadamente na véspera das provas mais exigentes. Já eram feitas, mas aumentamos a periodicidade das mesmas. Fala-se muito que os jovens que enfrentaram problemas no curso de comandos teriam tomado alguma coisa, mas nas análises não tivemos dados científicos que digam que os instrumendos tivessem ingerido alguma substância”, afirma.

As inspecções médicas passaram a ser feitas num centro de excelência, em Coimbra, onde os candidatos são sujeitos a uma bateria de testes físicos e psicológicos mais exigentes.

“Tendo em conta a condição física decidimos criar um período de pré-curso de três semanas para os candidatos estarem a nível fisico preparados para começar o curso. Fazemos também uma maior monitorização das várias actividades desenvolvidas durante o curso”, acrescenta o general.

Recrutas demoram a interiorizar a vida militar

Mendes Ferrão diz que “os militares que fazem a recruta uma das dificuldades que enfrentam é adaptar-se a uma vida com horários e regras e isso custa. Não têm telemóvel sempre disponível, e este período de habituação custa aos jovens que vêm ter connosco”, conta.

Exército motivado e bem treinado e em prontidão

O General Eduardo Mendes Ferrão afirma ter um Exército motivado, treinado, pronto e que cumpre as missões atribuídas em território nacional, como por exemplo o combate aos fogos e no apoio de emergência. Mas cumpre também missões no estrangeiro com forças posicionadas na Roménia e Republica Centro Africana, cujo mérito operacional é reconhecido nacional e internacionalmente com muito prestígio para o país.

“Somos em África a força que contribui para estabilidade naquele país (Republica Centro Africana) e é uma força fundamental e imprescindível no seio das Nações Unidas. Também na Roménia estamos a contribuir para a segurança do Flanco Leste, onde temos as viaturas mais modernas”.

Teme que portugal possa ser um parceiro de guerra irrelevante?

“Não. Como nos afirmamos no panorama internacional, nós exercito e forças armadas? Noa pode ser necessariamente pela quantidade, somo um país pequeno, mas posso garantir que onde quer que estejamos afirmamo-nos pela qualidade”, revelando mesmo que “os parceiros pedem muitas vezes para mostrarmos como fazemos e conseguimos atingir”.

Para o General Mendes Ferrão, os militares portugueses apresentam “várias características que nos fazem granjear prestigio: competência que resulta de formação e treino muito bons, capacidade de interagir bem com instituições e outros exércitos, temos uma interoperabilidade cultural e onde chegamos conseguimos fazer de fazer pontes entre todos e ser duros quando temos de o ser”.

Viana do Castelo foi a cidade escolhida para acolher a semana de comemoração do dia do Exército que se assinala a 24 de outubro, até domingo estão previstas várias demonstrações, exposições e concertos.

No Exército “podem encontrar oportunidades” diz CEME

Viana do Castelo foi a cidade escolhida para acolher a semana de comemoração do dia do Exército que se assinala a 24 de outubro. Haverá demonstrações, exposições e concertos.

O que significa estar no Exército? Que oportunidades pode proporcionar? O que se pode lá fazer? São algumas das questões que o Exército quer ajudar a esclarecer junto de todos os que se juntarem às celebrações que decorrem em Viana do Castelo até ao próximo domingo.

Em entrevista à Renascença, o Chefe de Estado Maior do Exército, o General Eduardo Mendes Ferrão, sublinha a importância desta abertura de portas para esclarecer e cativar jovens para a vida militar. “Temos uma aposta grande na formação e qualificação dos militares ao longo da carreira. Quem se forma no exército ganha boa qualificação”.

O objetivo é atuar junto dos jovens mas também dos mais pequenos, “não olhamos só para os que amanhã podem se virar para nós”.

A vida militar, constata, não é fácil mas tem o seu encanto e desafio, “é muito exigente, exige muita dedicação, disponibilidade, está-se muito fora da família , há muitas horas de serviço e acaba-se por atuar em ambientes que nunca são fáceis e as pessoas têm de ser bem preparadas num quadro de exigência e rigor, não nos vão desculpar um dia se dissermos que não preparamos bem os militares”.

Confessa que “quem vem fazer a recruta, a principal dificuldade que sente é adaptar-se a uma vida com horários e regras” lembrando que “não têm telemóvel sempre disponível”, mas que rapidamente acaba por se enquadrar.

O General Mendes Ferrão garante que o exército é um ramo cheio de desafios e está hoje mais moderno e tecnológico, oferecendo oportunidades a vários tipos de especialistas.

As comemorações do Dia do Exército Português decorrem, este ano, em Viana do Castelo, entre 24 e 29 de outubro com um programa vasto.

O Dia do Exército tem como referência a tomada de Lisboa a 24 de outubro de 1147, pelas tropas de D. Afonso Henriques, Patrono do Exército Português.

Comentários
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  • Karma
    25 out, 2023 Lisboa 07:58
    Liricos... Não conseguem motivar os existentes, só fica quem não sabe fazer mais nada... quanto mais recrutar...

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