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Luís Montenegro. Um ano a tentar provar que é a alternativa de direita

01 jul, 2023 - 12:15 • Manuela Pires

Luís Montenegro está há um ano na liderança do PSD. A falta de clarificação sobre futuros acordos parlamentares com o Chega e a necessidade de se afirmar como alternativa à direita marcam este primeiro ano de mandato.

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Luís Montenegro saiu do congresso do Porto, a 3 de julho do ano passado, líder do PSD com sete temas prioritários para o país, que passavam pelo plano de emergência social ao combate “ao caos” na saúde e da redução da carga fiscal ao referendo à regionalização.

Apesar de ter garantido na altura que não se iria associar “a qualquer política xenófoba e racista”, um ano depois, o presidente social-democrata continua sem clarificar de forma explícita se fará acordos parlamentares com o Chega. Aliás, Luís Montenegro nunca diz o nome do partido de André Ventura.

A falta de clareza motivou inúmeras declarações de Luís Montenegro, que garantiu sempre que o PSD “não fará acordos com partidos racistas e xenófobos”.

Com a maioria absoluta do Partido Socialista (PS), e sem assento no Parlamento, Luís Montenegro percorreu o país, na iniciativa “Sentir Portugal”, visitou cidades e vilas numa aposta na proximidade do líder social-democrata com as populações.

Mas em março deste ano, Montenegro recebe uma farpa do Presidente da República. Em entrevista à RTP e jornal Público, Marcelo Rebelo de Sousa diz que à direita não existe ainda “alternativa política”. Um mês depois, o líder do PSD é recebido em Belém, já antes tinha garantido aos jornalistas que estava pronto para ser “alternativa” ao Governo.

"O PSD é oposição ao Partido Socialista e só ao PS. O PSD e o seu líder não estão no bolso de ninguém, o PSD é a alternativa a este Governo e está pronto para governar. Estamos prontos para assumir todas as consequências da alternativa quando for oportuno”, disse Luís Montenegro, depois de o Presidente ter afastado o cenário de dissolução do Parlamento.

Ao longo da crise entre São Bento e Belém, Luís Montenegro nunca pediu eleições antecipadas e, apesar de ter sido desafiado pelo Chega, nunca apresentou uma moção de censura ao Governo. Destes dias ficou o almoço com o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, onde à mesa estiveram várias matérias que unem os dois partidos.

Hora da Verdade com Luís Montenegro
Hora da Verdade com Luís Montenegro

Casos Tutti Frutti e Vórtex no caminho do líder

Ao longo deste ano, a liderança do PSD teve ainda de lidar com casos de justiça em que estão envolvidos militantes do partido.

Um deles, a operação Vórtex em que é arguido Joaquim Pinto Moreira, um dos vice-presidentes da bancada parlamentar, ex-autarca de Espinho e amigo de Luís Montenegro, que chegou a suspender o mandato, mas que regressou ao Parlamento contrariando o líder que lhe retirou a confiança política.

Outro caso, Tutti Frutti, levou o líder do PSD a ordenar a abertura de um inquérito interno sobre os termos em que foram escolhidos os candidatos autárquicos em Lisboa em 2017, provocando desconforto na própria bancada parlamentar, tendo em conta que um dos alegados envolvidos é Carlos Eduardo Reis.

Este deputado, um dos desalinhados do grupo parlamentar, afeto à linha da anterior direção de Rui Rio, sentiu-se atingido pelo modo como o líder da bancada do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, abordou o tema num debate com o primeiro-ministro sem lhe ter dado “uma palavra” prévia.

Sem programa de Governo, com propostas na Habitação e no combate à carestia

Luís Montenegro tem sido acusado, ao longo deste ano, pelo Governo e pelo Partido Socialista de não apresentar propostas alternativas nem de ter um projeto para o país.

Quando passa um ano do congresso do Porto, o PSD destaca 15 “políticas públicas” que apresentou. Logo no verão passado o programa de emergência social, o IRS Jovem, a redução de IRS e IRC, o pacote de medidas na Habitação e garantir um médico de família para todos os portugueses.

Neste pacote de medidas estão também as propostas do PSD para a revisão constitucional, onde o partido defende o voto a partir dos 16 anos, mas que não tem acolhimento por parte do PS. Na área da saúde, o PSD tem defendido o reforço do Serviço Nacional de Saúde, que deve abrir caminho a mais parcerias com os setores social e privado.

Ao longo de um ano, Luís Montenegro teve alguns encontros com o primeiro-ministro, mas o único ponto em que os dois chegaram a um acordo foi sobre o novo aeroporto de Lisboa.

Com a oposição interna circunscrita a algumas vozes do grupo parlamentar, Luís Montenegro recebeu em maio o apoio de Cavaco Silva, que garantiu que o líder do PSD está preparado para governar. Três dias depois o líder do PSD foi às jornadas parlamentares na Madeira dizer que “está a chegar a nossa vez”, a vez do PSD ser poder.

