02 fev, 2024 - 06:00 • Tomás Anjinho Chagas
Onde há fumo há fogo? É a suspeição que o PS tenta lançar sobre o PSD nos Açores. Nas derradeiras horas da campanha para a Assembleia Legislativa Regional açoriana, os socialistas polarizam a campanha e ameaçam com o "papão" da extrema-direita.
O Chega aparece, na maioria das sondagens, com força suficiente para condicionar as soluções e tudo aponta para que o partido seja necessário para uma solução de direita. Tal como fez António Costa em 2022, o PS procura assustar os eleitores com a possibilidade do Chega alcançar o poder.
“Nos Açores, o PSD inaugurou uma nova aliança política: o Chega-D, aliança entre o PSD e o Chega”, vociferou Pedro Nuno Santos durante o comício em Vila Franca do Campo, perante centenas de militantes socialistas, esta quinta-feira à noite. A sua chegada foi atribulada, tendo sido recebido por dezenas de polícias em protesto.
“Aquilo que está em causa nestas eleições é se teremos o próximo governo regional com o Chega”, afirmou mais cedo Vasco Cordeiro, durante uma ação de campanha no Mercado de Santana.
A tónica expõe a estratégia: afastar os eleitores que estejam a pensar em votar no PSD com o medo de que o Chega tenha de ser implicado. Culminou na maioria absoluta do PS m 2022, resta saber qual é o efeito que tem num arquipélago em que o Chega já integrou um acordo durante mais de três anos.
Na última semana, Vasco Cordeiro sugeriu que o PSD e o Chega já têm um acordo secreto para o pós-eleições. A insinuação deixou os adversários irritados, tanto que José Manuel Bolieiro, atual líder do governo regional, apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE). Mas o tema não esvaziou aí.
Esta quinta-feira, uma coincidência geográfica destapou novamente o assunto. PSD, PS e Chega estiveram em ações de campanha no Mercado de Santana e a "reunião secreta" impôs-se.
Vasco Cordeiro serpenteou as bancadas verdes preenchidas com frutas e legumes, e o carinho de alguns açorianos podia ser visto pela palavra com que se dirigiam a ele: "Sr. Presidente....", numa alusão ao período entre 2012 e 2020, em que foi efetivamente líder do governo açoriano. Voltar a essa cadeira é o objetivo: "O Presidente da Confiança", é o que se lê nos cartazes do PS espalhados pela região autónoma.
"Não há nenhuma declaração da coligação [PSD/CDS/PPM] nós não faremos [acordos com o Chega]. Estou convencido de que esse acordo e essas conversações já existem", afirmou Vasco Cordeiro quando questionado pela base com que sugeriu esta ideia. E sobre a queixa de Bolieiro à CNE? "É um direito que lhe assiste", secou o candidato socialista.
Ostentando a qualidade dos produtos agrícolas do arquipélago, e aproveitando o facto de a manifestação dos agricultores não ter atingido os Açores, o líder do PSD/Açores ia devolvendo o ânimo aos que passam os dias no mercado: "Assim é que é: trabalhar. A gente cria riqueza é com trabalho", disse bem-disposto, sobrevoando uma das suas bandeiras, o combate à subsidiodependência na região.
A boa disposição esgotou-se nas respostas aos jornalistas: "Não participo em mais especulações [sobre a reunião secreta e entendimento com o Chega], mas evito qualquer insinuação, como aconteceu de forma soez durante este final de campanha eleitoral”, atirou o presidente do governo regional.
Irritado, sugeriu que a comunicação social "às vezes" parece estar "aliada ao Chega" por estar sempre a colocar questões sobre os cenários pós-eleitorais.
O chefe do executivo açoriano garantiu ainda que "não está no seu cenário" incluir o Chega num futuro governo - condição onde André Ventura diz ser intransigente.
Depois de elogiar as bananas que "parecem docinhas", Ventura azedou para comentar a reunião secreta. "Esse encontro não aconteceu, foi desmentido. É o Partido Socialista, mais uma vez, preocupado que o Chega chegue ao governo dos Açores", ricocheteou.
Mais à frente perguntaram ao líder do Chega sobre o pós-eleições e a falta de respostas do PSD: "Isso vamos ver no domingo", respondeu com uma estranha tranquilidade.