"Nós dissemos egrégios", "cyberbullying" e "crise de acne". O primeiro dia do julgamento Anjos vs. Joana Marques

17 jun, 2025 - 21:10 • Fábio Monteiro

Julgamento entre Anjos e Joana Marques começou com acusações de manipulação, relatos de ameaças e críticas ao limite do humor. Sessão decorreu com depoimentos emotivos – e também um pouco cómicos.

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Joana Marques chegou ao Palácio da Justiça, em Lisboa, poucos minutos antes da hora marcada para o início da primeira sessão do julgamento do processo cível interposto pelo grupo musical Anjos. A humorista fez uma curta declaração aos jornalistas, onde manifestou surpresa por o caso ter chegado a tribunal, considerando tratar-se de uma “perda de tempo”, sobretudo para o sistema judicial.

Com ironia, disse esperar que até ao dia seguinte se descubra que “coisas graves” são essas que os irmãos Nelson e Sérgio Rosado alegam. Afirmou ainda que recolheu “muita informação” ao longo do último ano e que responderia “em sede própria”.

Já no interior da sala de audiências, Nelson Rosado foi o primeiro a depor. Insistiu que o vídeo partilhado por Joana Marques, alvo do processo, foi manipulado e não se tratava de uma mera reprodução de uma atuação ao vivo. Em causa está uma atuação em que os Anjos cantam o hino nacional, antes do arranque de uma prova de MotoGP, no Autódromo Internacional do Algarve.

“É um post novo. A Joana Marques fez um post novo nas suas redes em que o vídeo não é uma reprodução, mas um vídeo por ele novo porque cortou partes”, afirmou.

Acrescentou que “há alterações” relevantes e que o vídeo transmitia a ideia de que os Anjos “não sabiam cantar o hino nacional”.

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"Ódio, cyberbullying" e ansiolíticos

Nelson Rosado sublinhou o impacto prolongado da polémica: “Ainda estamos a pagar essa fatura. Continuamos a receber ódio das redes sociais, continuamos a receber cyberbullying.” Afirmou que o duo foi acusado de ter “assassinado o hino” e garantiu que a partilha do vídeo pela humorista teve efeitos nefastos duradouros, nomeadamente o adiamento do lançamento do tema “Frágil”, em colaboração com os Calema, e o cancelamento de dois patrocínios da tournée de 2022.

O cantor referiu ainda que o clima de hostilidade levou a dupla a contratar segurança privada: “Recebemos ameaças e fomos obrigados a contratar segurança privada para estar à paisana no meio do público.”

Questionado pela juíza sobre o teor das ameaças, Nelson referiu que uma delas incluía uma referência a uma “joaninha”, mas escusou-se a reproduzir os impropérios. Revelou ainda que sofreu de insónias, começou por recorrer a medicação natural e acabou por tomar ansiolíticos.

“Para se fazer bom humor não é preciso falar mal de ninguém”, disse, criticando a reutilização do vídeo em espetáculos ao vivo de Joana Marques. Considerou que o caso tem sido apresentado pela defesa como um ataque à liberdade de expressão, mas refutou essa ideia: “É um caso de manipulação digital que nos causou dano.”

“Nós dissemos egrégios”

O julgamento foi interrompido para pausa de almoço e retomado à tarde.

A advogada de Joana Marques pediu para exibir o vídeo da atuação dos Anjos no Autódromo de Portimão, captado pela produtora Timi Montalvão. O vídeo teve de ser interrompido por falhas técnicas e som excessivo.

Nelson Rosado comentou: “Nós dissemos egrégios, sôtora.” A advogada ripostou: “E o 'uou uou uou' é um efeito?” Ao que o cantor respondeu: “Faz parte.” A juíza pediu que se avançasse, considerando o tema “esgotado”.

Seguiu-se o depoimento de Sérgio Rosado, que reforçou a tese de que o vídeo foi editado para realçar o ridículo. “Há uma respiração que é cortada e faz tornar o vídeo um pouco mais hilariante.” Considerou injustas as acusações de desconhecimento da letra do hino, sublinhando que “o vídeo não transparece aquilo que aconteceu”.

Admitiu que a banda teve sucessos posteriores, mas insistiu que sofreu perdas: “O Frágil foi um sucesso sim, mas foi adiado. Perdemos dinheiro.”

O cantor afirmou que a situação poderia ter sido evitada. “Convidavam-nos para ir ao programa, brincávamos com a situação e estava resolvido.” Defendeu que os Anjos são “das bandas com mais fairplay que existe” e que não são artistas com milhões de visualizações, mas sim “artistas de espetáculos”.

Apesar de afirmar gostar de humor, Sérgio Rosado disse que o estilo de Joana Marques não o atrai. “Não é o tipo de humor que eu goste, mas tenho de respeitar o público que a segue.”

Confessou também que a situação teve impacto psicológico: “Tive uma crise de acne provocada por stress.” Para evitar depressão, inscreveu-se numa prova de triatlo com apoio familiar e técnico. “Reuni a família e disse: eu preciso de fazer isto.”

