03 out, 2023 - 19:47 • Pedro Mesquita
O 25 de Novembro não é uma data de dissonância, a não ser para o Partido Comunista Português, diz, à Renascença, Manuel Braga da Cruz.
O historiador sublinha a importância desta data que considera ter sido decisiva para salvaguardar a democracia que nasceu na Revolução e não compreende, por isso, a decisão - anunciada pelo presidente da Assembleia da República esta terça-feira - de apenas incluir no programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril "as datas e os eventos que tenham uma leitura consensual", no Parlamento.
O historiador considera que não faz sentido "marginalizar", "escamotear", "esquecer" o 25 de novembro, nas comemorações, e classifica a opção como "muito pouco consensual", porque evocar o 25 de Abril, e o começo da transição para a democracia, pressupõe analisar todos os seus passos: “O 28 de setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro”.
Manuel Braga da Cruz recorda que a decisão não é nova, aconteceu o mesmo há cinco anos, na altura da "geringonça", que pressupunha o apoio do PCP ao Governo.
Hoje, conclui o historiador, não faz sentido porque, diz, "não foi essa a atitude que o PS assumiu, quer no próprio 25 de Novembro, quer nos anos subsequentes".
Enquanto historiador, como olha para a exclusão do 25 de novembro do programa comemorativo, no Parlamento, dos 50 anos do 25 de de abril?
O 25 de Abril, iniciou um processo de transição do autoritarismo para a democracia, que teve marcos históricos importantes. Desde o 28 de setembro até ao 11 de março e culminando no 25 de novembro.
Portanto, nenhuma destas datas pode ser ilidida ou esquecida, porque o 25 de abril tinha um ideário que foi pervertido e foi reposto pelo 25 de novembro. Creio que evocar o 25 de abril e o começo da transição para a democracia pressupõe analisar todos esses passos: O 28 de setembro, que culminou com a demissão do general Spínola; o 11 de março, que abriu caminho à revolução no sentido comunista em Portugal e que foi parada, barrada, com o 25 de Novembro. De maneira que não faz sentido nenhum escamotear, esquecer.
A palavra pode ser censurar?
Eu não sei se é censurar. Agora, é, seguramente, marginalizar uma data particularmente significativa no processo de democratização em Portugal.
Mas, sendo a casa da democracia a tomar esta decisão...surpreende, 50 anos depois?
Olha, eu acho que é uma decisão muito pouco consensual. O grande consenso que existe à volta da democracia, e até da Constituição, embora aí com algumas limitações significativas, é um consenso democrático.
O 25 de novembro não é uma data de dissonância, a não ser para o Partido Comunista Português. O Partido Socialista não tem nenhuma dissonância histórica com 25 de novembro.
Consegue compreender que o próprio Partido Socialista, elementos do PS, admitam assinalar apenas eventos meramente consensuais?
Esta posição não é nova. Esta posição já foi tomada há cinto anos.
Na altura, a justificação era claramente determinada pela coligação que então existia, aquilo a que se chamava a “geringonça”, e que pressupunha o apoio do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda ao Governo de António Costa.
Na altura foi a “realpolitik”, mas agora faz sentido o PS virar as costas à sua própria história?
Exatamente. Não. Eu acho que hoje não se percebe.
Não foi, seguramente, a atitude que o Partido Socialista assumiu, quer no próprio 25 de Novembro, quer nos anos subsequentes.