04 set, 2025 - 22:59 • Diogo Camilo , Sérgio Costa
O Elevador da Glória opera em Lisboa desde 1885, descendo e subindo a calçada que liga a Praça dos Restauradores ao Jardim de São Pedro de Alcântara ao longo de 265 metros.
Com duas carruagens interligadas, ambas deslocam-se em sentidos opostos e cruzam-se a meio do percurso, enquanto uma sobe e outra desce.
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O acidente de quarta-feira à tarde, 3 de setembro, que provocou pelo menos 16 vítimas mortais, aconteceu com a carruagem no topo da Calçada da Glória, que desceu cerca de 200 metros a uma velocidade considerável, dada a inclinação média de 17%, embatendo com estrondo no prédio em frente.
Esta não é a primeira vez que ocorre um acidente na mesma linha: em maio de 2018, uma das carruagens descarrilou devido a falhas na manutenção das rodas. Ninguém morreu e um mês depois, os ascensores já estavam em funcionamento outra vez.
À Renascença, o professor no Instituto Superior Técnico Carlos Oliveira Cruz explica que o elevador de Lisboa é semelhante ao de muitos espalhados pelo país, incluindo em Braga, Porto e na Nazaré.
"É um sistema que consiste, do ponto de vista do seu funcionamento, num princípio muito simples, que é um sistema em que existem dois veículos que estão ligados por um cabo e em que é o peso dos próprios veículos que funciona para atuar a subida de um dos veículos. Isto é, funciona num sistema de pêndulo. Há um veículo que está em cima, um veículo que está na zona de baixo e o cabo que os liga transmite a força quando o veículo de cima começa a descer, com o seu peso a puxar o veículo que está em baixo", explica.
Quando o sistema foi criado, era usado o contrapeso da água, em que cada carruagem tinha grandes tanques de água na parte traseira e dianteira e a força da gravidade movia o sistema através do peso da água.
Numa atualização, o sistema foi convertido para tração a vapor, sendo movido a eletricidade desde 1915 - ou seja, há 110 anos. Na viagem de apenas cinco minutos, são percorridos pouco mais de 250 metros com uma inclinação média de 17% - passando dos 61 metros de altitude para os 17 metros de altitude, um desnível de 44 metros.
Carlos Oliveira Cruz explica que hoje em dia é o motor elétrico que coloca o pêndulo das duas carruagens em funcionamento, com grande parte da força de tração a ser feita pelo veículo que está em baixo.
24 horas depois do acidente com o Elevador da Glór(...)
O especialista em gestão de transportes fala numa "falha catastrófica" que esteve na origem do acidente e refere que o sistema pensado para o elevador tem uma lógica de funcionamento "muito distante daquilo que são os níveis de utilização e de carga que se verificam hoje em dia".
Entre os componentes do sistema de segurança do elevador estão o cabo de tração, que é responsável pelo movimento das carruagens, um sistema de travões e travões automáticos para o caso de falha dos anteriores.
Desconhece-se a razões do acidente ou se existia alguma falha em quaisquer destes sistemas, mas o descarrilamento poderá ter provocado o corte de energia, o que impossibilitou o funcionamento do sistema de travagem.