As eleições europeias de junho do próximo ano deverão ser uma prova de fogo para a liderança de Montenegro, que têm sido vistas como uma espécie de intercalares antes das legislativas.

Em março, o próprio líder do PSD disse ambicionar a vitória nas europeias e que nunca ficará se não for desejado.

“Eu nunca estarei nos sítios onde as pessoas não desejam que eu esteja, eu não sou daqueles que perde e quer ainda assim governar à força, esse tipo de postura política não é para mim”, assegurou aos jornalistas em Genebra.

Mais recentemente, em entrevista à RTP, Montenegro rejeitou que uma derrota nas eleições europeias do próximo ano signifique a demissão do cargo e que perder por pouco não é um mau resultado.

“O PSD perdeu as últimas eleições europeias por 12 pontos percentuais, se o PSD ficar a dois ou três pontos, acha que é mau resultado? Eu não acho. Mas não é esse resultado que eu quero. As europeias são para ganhar”, disse Luís Montenegro.

A comissão de inquérito à gestão da TAP, as secretas e a desconfiança no SIRP

Os últimos meses de liderança de Luís Montenegro ficaram ainda marcados pela comissão de inquérito à gestão da TAP, primeiro com a mira apontada aos socialistas Fernando Medina e Pedro Nuno Santos, e que depressa desfocou para o ministro João Galamba.

A atuação do Serviço de Informações de Segurança (SIS) na recuperação de um computador do Estado fez Montenegro chocar de frente com o primeiro-ministro, a quem o líder do PSD pediu por telefone e por carta que demitisse a secretária-geral do SIRP e que António Costa negou por duas vezes.

A posição da direção do PSD sobre a atuação das secretas foi, entretanto, colocada em causa por alguns deputados sociais-democratas, sendo a voz mais pública o ex-líder parlamentar social-democrata Paulo Mota Pinto que disse, em entrevista à Renascença, e ao Público, que não há "razão" para a demissão de Graça Mira Gomes.

Na carta que enviou ao primeiro-ministro a retirar a confiança à secretária-geral do SIRP, Luís Montenegro também diz que o PSD irá apresentar uma proposta para mudar o regime de fiscalização das secretas. Alterações para serem apresentadas "oportunamente", mas que ainda não se conhecem.

Miranda Sarmento fica ou sai? O "não assunto"

O primeiro ano de mandato de Luís Montenegro coincide, praticamente, com a pausa dos trabalhos parlamentares para férias, altura também em que começam a surgir notícias sobre uma alegada "saída limpa" do líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, alvo de críticas sempre mais ou menos veladas dentro da própria bancada.

A direção do PSD tem segurado o líder da bancada e o próprio disse na última reunião com os deputados que vai "cumprir o mandato até ao fim”, afastando a hipótese de sair após as férias de verão. Tal como a Renascença deu nota, nenhum deputado pediu a palavra depois desta posição de Miranda Sarmento.

Miranda Sarmento, de resto, já o tinha deixado claro no programa da Renascença "São Bento à Sexta".

"Não há ninguém que tenha maior desapego pelo lugar do que eu, até porque a minha carreira académica é curiosamente do outro lado da rua. O ISEG fica do outro lado da rua, já fiz as minhas provas de agregação, estou a aguardar concurso para catedrático. Mas enquanto sentir que a esmagadora maioria dos meus colegas - e sinto isso - confia em mim, eu serei líder parlamentar. No dia em que a maioria dos meus colegas não confiar em mim, então aí não tenho condições”, garantiu Sarmento.

Fontes parlamentares contactadas pela Renascença, dizem que a alegada "saída limpa" de Miranda Sarmento após o verão é um "não-assunto", o mesmo vale dizer que a direção de Luís Montenegro não vê no líder parlamentar um problema. Pelo menos, para já.

Comentários
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  • José J C Cruz Pinto
    02 jul, 2023 Ílhavo 08:54
    Lá tentar, tenta ...
  • Cidadao
    01 jul, 2023 Lisboa 13:02
    Está a anos-luz de ser primeiro ministro. Nem plano para o País, nem alternativa de governo, nem diz ao que vem, nem o que faria de diferente - a começar por correr com os xuxas que enxameiam o aparelho de Estado - se chegasse ao governo. Só faz uma "oposição" amorfa do tipo vai-a-todas mas da qual ninguém retém uma ideia que seja. Sá Carneiro, com tudo o que se está a passar, já teria "crucificado" António Costa e trucidado o governo, "obrigando" Marcelo a uma dissolução e marcação de Eleições antecipadas. PSD atual? Foge de Eleições antecipadas porque nada tem para mostrar, e até ver está a ser um fiasco.

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