29 abr, 2025 - 12:35 • Tomás Anjinho Chagas
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Parecia mais um dia, mas às 11h33 desta segunda-feira, a luz foi-se e trocou as voltas a toda a gente. Além das mais óbvias implicações, uma fatia importante da população procurou saber o que estava a acontecer através da comunicação social. Mas sem energia para ligar a televisão e sem internet para atualizar a informação pelo telemóvel, o que sobra? A rádio a pilhas.
Quem os tinha ligou-os, quem não os tinha foi comprá-los. "Do que tínhamos, vendeu-se tudo", confirma à Renascença, Joaquim Ramos da Costa, proprietário da "Pérola de Moscavide", uma loja de pequenos eletrodomésticos nesta freguesia do concelho de Loures.
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As paredes estão forradas com caixas de televisões, ferros de engomar, ares condicionados e todo o tipo de dispositivos que ontem deram de si. Joaquim fala num dia confuso, mas que evidenciou a importância de uma loja como a sua: "As pessoas vinham de todo o lado, de Lisboa, para comprar rádios a pilhas", descreve, visivelmente satisfeitos.
Ao lado tem Amândio Ramos da Costa, familiar que também trabalha na Pérola de Moscavide. "Vendemos rádios baratos, 12 ou 14 euros", ironiza. Tivemos de fazer a pergunta: venderam mais rádios esta segunda-feira do que no resto do ano? "Sim, sim, acho que sim!", responderam.
Na loja vizinha, a loja do chinês Bamboo não poupa nas palavras para descrever o dia do apagão: "Caótico, muita confusão, muita gente, muitas filas", recorda Santa Cerqueira enquanto vai desembrulhando stock para repor.
Diz que as pessoas vinham "aflitas" ou "muito nervosas", e que foi um dia bom para vender, sobretudo pilhas, velas e "fogareiros", solução para quem não podia cozinhar devido ao corte de energia.
Não tinham rádios a pilhas para vender, mas, com um sorriso na cara, Santa Cerqueira assume que "se calhar é melhor" passar a ter.
Ao virar da esquina, dentro de uma loja de conveniência, trabalha-se para repor o que os clientes levaram esta segunda-feira. Em contrarrrelógio, Kevin Georgricks vai tirando os produtos das caixas de cartão para os colocar nas prateleiras.
"Foi uma situação horrível, toda a gente estava muito assustada, até eu. Eram demasiados clientes e estava tudo à pressa", descreve.
As dificuldades, além de dar resposta, prendiam-se também com o facto de não conseguir processar pagamentos com cartão. Vendeu sobretudo baterias, velas e lanternas.
E rádios a pilhas? Também vendeu, mas só um. "Não tínhamos mais, porque ninguém conseguia prever esta situação".
Teresa Paiva acaba de pagar e coloca as pilhas que comprou na mala. "É para repor, ontem gastei-as, nas lanternas que tinha", descreve à Renascença.
Quer ter sempre pilhas para manter o estatuto de preparada para uma próxima vez: "Tinha lá poucas, quero passar a ter mais. Penso que vai ser mais recorrente, posso estar enganada, oxalá que sim".
Para ouvir as notícias foi para o carro, para conseguir ouvir a rádio. "O pouco que consegui tinha de ir ao carro, fui ouvindo sempre as notícias na rádio". Para o futuro, fica o projeto de voltar ao passado: "Estou a pensar em comprar um radiozinho a pilhas".