28 mar, 2025 - 12:15 • João Cunha
No portão de acesso à Básica de Camarate estava esta manhã uma folha A4 pendurada, protegida por uma mica, em que se anunciava o encerramento da escola devido à greve de assistentes operacionais. Só não se explicava o motivo do protesto: a insegurança e os constantes episódios de violência entre alunos e destes para com as funcionárias.
Rita Vieira lembra o caso recente, amplamente divulgado, da detenção de dois homens que entraram escola dentro depois de uma zaragata entre dois alunos, um deles familiar dos invasores.
"Tivemos de fazer um cordão para defender as crianças. E esse é o nosso papel, defender as crianças", sublinha esta assistente operacional.
"Temos situações em que somos maltratadas, todos os dias temos casos complicados, como tentativas de agressão, de entrada na escola, em que somos maltratadas e agredidas, verbal e fisicamente. Temos aqui muita instabilidade", garante Rita Vieira.
De colete florescente amarelo, para se proteger do frio matinal e de termo na mão a distribuir café aos colegas está Paula Videira, também funcionária da escola.
"Quando há situações de agressões entre alunos, intervimos e eles viram-se para nós, agredindo-nos com o que puderem. Não é isso que nós queremos. Temos amor à camisola e não queremos que as coisas se tornem mais perigosas. Não queremos isso para os nossos meninos. Estamos aqui para os proteger e queremos ser protegidas, também".
A situação é sobejamente conhecida por parte da direção da escola, que garante às funcionárias que contactou "o Ministério da Educação, a Câmara Municipal e outras entidades". Mas, refere Paula Videira, "a resposta foi que não podem fazer nada, porque não têm condições para o fazer".
Acaba de parar o carro e sair de mão dada com o filho, que está numa das turmas com pior comportamento da escola. Andreia Almeida já se arrependeu de ali ter o filho.
"Não pensava que esta escola tivesse esta insegurança toda. E nunca fui informada que não havia segurança suficiente para as crianças, que se sentem ameaçadas e onde recorrentemente episódios de violência", assegura.
"Um destes dias, ele (o filho) fez-me uma videochamada a chorar, a dizer que duas pessoas tinham entrado na escola. Eu fiquei em pânico", lembra Andreia, que diz que não foi informada de que se tratava de uma escola TEIP, do Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária. A solução encontrada pelo Governo para escolas em territórios com elevado número de crianças e jovens em risco de vulnerabilidade social. O objetivo é garantir a inclusão e o sucesso educativo, melhorar a qualidade das aprendizagens e combater o abandono escolar.
Esta encarregada de educação lamenta que o filho "se sujeite a aprender o que consegue", devido às constantes interrupções de alguns alunos da turma, que afetam a progressão no ensino de todos. E até mudam comportamentos.
"Chegou a inventar estar doente umas quantas vezes para o vir buscar", lembra Andreia Almeida, que indica ainda que o filho "teve de começar a fazer consultas de psicologia, por se sentir inseguro".
"Tem havido desacatos entre alunos, mas isso faz parte da idade deles", confessa Carlos Pereira, professor na EB23 Mário de Sá Carneiro.
Admite que muitas vezes "há desacatos entre alunos, durante as aulas, que acabam por se resolver". Mas para este professor de educação física, o problema está nas consequências, que na sua opinião deviam ser mais severas, mais penalizadoras.
"Eles cometem determinados erros e não há consequências disso. Devia ir para casa mais dias, 15 dias em vez de dois ou três. Tinha de haver mão firme e uma segurança maior na escola, senão qualquer dia isto é o faroeste".
Ao lado do protesto dos assistentes operacionais está Ricardo Oliveira, presidente da Associação de Pais, que admite inúmeros problemas "que têm a ver com a complexidade social existente e que poem em causa a segurança da comunidade educativa".
E compreende que os assistentes operacionais estejam fartos de estar nesta situação.
"Eles não são agentes de segurança e sentem-se desapoiados, porque estas situações estão-se a mostrar recorrentes. A Câmara de Loures acompanha-nos e tem feito pressão junto do Ministério para nos dar uma melhor atenção. O Ministério não nos responde".
Depois do protesto desta sexta-feira, espera que a posição do governo seja diferente.
"Espero que haja um reforço de assistentes operacionais nesta escola e que o Ministério possa fazer algum reforço de segurança, porque atendendo à natureza especial desta escola, são necessárias medidas extraordinárias".
Presente na vigília de hoje esteve a presidente do STAL - o Sindicato de Trabalhadores da Administração Local. Para Cristina Torres, "há um problema maior que precisa de ser resolvido, que são os problemas da população em geral, mas sobretudo dos mais desfavorecidos, que têm os mais baixos salários e piores condições de habitação. Assim haja vontade política.
A sindicalista considera ainda que a autarquia "terá com certeza condições de reforçar o apoio que é necessário, fazendo alterações à portaria que permitam o acesso e ter trabalhadores aptos a garantir melhores condições de segurança".