11 set, 2023 - 07:32 • Susana Madureira Martins
A campanha eleitoral na Madeira arrancou este domingo e o líder do PS-Madeira recusa falar num novo desaire do partido que lidera ou fazer "futurologia" sobre o dia a seguir às eleições regionais de dia 24 deste mês. Não fala por isso de coligações pós-eleitorais ou do seu próprio futuro em caso de derrota. Em entrevista à Renascença, Sérgio Gonçalves considera que tem "soluções muito concretas" para convencer os madeirenses.
O líder do PS-Madeira é militante socialista desde 2019, tem sido alvo de críticas internas de alguns dirigentes do partido, sendo o mais audível Carlos Pereira, o antigo líder regional e deputado à Assembleia da República. Sérgio Gonçalves recusa que vir de fora do aparelho partidário lhe mine o caminho ou que lhe confira o estatuto de "outsider".
Tem alguma expetativa de vitória nestas eleições ou já não é mau tirar a maioria absoluta a Miguel Albuquerque?
A nossa expectativa neste momento é de merecer a confiança dos madeirenses em função das soluções que temos vindo a apresentar. A Madeira é um território que tem alguns dos índices de pobreza mais elevados do país, que tem os rendimentos médios mais baixos do país que viu emigrar 17.000 pessoas nos últimos 10 anos, que tem graves problemas no acesso à habitação, tem um sistema regional de saúde que não funciona, onde as listas de espera se vão acumulando e são o dobro daquilo que eram quando Miguel Albuquerque se tornou Presidente e nós temos soluções concretas para cada um destes problemas para mudarmos efetivamente a vida dos madeirenses e dos portosantenses para mudarmos a Madeira.
Esse é o nosso grande foco neste período de campanha até às eleições regionais, confiantes de que, com estas soluções seremos merecedores do voto dos madeirenses. Em 2019, estivemos muito próximos de concretizar a mudança na Madeira e esperamos que agora, a 24 de setembro, isso seja uma realidade.
Os resultados eleitorais determinarão a composição do Parlamento, a possibilidade de formarmos governo. Acreditamos que essa é uma possibilidade real, que podemos tirar a maioria absoluta, já não é de um único partido. Em 2019 era apenas do PSD. Hoje em dia já é de uma coligação PSD e CDS. Acima de tudo podemos mudar a governação regional, poderemos ter um governo liderado pelo Partido Socialista.
"Foram gastos quase 900 milhões de euros em obras perfeitamente inúteis. Dava para três hospitais"
Há quatro anos, o então líder do do PS-Madeira, Paulo Cafôfo, na reta final da campanha, dizia com alguma ironia que faltava um danoninho para o PS ganhar as eleições na região. Desta vez, falta mais do que um danoninho?
O que nós temos são soluções muito concretas para os problemas dos madeirenses e, portanto, eu diria que não nos falta nada. Só nos falta uma oportunidade dada pelos madeirenses nas próximas eleições, a 24 de setembro, porque nós temos a certeza que temos o programa. Temos as pessoas capazes de implementar estas soluções.
Soluções como a implementação de tempos máximos de resposta na saúde para reduzir as listas de espera, dar previsibilidade e garantir que os madeirenses têm acesso ao sistema de saúde. Prioridade também à habitação, não apenas aos incentivos à habitação cooperativa, mas também realocar verbas, porque a Madeira tem tido recursos financeiros abundantes, mas não têm construído habitação, não tem sido capaz de dar resposta a estes problemas e, portanto, nós queremos também celebrar contratos.
Também temos uma proposta fundamental para aumentar os rendimentos dos madeirenses, que é a redução de impostos imediata. A lei permite que as regiões autónomas reduzam os impostos relativamente ao que se pratica no continente português em 30%. Isso não é uma realidade na Madeira em termos de IRS, não é uma realidade em termos de IVA e é uma promessa para cumprir no primeiro dia, no primeiro orçamento regional que for apresentado por um governo liderado pelo Partido Socialista.
A baixa de impostos é um dos seus compromissos eleitorais. Dá prioridade ao IRS ou ao IRC ou a um modelo combinado de alívio fiscal?
Neste momento, a legislação não nos permite ir mais além em termos de IRC, mas permite-nos no IRS reduzir em cinco dos nove escalões existentes. É preciso recordar que os madeirenses pagam mais IRS em cinco dos nove escalões do que os açorianos e no IVA nós temos a possibilidade de reduzir as taxas que neste momento são de 5%, 12% e 22% para 4%, 9% e 16%. Na taxa normal é uma diferença substancial de 22% para 16%.
Tem acusado a governação de Miguel Albuquerque de promover um regime de dependências na Madeira. Os madeirenses têm a mesma perceção que o PS sobre a governação?