Nos minutos finais do seu depoimento, Nelson Rosado referiu: “Continuo a viver com isto. Continuo a ir a sítios públicos e as pessoas estão a olhar para mim, a comentar.”

A sessão terminou com um curto depoimento de Manuel Rosado, pai dos músicos e representante da sociedade Angel Minds.

Questionado sobre as contas da empresa, o testemunho foi interrompido pela juíza por falta de respostas claras.

Os trabalhos serão retomados na manhã de quarta-feira, às 9h30.

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  • Luís Miguel da Silva
    29 jun, 2025 Gualtar 15:58
    Os Anjos vilipendiaram o Hino Nacional quer na forma quer no conteúdo. Nem souberam cantar egrégios Avós. Aposto que nem sabem o significado de tal conceito. Quando a fama sobe à cabeça e se perde o sentido da Realidade cai-se sempre no ridículo. E a Dra. Joana Marques aproveitou legitimamente o sucedido.
  • Mafalda
    21 jun, 2025 évora 14:01
    Desafinaram sim. Com mais ou menos respirações, a desafinação existe. É uma realidade objetiva, tal como a palavra mal pronunciada da parte deles. "Harmonias menos óbvias" é uma expressão insultuosa para os ouvintes e para os compositores. Sem dúvida que alteraram a harmonia, mas da forma óbvia e medíocre que carateriza a música deles. O vídeo da Joana não contribui mais para os ridicularizar do que a postura habitual deles; não realça abusivamente aspetos negativos da música deles que já não eram por demais evidentes. Mas vão sempre a tempo de aprender música. Poderiam ter dedicado a isso todo este tempo que têm ocupado a construir, só rivalizando com as harmonias em banalidade e putrefação intelectual, os seus argumentum ad passiones.
  • Hernâni
    21 jun, 2025 Valadares 07:15
    Até eu ficava com ansiedade à espera que me dessem 1 milhão ficava todo cheio de acne robor na conta bancária e e sobre tudo emaginava saber escrever i cantar o heno no
  • Telma
    20 jun, 2025 Lisboa 13:17
    A atuação foi a que aconteceu e ponto final. A manipulação do vídeo, a meu ver, foi somente a parte em que foi colocada imagens dos jurados, de um programa televisivo. Ser convidado para cantar o Hino nacional numa competição deste tipo, é ou deveria ser um privilégio e a única coisa que "faz parte" deve ser o respeito pelos versos e melodia. Às vezes menos é mais. O que se ouviu no vídeo, foi o que se ouviu no local e os assobios ouvidos no final, não foram orgulho. É de facto um perda de tempo do tribunal. Se houve, segundo a dupla num programa televisivo "problemas com a equipa de som" esta dupla, deveria responsabilizar essa equipa. Não acredito que a humorista, tenha tanta influência num povo se a má prestação da dupla, é unânime. Como portuguesa a viver fora de Portugal, ouvir o Hino Nacional é nostalgia é ficar um pouco mais perto e quando ouvi a abertura desta competição, no dia da competição antes da divulgação deste vídeo e foi doloroso, decepcionante e vergonhoso. São dois homens grandinhos o suficiente para assumirem que não foi uma boa atuação que estão a tentar encontrar um culpado para a incompetência deles ou da equipa de som.
  • Clara Boita
    20 jun, 2025 Caldas da rainha 09:48
    Lamentável!! Força Joana 🥰
  • Joao Dente
    19 jun, 2025 Almada 14:25
    É melhor começar a treinar o decatlo e a maratona. Pode ser que os ajude depois do julgamento. Triste de quem contratar estes fulanos.Fracos e baixos. Poder de encaixe zero.Oportunismo com nível elevado
  • Alexandra
    19 jun, 2025 Porto 12:41
    Concordo com a Joana Marques , uma perda de Tempo para a justiça !
  • Carpen7er
    19 jun, 2025 Sintra 09:11
    Não disseram não. Disseram "Igreijos". Agora o som é que paga. Toda a gente ouviu e viu a prestação miserável destes dois tristes que foram afectados por um ataque de caspa.
  • Natália Gonçalves
    18 jun, 2025 Vila Franca de Xira 18:48
    Que ridículo! O que as pessoas fazem por dinheiro! Não era mais fácil trabalharem? De anjos não têm nada! Como diz Joana Marques “ isto é só uma perda de tempo “ … espero que dê matéria para humor com fartura !
  • Ana
    18 jun, 2025 Açores 09:30
    Oi, acho que não se trata de descaracterização do vídeo ou piada de mau gosto e sim de uma ilegalidade por parte dos Anjos que alteraram o hino na sua essência ( e sim vi o original e foi horrível) com pessoas a serem presas ou multadas por queimarem a bandeira e, apesar de gostar dos Anjos, eles é que deviam pagar uma coima por "queimarem" o hino nacional!

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