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Estudo Edulog

Universitários sem contrato de arrendamento e sem recibos. Limiar mínimo das bolsas é "demasiado baixo"

21 nov, 2024 - 00:03 • Fátima Casanova

Estudo do Edulog alerta para as dificuldades dos estudantes deslocados em Lisboa e no Porto. O alojamento é um dos maiores problemas, por causa do valor das rendas.

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A opção para 63% dos alunos do Ensino Superior, que estão deslocados, passa por encontrar um alojamento na periferia e fazer deslocações diárias e a maioria não tem contrato de arrendamento nem recibos, revela o mais recente estudo do Edulog. O limiar para se ter bolsa de estudo também é considerado “demasiado baixo”.

Ser universitário deslocado em Lisboa ou no Porto fica caro, especialmente por causa do alojamento, que não é fácil de arranjar e quando se encontra, o negócio, muitas das vezes, é feito à margem da lei.

O Edulog, o "think tank" da Fundação Belmiro de Azevedo, alerta para as dificuldades dos estudantes ao nível sócio económico: apenas 17,8% têm acesso a bolsas de estudo, enquanto grande parte (66,5%) depende financeiramente da família.

O alojamento surge como um “dos problemas centrais com que se confrontam os estudantes deslocados”, dada a pouca oferta e os elevados custos do arrendamento, diz à Renascença Maria José Sá, do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior.

A este facto soma-se a informalidade nos contratos de arrendamento. De acordo com o estudo do Edulog, 48% dos estudantes deslocados em Lisboa e no Porto dizem que não têm um contrato de arrendamento e 51% afirma que o senhorio não passa recibo.

Maria José Sá acrescenta, que “na melhor das hipóteses passam um recibo correspondente a metade do que pagam, ou seja, pagam 500 ou 600 euros por um quarto e o senhorio passa recibo de 250 ou 300 euros”.

Valores que prejudicam as famílias, nomeadamente na apresentação de despesas em sede de IRS.

Para quem tem dificuldades em pagar uma renda, a alternativa, para 63% dos universitários deslocados, passa por residir em concelhos periféricos, fazendo “um trajeto mais longo e mais demorado, por vezes, recorrendo a diversos tipos de transporte, por contraponto a procurar um alojamento nestas cidades, porque fica muito mais oneroso”, explica Maria José Sá.

Uma opção que para esta investigadora “tem repercussões ao nível do desempenho dos estudantes”, que “passam três horas a fazer as suas viagens de ida e regresso, quando poderiam estar a estudar”.

De acordo com o Edulog, 57% dos alunos deslocados gastam entre 200 a 400 euros com a renda, a que se juntam as despesas com alimentação e transportes, o que representa uma fatura pesada, que em grande parte dos casos, é suportada pela família.

Apenas 17,8% dos estudantes têm bolsas de estudo e é para estes que abrem prioritariamente as portas das residências universitárias, mas “o número de camas disponíveis é muito inferior à procura”, denuncia esta investigadora, que alerta para consequências negativas desde logo junto dos estudantes de classes menos favorecidas e que têm logo vedado o acesso ao ensino superior.

De acordo com o Edulog, apenas 3% dos estudantes que concorrem a uma vaga numa residência universitária obtêm lugar.

A investigadora Maria José Sá defende, por isso, a revisão dos critérios para que os estudantes possam ser apoiados, porque só são elegíveis à bolsa de estudo, os alunos de famílias com um rendimento per capita, inferior a cerca de 11 mil e 700 euros.

Ensino Superior pode aprofundar o fosso para os alunos pobres

O estudo da Edulog evidencia que o Ensino Superior “não está acessível a todos os portugueses”, considera a investigadora Maria José Sá, sublinhando que “há ainda um longo caminho a percorrer, há muito a fazer para que estas desigualdades de acesso e de sucesso sejam mitigadas”.

De acordo com os dados obtidos, 59,1% da amostra (cinco mil respostas validadas) declararam estudar na região de origem, enquanto apenas 38% afirmaram ter saído da sua região para poder estudar.

Uma situação que poderia ser diferente se os apoios fossem mais abrangentes, é o que defende Alberto Amaral, do conselho consultivo do Edulog, ao dizer à Renascença que “há que apostar em melhorar significativamente a ação social escolar”. Para este responsável, “diz-se que há muitos alunos com bolsas, mas para uma grande percentagem de alunos com bolsa, esta só serve para pagar as propinas”.

Alberto Amaral critica o limiar para se ter bolsa de estudo, que no seu entender “é demasiado baixo”, lamentando que “um indivíduo de classe média, ou classe média baixa, dificilmente tenha acesso à bolsa de estudo”.

O ex-presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior sublinha, por outro lado, que são os alunos de famílias favorecidas que acabam por entrar nos cursos de maior prestígio, onde as notas são mais altas.

Explica que os “filhos de classes mais favorecidas têm outro tipo de recursos, podem ir para uma escola privada para subir as notas ou ter explicações, enquanto os outros não. Portanto, à partida há um problema de estarem em situações diferentes, quando os diferentes alunos competem entre si”, alerta, considerando que o ensino superior está a aprofundar o fosso para os alunos pobres.

Alberto Amaral defende, por isso, uma maior divulgação do projeto que prevê um contingente prioritário no concurso nacional de acesso ao Ensino Superior, que destina 2% das vagas para alunos carenciados.

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  • Maria
    21 nov, 2024 Palmela 17:55
    Os paizinhos que os aturem! Porque se for o estado a pagar a conta e dividida por todos! Eu quando mandei o meu filho estudar nao me pendurei em ninguem!

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