13 dez, 2024 - 07:00 • João Pedro Quesado
As eleições autárquicas de 2025 apresentam um risco para o PCP, que se reúne a partir desta sexta-feira e até domingo, em Almada, no 22.º Congresso.
O partido preside, através da CDU, a 19 câmaras municipai, mas 11 presidentes não se podem candidatar em 2025 por terem atingido o limite de três mandatos consecutivos. Para agravar o cenário para os comunistas, em 2021, a CDU perdeu votos em 10 dessas 11 autarquias.
“Quem não está preocupado, está distraído”, disse Paulo Raimundo sobre as perspetivas eleitorais do PCP, durante uma entrevista à Renascença dos três mais recentes secretários-gerais do PCP no Forte de Peniche.
A estratégia foi delineada de seguida: “Temos 19 autarquias e nós vamos bater-nos para as manter. Vamos procurar disputar outras autarquias a partir de vereações, juntas de freguesia”.
Nas eleições de setembro de 2021, a CDU perdeu sete autarquias (e ganhou outras duas). Além da importante Loures e da historicamente comunista Vila Viçosa, foram perdidos três bastiões do PCP, onde o partido nunca tinha sido derrotado: Moita, Montemor-o-Novo e Mora.
Em 2025, há pelo menos outros três bastiões em risco, onde a atual liderança da autarquia não se pode recandidatar e a CDU perdeu votos nas últimas eleições: Arraiolos, Avis e Palmela. A CDU tem atualmente seis bastiões, contra nove do PS e nove do PSD.
No terceiro mandato consecutivo estão, também, os autarcas comunistas de Alcácer do Sal, Benavente, Cuba, Évora, Grândola, Monforte, Silves e Sobral do Monte Agraço. Alcácer do Sal é o único destes municípios onde a CDU não perdeu votos em 2021.
Na entrevista à Renascença, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, assumiu como objetivo reconquistar a Moita. Em 2021, a CDU perdeu pouco mais de dois mil votos no concelho do distrito de Setúbal, mas manteve os quatro vereadores que tinha - o PS, que passou a presidir à autarquia, também tem quatro vereadores, e o Chega tem um.
A situação de Loures não é muito diferente. A CDU perdeu votos e a autarquia para o PS, mas cada um tem quatro vereadores, e a margem de vitória dos socialistas em 2021 foi precisamente de 2.021 votos - cerca de 2,5 pontos percentuais.
O empate em vereadores também existe em Montemor-o-Novo, que a CDU perdeu em 2021 (com quase menos mil votos do que em 2017). Em Mora, a CDU tem apenas menos um vereador que o PS.
A potencial fragilidade da CDU nas eleições autárquicas de 2025 torna-se visível também por a coligação estar em minoria no executivo municipal de oito concelhos a que preside: Barrancos, Benavente, Évora, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal e Viana do Alentejo. À exceção de Évora, Setúbal, Palmela e do Seixal, são municípios pequenos, onde poucos milhares de pessoas votam e as diferenças de votos são diminutas, ultrapassando raramente as mil unidades.
O atual panorama autárquico do PCP e CDU é o pior em 50 anos de democracia - as 19 autarquias que lidera estão longe das 55 conquistadas em 1982, quando a coligação tinha o nome de Aliança Povo Unido (APU).
Se a CDU voltar a perder municípios em 2025, repete a pior série eleitoral para as cores comunistas em eleições autárquicas - quando o partido sofreu perdas consecutivas nas eleições de 1993, 1997 e 2001, baixando de 50 para 28 câmaras municipais.
Pelo caminho, vários bastiões foram caindo. Foi o caso, em 2017, de Almada e Castro Verde; em 2013, de Vendas Novas; em 2009, de Aljustrel, Beja (recuperado em 2013 e perdido em 2017) e Sines; em 2005, de Alcácer do Sal e Redondo; em 2001, Évora e Grândola (recuperados em 2013), Coruche, Barreiro e Barrancos (recuperados em 2005), e ainda o Alandroal.
Em 1997, foi a vez de Alpiarça, Amadora (onde a CDU vencia desde 1979), Cuba (recuperada em 2013), Odemira, Portel, Sesimbra (recuperada em 2005) e Vila Franca de Xira; em 1993, de Ponte de Sôr e Ferreira do Alentejo; em 1985, de Borba (recuperada em 1989), Estremoz (recuperada em 1993 e perdida em 2005) e Montijo (recuperado em 1989, perdido em 1997).
Em proporção, é a CDU que tem mais dos seus atuais presidentes de câmara impedidos de se recandidatarem em 2025 – quase 58%, quando o PS tem pouco mais de um terço dos seus líderes autárquicos nessa situação e, no caso do PSD, são 27%.