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Os pais podem ser "o maior problema das escolas". Devem ser treinadores de bancada ou lutar para ter voz ativa?

04 abr, 2025 - 00:00 • Cristina Nascimento

Os pais são fundamentais na vida das escolas, mas às vezes são o seu maior problema, reconhece um diretor. E esse conflito surge, normalmente, quando os encarregados de educação querem interferir naquilo que a escola considera ser terreno seu: a parte pedagógica. Entre os pais ligados ao movimento associativo, reconhece-se a importância de ter uma postura razoável quando se luta por uma escola melhor. Já os treinadores de bancada, que só se queixam dos problemas, pouco ajudam as associações de pais na luta por melhor qualidade de educação.

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Pais e diretores parecem estar de acordo. A presença e ação dos pais nas escolas são fundamentais. Apesar do consenso, no dia-a-dia, a imagem mais habitual é ver os pais, literalmente, à porta da escola pública.

Afinal, que papel têm os pais na vida da escola? São meros espectadores, treinadores de bancada ou têm capacidade de intervenção e realização?

“Os pais são fundamentais na vida da escola, mas há situações em que os pais, por vezes, são o maior problema da escola”, diz Manuel Pereira, presidente da Direção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares.

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O importante, sublinha o professor, é que a presença dos pais na escola siga o que está regulamentado desde 1990.

“Os pais e uma associação de pais devidamente organizada podem ser e são, na maior parte dos casos, um parceiro fundamental da escola”, reforça. O problema, acrescenta, “é quando alguns pais querem participar para além daquilo que devem, entram em áreas que competem só aos professores e à própria escola — por exemplo, a parte pedagógica — ou então quando metem questões pessoais da sua vida ou dos seus educandos à frente dos interesses da própria escola. Nessa altura é complicado”.


“Os pais são fundamentais na vida da escola, mas há situações em que os pais, por vezes, são o maior problema da escola”, diz Manuel Pereira, presidente da Direção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares.

Manuel Pereira argumenta que as escolas não podem “ter as portas abertas para entrar quem quer", independentemente de ser pai ou não. "Não temos recursos humanos para garantir que, quem entra, vem de boa-fé ou vem realmente colaborar, se é encarregado de educação… temos de regular as entradas.”

As questões de segurança e o medo levaram a uma forma de estar diferente dos pais na escola. É a convicção de Rita Rodrigues que durante uma década foi muito ativa enquanto encarregada de educação. Agora está mais afastada do associativismo, embora a mãe de três filhos tenha chegado a ser presidente da associação de pais de uma escola em São Domingos de Benfica, em Lisboa. Apesar de todos os seus filhos estarem ainda no ensino obrigatório, já sente algum cansaço que a afasta destas lides.

“O facto de os pais ficarem ainda muito à porta da escola, pelo menos na minha experiência que é com a escola do Estado, tem muito a ver com mudanças das últimas duas décadas, em que a segurança se tornou uma grande preocupação da comunidade escolar”, explica Rita Rodrigues.

A encarregada de educação lembra que se foram assistindo avários episódios — quer seja assédio, quer seja violência verbal, quer seja bullying , e que se foram identificando padrões de pessoas que, efetivamente, não reconheciam o seu espaço e o seu lugar e que interpelavam os alunos em diversas situações desagradáveis”.

Escola sem pais ativos, escola coxa

Noutra escola de Lisboa, na 2/3 de Almeida Garrett, em Alfragide, a presidente da Associação de Pais, Liliana Madureira, também destaca a importância de uma postura razoável dos pais. Nesta escola, a associação de pais tem tido boa relação com a direção que, justifica, deve-se “a uma postura de colaboração e não esta postura que, às vezes se nota nestes treinadores de bancada, que é quando estão cansados e chateados com alguma coisa, vão à escola para resolver o seu problema e vão numa expectativa de ataque”.

Liliana Madureira, mãe de dois filhos, não hesita em dizer que “uma escola sem uma associação de pais ativa é uma escola coxa” e que “quantos mais pais envolvidos, mais qualidade vai ter a educação nas escolas”.


"As pessoas são muito mais passivas e consomem aquilo que lhes é dado, não são pessoas muito conscientes, são muito treinadores de bancada, só identificam problemas, ficam em casa, no sofá, a mandar vir com as coisas que não são feitas”, diz Liliana Madureira

Rita Rodrigues alinha na mesma teoria. “A comunidade de pais de uma escola tem todas as profissões e mais algumas. Cada um no seu ramo consegue acrescentar algo de valor. Quando é preciso aconselhamento legal, com certeza que é fácil encontrar um advogado numa das turmas, quando é preciso fazer uma música para a festa da escola, com certeza que há um pai que toca um instrumento e que pode ensinar os alunos”.

Claro que para isso é preciso que os pais participem, o que nem sempre acontece. Liliana Madureira nota que o envolvimento dos pais “tem vindo a decrescer”.

“As pessoas são muito mais passivas e consomem aquilo que lhes é dado, não são pessoas muito conscientes, são muito treinadores de bancada, só identificam problemas, ficam em casa, no sofá, a mandar vir com as coisas que não são feitas, sem perceberem, sem irem aos sítios quais é que são efetivamente os problemas, como é que eles podem ser resolvidos”, defende.

Rita Rodrigues tem outra opinião. “Acho que há cada vez mais pais a quererem estar envolvidos”, mas, diz, “não há mais pais a estarem envolvidos porque temos uma vida, no geral, com muito pouco tempo, e o tempo acaba por ser a desculpa perfeita para não nos deixarmos envolver”.

“Desculpa” não foi uma palavra escolhida ao acaso. “O tempo somos nós que o arranjamos para o que quisermos. Portanto, é uma questão de organização e também uma escolha aquilo a que queremos dedicar o nosso tempo.

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