16 fev, 2024 - 23:42 • Alexandre Abrantes Neves
Pavel Elizarov não é estranho nestas lides. Natural de Moscovo, vive em Portugal há vários anos e foi cá que desenvolveu grande parte da sua atividade enquanto ativista contra o regime de Vladimir Putin. Ainda assim, o anúncio da morte de Alexei Navalny foi um “choque” – e Pavel ainda tem esperança de que não passem de uma “farsa”.
“Eu ainda não acredito completamente, porque os serviços oficiais russos são a única fonte que temos – e sabemos que muitas vezes são uma fonte não credível, de notícias falsa. Tenho esperança e espero a confirmação da família e dos colegas dele”, conta à Renascença, enquanto segura um cartaz de homenagem ao opositor de Putin, em frente à Embaixada da Rússia em Lisboa.
Logo ao lado, com os olhos postos nas velas que se acumulam no chão perto de fotografias de Navalny, está Marisa Dovnasiano. Tem dupla nacionalidade (russa e portuguesa) e, apesar da notícia “muito triste”, olha para o protesto como uma “vitória” e um “sinal de esperança de que a união dos russos em Portugal vai continuar”.
"Se eles decidirem matar-me, isso significa que so(...)
Contudo, quando questionada se a morte de Navalny pode fazer aumentar a coragem e a oposição da sociedade civil na Rússia, Marisa já não se mostra tão confiante.
“O governo faz tudo para aplicar a força. Há pessoas que tentam de uma forma mínima demonstrar a sua insatisfação e, ainda assim, são detidas e oprimidas. As pessoas têm muito medo”, explica, antes de ser interrompida por breves gritos de homenagem em russo, entoados pelas mais de duas dezenas de pessoas que se manifestaram na tarde desta sexta-feira, frente à embaixa da Rússia, em Lisboa.
Quem não se sente capaz de falar muito é Ana. Vive em Portugal há vários anos, mas o receio que mantém do regime de Putin impede-a de nos dizer o seu nome. Quando soube da morte de Navalny, telefonou imediatamente à mãe que está em Paris e ficaram “as duas a chorar durante largos minutos”. E com a voz ainda embargada, Ana explica o “símbolo especial” que traz ao peito – um cravo vermelho.
“Em 2024, celebramos os 50 anos do 25 de Abril. O facto de estarmos aqui em Portugal traz um bocadinho de esperança para os outros países que estão a viver sobre um regime de ditadura. É um exemplo claro daquilo que nós todos gostávamos que acontecesse agora na Rússia: uma revolução pacífica e feita pelo povo”, detalha.
Sobre as muitas reações à morte de Navalny, Ana deixa uma palavra de “agradecimento”, mas diz que não são suficientes. Os líderes mundiais devem, na sua perspetiva, dar mais exposição aos opositores russos que “ainda podem apresentar uma alternativa” – e fazer com que as pessoas “fiquem mais informadas sobre o que se passa no país”.
Na manifestação, vários portugueses também marcaram presença. Um deles foi João Paulo Batalha, presidente da Frente Cívica, que considera a reação da União Europeia como “insuficiente”.
À Renascença, o antigo dirigente da Transparência Internacional classifica a morte de Navalny como um “homicídio de Estado” e da responsabilidade de Vladimir Putin – e que, por isso, exige da Europa uma resposta adequada.
Foi um dos maiores e mais famosos críticos de Krem(...)
“A melhor forma de responder a este homicídio é pegar no trabalho feito pela Fundação Navalny – que identificou seis mil responsáveis do regime russo – e alargar as sanções europeias a esses responsáveis”.
João Paulo Batalha pede ainda que os atores políticos em Portugal estejam “alerta” para os apoiantes de Putin – e que de forma “urgente” congelem os seus bens.
“Em Portugal, não se fez rigorosamente nada até agora. Tem havido uma cumplicidade por omissão com dinheiro russo escondido aqui em Portugal. Portanto, tem de haver um trabalho zeloso e rigoroso para identificar esses indivíduos e congelar-lhes os bens. Acho absolutamente fundamental uma resposta política e urgente”, remata.