12 jul, 2024 - 17:42 • Cristina Nascimento
Os rankings das escolas são dominados por colégios privados e escolas do norte. Mas, num universo de centenas de estabelecimentos de ensino, olhando com mais detalhe, encontram-se vários exemplos de realidades escolares diferentes, todas bem-sucedidas.
É o caso da Escola Secundária João de Deus, em Faro. Localizada num dos distritos com pior média do país e numa das zonas geográficas mais afetadas pela falta de professores, o concelho de Faro consegue ser o 46.º com melhor média (12 valores). O antigo liceu de Faro está em 83.º lugar na tabela das escolas secundárias, num universo de quase 500 estabelecimentos de ensino.
Carlos Luis, diretor da escola, explica o sucesso com “seriedade, entrega e envolvimento do trabalho de equipa”, detalhando que “trabalho de equipa envolve as famílias também”.
“As famílias trabalham connosco, com os alunos, funcionários, em conjunto, remamos para o mesmo lado”, diz.
O professor não poupa elogios, por exemplo, aos docentes que, garante, “mesmo fora do horário letivo trabalham muitas vezes com os alunos, estão sempre disponíveis”, recorrendo com frequência a meios digitais, nomeadamente algumas redes sociais e a plataforma informática ClassRoom.
No início de cada ano letivo, o diretor reúne-se com os professores a quem pede que “sejam amigos dos alunos, gostem dos alunos”, mas a quem também devem exigir disciplina.
Os esforços resultam, por exemplo, numa taxa de ingresso no ensino superior acima dos 90%. “Vão para cursos muito variados, para Medicina, para o Instituto Superior Técnico, vão também estudar para o estrangeiro”, assegura.
Nesta escola com cerca de mil alunos e 130 professores, o diretor revela que sofre da falta de docentes, mas, num passe de gestão, deu “primazia à escola secundária para sentir menos essa falta”. Carlos Luis queixa-se ainda que “faltam assistentes operacionais”.
Pelo lado positivo, assegura que tem “excelentes condições” físicas, num edifício do tempo do Estado Novo, mas que foi totalmente requalificado pela Parque Escolar.
Subimos no mapa de Portugal e paramos em Paredes, no distrito do Porto. É lá que se localiza a Escola Secundária Daniel Faria, a escola que, de um ano para o outro, subiu 297 lugares na tabela dos rankings. Entrou no top 100, está agora no 91.º lugar, com uma média de 12, 42 valores.
O resultado reflete uma reviravolta na gestão do agrupamento. Em 2021/2022 foi eleita uma nova direção que arriscou, por exemplo, dar aos alunos a hipótese de poderem fazer o seu próprio currículo no secundário.
A diretora Celeste Valério diz que a ideia é permitir que os alunos possam manter em aberto o maior número de escolhas, na hora de decidir qual o curso que querem frequentar no Ensino Superior.
“Se o aluno não tiver tanta aptidão para a matemática, no nosso agrupamento pode frequentar um curso de ciências e tecnologia, mas ter uma opção de uma disciplina bienal de um outro curso, de humanidades ou ciências económicas”, explica.
Além desta flexibilidade, a escola aposta também numa formação dos alunos que vai além dos bancos da escola, dando a oportunidade de desenvolverem várias atividades, quer desportivas, quer de voluntariado.
Celeste Valério descreveu à Renascença um vasto leque de programas e atividades que os alunos podem realizar e que envolvem a comunidade escolar educativa. Questionada sobre se, num cenário de falta de professores, conseguem ter recursos humanos suficientes para tudo, a diretora responde que é possível graças a “uma grande dedicação” e a um “espírito de pertença”.
Nesta viagem por escolas bem-sucedidas, o próximo destino é em Felgueiras. A Escola Secundária da Lixa tem um terço de alunos carenciados que beneficiam de Ação Social Escolar (ASE), mas nos Ranking das Escolas da Renascença surge em 53.º lugar da tabela geral, é a 13.ª melhor escola pública, com uma média de 12,87 valores.
A Secundária da Lixa tem cerca de 900 alunos, 80% segue para o ensino superior, uma tendência que abrange alunos com e sem ASE.
O diretor Armindo Coelho não estranha os resultados que justifica com o facto de terem “um ambiente escolar são” e “bons profissionais”. O professor destaca a existência de “programas de apoio sobretudo para os alunos que têm exames nacionais” e a “envolvência das famílias”.
Armindo Coelho assegura que nesta escola não faltam professores, nem recursos materiais. Diz mesmo que “nunca tiveram falta de recursos humanos e tecnológicos e que o grande desafio é tirarem partido destes elementos”.
Nesta conversa com a Renascença, o diretor da escola destaca um detalhe que, considera, ajuda a uma vida escolar mais saudável. Neste estabelecimento de ensino as aulas terminam às 17h00, o que permite aos alunos chegarem “a casa mais cedo” ou dedicarem-se a outro tipo de atividades.
A última paragem deste percurso é num colégio privado do Porto, habituado a estar nos lugares de topo dos rankings. O Grande Colégio Universal este ano está em quarto lugar da tabela das escolas secundárias, o ano passado estava em primeiro.
O diretor pedagógico Rui Brito garante que, para ter este tipo de classificações, “é essencial ter alunos ambiciosos e pais que acompanham a vida desses alunos”. “Nós temos tido sempre a sorte e temos conseguido trabalhar nesse sentido, de incutir essa ambição aos nossos alunos”, diz.
Outro segredo do sucesso passa pelos professores, uma profissão “para a qual ninguém vai para ser rico” e que é complexa. Por isso, estes profissionais merecem especial atenção.
“Cuidamos muito bem da nossa gente, dos nossos professores e coordenadores de ano, temos uma equipa coesa e muito heterogénea. Temos professores que estão motivados e que se preocupam sobretudo em dar aulas”, explica Rui Brito, acrescentando que a direção tenta “minimizar o trabalho burocrático para ter os professores o mais tempo possível disponíveis e com a cabeça limpa para estarem na sala de aula com os seus alunos”.
Habituados a estarem nos lugares cimeiros dos rankings, este ano desceram três posições. Quisemos saber se há pressão para manter resultados.
Rui Brito nega. O diretor pedagógico explica: o ranking das escolas “não é o nosso resultado”, mas sim “o resultado do nosso resultado”.
“Verdadeiramente aquilo que conta são os resultados que os alunos têm nos exames nacionais, o sucesso de cada um deles”, remata.