Nós temos andado nas ruas de há largos meses a esta parte a ouvir as pessoas numa lógica de proximidade, não apenas proximidade com as pessoas, mas com os seus problemas, com as suas preocupações. Nós apercebemo-nos que estão verdadeiramente cansadas deste regime, estão cansadas das opções do atual governo e os resultados estão à vista.
Quando nós falamos de obras inventadas ou obras desnecessárias, é preciso ter em conta que, ao longo dos últimos 20 anos, foram gastos quase 900 milhões de euros em obras perfeitamente inúteis. Todas estas verbas permitiriam, por exemplo, que a Madeira já tivesse um novo hospital. Está a ser construído um novo hospital, com um custo de 350 milhões de euros suportado a 50% pelo Estado português, pelo Governo central. Mas as verbas que foram verdadeiramente desbaratadas ao longo das últimas décadas dariam para nós termos não um, mas três hospitais e já construídos há muito tempo.
Os madeirenses conhecem aquilo que foi feito no passado, querem algo diferente e também já perceberam uma mensagem muito clara: o único voto que pode concretizar essa mudança é o voto no Partido Socialista. Caso contrário, podem ver-se numa situação semelhante àquela que aconteceu em 2019. A maioria dos madeirenses queria, mas o CDS traiu o seu histórico de oposição na Madeira, traiu aquilo que defendeu durante décadas na Madeira, aliou-se ao partido do poder e hoje em dia não há qualquer distinção entre PSD e CDS na Madeira.
Tornou-se militante do PS em 2019. Sente-se que o Partido Socialista o trata como um "outsider" e que, não tendo crescido no aparelho, não tem o apoio que seria suposto?
Aquilo que os madeirenses precisam de quem está na política é de competência para resolver os problemas e de competência para encontrar soluções. Essas competências não se adquirem no carreirismo partidário, na juventudes partidárias, com todo o respeito por quem lá passa, são percursos também legítimos e importantes. Mas adquire-se sobretudo com experiência profissional nas mais diversas áreas. Algo que eu tenho, passei por diversas empresas. Fiz toda a minha carreira no mundo empresarial, na Madeira, fora da Madeira, sempre em ambiente multinacional e sinto que chegou a altura de colocar essa minha capacidade de trabalho ao serviço da minha terra.
Não sinto, de forma alguma, que seja um "outsider" em termos do partido. Pelo contrário, sou muito bem acolhido. Integrei um projeto em 2019, como independente, precisamente por ter essas características que o partido entendia ser necessário. O Partido Socialista da Madeira continua a ser um partido aberto à sociedade civil que, felizmente, continua a agregar novos quadros.
"Temos uma proposta fundamental para aumentar os rendimentos dos madeirenses, que é a redução de impostos imediata"
Pergunto-lhe isto porque é conhecida a relação tensa que tem com Carlos Pereira, o antigo líder do PS Madeira e atual deputado ao Parlamento nacional. Sente que dentro do partido lhe minam o caminho?
O partido está mobilizado, unido em torno de um objetivo. Não há quaisquer quezílias pessoais, aliás, nunca foi a minha forma de ser ou de estar na vida nas empresas e também não é na política. Nós somos um partido plural. Há divergências de opinião que são também perfeitamente naturais e só um partido que não respeite os valores democráticos e que não respeite divergências de opinião é que não ouve aquilo que outros possam ter a dizer e que possam ser diferentes daquilo que nós pensamos.
Mas neste momento nós temos uma estratégia, um programa eleitoral com soluções para os madeirenses, com respostas para os problemas concretos da Madeira. Não acredito que haja um único militante do Partido Socialista que não esteja a apoiar e a desejar o melhor resultado possível para o Partido Socialista e que permita pela primeira vez a alternância democrática na Madeira e ao Partido Socialista ser Governo aqui também na região.
Se não ganhar as eleições, o PS e o próprio Sérgio Gonçalves, o que é que acontece? Mantém-se com o líder do PS Madeira, demite-se?
Neste momento não faço futurologia. O meu foco é apresentar as soluções ao máximo de pessoas, é por isso que ando na rua todos os dias em ações de campanha em comícios em diversos eventos que temos organizado junto dos jovens, junto da nossa diáspora, junto dos mais idosos, junto da população ativa que trabalha e que tem baixos rendimentos, junto daqueles que têm dificuldades de acesso à habitação ou à saúde. Esse é o meu foco até ao dia das eleições.
O resultado eleitoral determinará aquilo que possa ser a possibilidade de formar governo ou não. Respeito e respeitarei sempre a vontade popular expressa no voto, mas neste momento não faço futurologia relativamente a coligações pós eleitorais, a maiorias absolutas, a resultados mais ou menos positivos, porque estou acima de tudo, confiante num bom resultado do Partido Socialista, num resultado que permita ao Partido Socialista governar, porque as pessoas sabem que onde o Partido Socialista governa, as pessoas vivem melhor e é isso que nós queremos também para a Região Autónoma da Madeira.