30 jan, 2025 - 07:00 • Salomé Esteves
A vasta maioria das mortes de fetos, bebés com menos de sete dias e até um mês de idade acontecem quando a mãe tem uma gravidez vigiada, conclui o relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) da Mortalidade Infantil divulgado esta quinta-feira.
O relatório abrange dados entre 2017 e 2021 e concluiu que 94% dos óbitos fetais e 83,8% dos óbitos neonatais resultam de uma gravidez vigiada. Os dados contrariam a ideia de que um aumento de mortes de fetos e de bebés com menos de um mês estão ligadas a um fraco acompanhamento da grávida durante a gestação.
A Renascença contactou várias fontes – a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (ISPA) - para perceber a proporção de gravidezes vigiadas neste tipo de óbitos depois de 2021, mas nenhuma disponibilizou dados.
Cristina Teixeira, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), explica que “à medida que há cada vez mais intervenção durante a gravidez e durante o parto, as crianças sobrevivem — não morrem in utero, não morrem durante o parto, sobrevivem — e depois acabam por morrer mais tarde durante o primeiro ano de vida”.
“À medida que há cada vez mais intervenção durante a gravidez e durante o parto, as crianças sobrevivem e depois acabam por morrer mais tarde durante o primeiro ano de vida”
Ou seja, “a forte intervenção devido aos cuidados obstétricos e da vigilância durante a gravidez”, especialmente numa gravidez de risco, e o acompanhamento do recém-nascido em unidades de neonatologia ajudam a fazer a manutenção de vários problemas de saúde graves.
O Relatório da Mortalidade Infantil da DGS esclarece que os primeiros dias de vida são o período em que se concentram mais mortes de crianças até um ano. Nos primeiros sete dias, o recém-nascido está sujeito a complicações relacionadas com “prematuridade, complicações no parto e malformações congénitas”.
Mas, segundo o relatório da DGS, entre 2017 e 2021, tanto a mortalidade fetal tardia (a partir das 28 semanas de gestação) como a mortalidade neonatal precoce (até 24 horas vida do bebé) estavam em queda, situação que se mantém desde o início do milénio.
De facto, lê-se, a “taxa de mortalidade fetal diminuiu de forma acentuada em Portugal” e estabilizou em 2011, do mesmo modo que “a taxa de mortalidade infantil tem diminuído de forma sustentada ao longo das últimas décadas”. Portugal tem, aliás, a redução “mais expressiva” dentro dos Estados-membros da União Europeia (UE).
Dados do INE, citados pelo relatório até 2021, revelam que a taxa de mortalidade infantil esteve sempre abaixo das três mortes por mil nados-vivos desde 2018, ano em que se verificou o número mais alto da última década (3,3).
Foi também entre 2019 e 2023 que se registaram os números de mortalidade infantil mais baixos desde que há registo (com exceção de 2010). Estes números estão perfeitamente em linha com as declarações de Manuel Pizarro, antigo ministro da Saúde, ao sublinhar que os cinco melhores anos sobre a mortalidade infantil incluem os últimos quatro.
O número de nados-vivos no ano de 2024 ainda não foi disponibillizado, mas sabe-se que, nesse ano, morreram 261 bebés com menos de um ano. Por essa razão, ainda não é possível calcular a taxa de mortalidade infantil para 2024.
Sobre os mesmos números, Manuel Pizarro acrescentou que existem “pequeníssimas flutuações” que merecem ser valorizadas e estudadas.
Saúde
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Na média dos cinco anos de análise do relatório — de 2017 a 2021 – a taxa de mortalidade neonatal precoce é muito superior em gémeos. Dez em cada mil nados vivos de partos gemelares morreram nas primeiras 24 horas de vida, apesar de corresponderem a pouco mais de 24% das mortes registadas nesta categoria.
É certo que cerca de metade, 46,3%, dos óbitos no primeiro dia de vida aconteceram a bebés que nasceram antes das 28 semanas de gestação e os partos gemelares têm um maior risco de prematuridade.
Além disso, a mortalidade precoce aumentou, entre 2020 e 2021, “nos grupos de mães com idades acima dos 35 anos”. Isto acontece porque tem vindo a aumentar a percentagem de mulheres que são mães nesta faixa etária.
De acordo com o Relatório da Mortalidade Materna, também divulgado esta sexta-feira, a proporção de nados-vivos filhos de mães com mais de 35 anos subiu de 14,4%, em 2002, para 66,2%, em 2021.
A investigadora Cristina Teixeira acrescenta as mulheres que engravidem mais tarde podem ter “mais tendência para diabetes, para tensão arterial, para comorbidades que depois fazem com que seja uma gravidez de risco”.
[Notícia atualizada às 13h25]
Mortalidade materna
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