12 fev, 2025 - 06:55 • Manuela Pires
É o apoiante de primeira hora do almirante Gouveia e Melo à Presidência da República, mas defende em entrevista à Renascença que o PSD devia ter convencido Durão Barroso a entrar na corrida a Belém. Isaltino Morais tem a certeza de que o antigo presidente da Comissão Europeia iria aceitar o desafio.
O presidente da Câmara de Oeiras, que foi ministro do Ambiente de Barroso, vê no ex-primeiro-ministro a única figura do PSD com experiência política à altura que o cargo exige, depois de Leonor Beleza ter recusado.
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Isaltino Morais aconselha Gouveia e Melo a não apresentar a candidatura já, e esperar até maio. Quando isso acontecer, o autarca diz ter a certeza que “vai ser uma vaga de fundo imparável” em torno do antigo chefe da armada.
Foi um dos primeiros a vir a público apoiar uma candidatura de Gouveia Melo à Presidência da República e até já disse que vai ganhar à primeira volta. O que é que o almirante tem de tão especial?
Acho que o almirante tem tudo de especial no contexto em que se vão realizar estas eleições e o problema é que o PS e o PSD envolveram-se nestas eleições talvez com receio da possibilidade do almirante ser candidato. O PSD caiu numa armadilha, que foi a de dizer que tinha de ser um militante do Partido. O Partido Socialista também disse que ia escolher um militante.
No PSD, acabou por decorrer desta situação o anúncio do doutor Marques Mendes. Não deixa de ser um candidato de recurso, por muita vontade que o doutor Marques Mendes tivesse de ser candidato a Presidente da República e tem vindo a trabalhar nisso ao longo dos últimos anos.
O perfil traçado por Luís Montenegro já abria espaço e a porta à candidatura de Marques Mendes?
Não, não, cabem lá muitos. Quem são os candidatos naturais do PSD? Na minha opinião, o PSD tinha dois candidatos naturais: Leonor Beleza e Durão Barroso.
Leonor Beleza, até talvez pela idade e pelas funções que desempenha na Fundação Champalimaud, rapidamente se pôs de lado. Mas o doutor Durão Barroso não se pôs de lado e tem uma experiência política única em Portugal.
Foi líder do partido, foi primeiro-ministro, foi presidente da Comissão Europeia, esteve na Goldman Sachs, agora está nas vacinas. É um homem que tem uma dimensão intelectual, política. Ele sim, tem uma grande experiência política.
Mas ele quer ser candidato?
Se o PSD pretendia realmente um histórico, uma referência do partido, um militante, então deveria convencer o doutor Durão Barroso que tinha todas as qualidades para poder ser candidato, ele fez um lugar como presidente da Comissão [Europeia] notável, de grande prestígio também para Portugal, de maneira que tinham de o convencer.
E ele aceitava?
Estou convencido que ele não recusaria, porque nunca recusou prestar serviços ao seu país e seria a pessoa indicada.
"Durão Barroso, ele sim, tem uma grande experiência política"
Seria melhor candidato para enfrentar Gouveia e Melo?
Indiscutivelmente. O doutor Marques Mendes nunca ganhou uma eleição, foi apenas líder episodicamente. Não tem a dimensão política e intelectual do doutor Durão Barroso, quer dizer, com experiência política efetiva.
Já que fala em experiência. Daqui a um ano o país pode estar a atravessar uma crise política, sem Orçamento do Estado aprovado, e a campanha vai centrar-se na crise. Gouveia e Melo sabe o que o espera na gestão de crises políticas?
Neste contexto de candidatos partidários, com a confusão que reina no PS, as candidaturas começaram a surgir muito cedo. Na realidade, bastaria lá para maio começar a pensar-se no anúncio, mas o processo político acelerou-se.
Mas este calendário não terá sido condicionado pelo próprio Gouveia e Melo?
Não, mas isso é porque tiveram medo do almirante. Quer dizer, como recearam que o almirante aparecesse, tiveram pressa e quiseram marcar terreno. Mas quanto mais cedo aparecem, mais declarações fazem. E como são candidatos que não estão à altura, e quando eu refiro à altura não me refiro à questão física, refiro-me à questão intelectual. Para concluir, perante esta situação o almirante aparece absolutamente isolado perante a comparação das qualidades que ele tem.
Mas não tem experiência política e não se sabe o que pensa sobre vários temas?
E eu pergunto: conhece o pensamento dos outros? Ainda não vi nada, não vi nenhum dos candidatos pronunciar-se sobre saúde, sobre educação, sobre segurança social.
O almirante já demonstrou que é um homem que tem um sentido institucional extraordinário, já demonstrou que é um homem que gosta das pessoas, que é personalista, que é humanista, preocupa-se efetivamente com as pessoas.
E se pensarmos nos nomes até agora conhecidos, André Ventura, Mariana Leitão, Marques Mendes e eventualmente António José Seguro, o almirante tem o caminho feito para Belém.
"O doutor Marques Mendes nunca ganhou uma eleição"
Gouveia e Melo disse que estava de férias. E acha que ele as deve prolongar?
Eu acho que o almirante não precisa de anunciar tão cedo, não sei quando é que ele vai anunciar. Mas estão todos a pôr-se em bicos dos pés, a gritar 'almirante aparece', que é para ver se o almirante comete algum erro.
Ele devia esperar mais um pouco até para não se desgastar tanto durante uma campanha de um ano?
Sim, devia esperar mais tempo. Quando dizem que o almirante não tem experiência política, ele está a dar uma lição a todos eles. Porque, na realidade, eles não resistiram à ansiedade e vir para a praça pública anunciar as suas candidaturas. E o almirante mantém-se sereno, que é aquilo que um Presidente da República deve ser e perante os períodos conturbados que podem aparecer, a serenidade é aquilo que é preciso num Presidente da República.
E digo mais, vai haver uma vaga de fundo extraordinária, os portugueses vão ficar surpreendidos. Vou contar-lhe uma história. Sabe que eu faço experiências engraçadas e um destes dias entrei num restaurante e comecei a falar do almirante. E houve logo um casal que veio ter comigo a dizer que lá na família era tudo pelo almirante. E eu levantei-me e perguntei: 'quem é que apoia o Almirante?' Toda a gente e isso sente-se na rua.
Mas isso quer dizer que as pessoas estão fartas dos políticos?
Há uma diferença substancial e os candidatos que já se conhecem emergiram dos partidos. Aqui é o povo que quer alguém com o perfil do almirante. Por isso, assim que ele anunciar a candidatura, e vai ver o que eu lhe estou a dizer, vai haver uma vaga de fundo imparável.
Tem-lhe dado conselhos?
Não, não dou conselhos a ninguém. Gouveia e Melo é um homem de missão e tem uma perspetiva de Portugal muito ambiciosa, não tenho dúvidas que ele será um fator positivo, energético, junto dos partidos políticos e com ambição.
Os portugueses aperceberam-se dessas qualidades e os partidos também, por isso andam desnorteados.
O Partido Socialista está completamente desnorteado. O PSD está arrependido, não tenho dúvidas que o doutor Montenegro, se fosse agora, possivelmente não tinha escrito na moção que apoiava um candidato militante do PSD.
Depois de figuras como Ramalho Eanes, de um Mário Soares, de um Sampaio, de um Cavaco, e mesmo do Marcelo, convenhamos que nenhum dos candidatos que agora apareceu tem a dimensão intelectual e política, desses presidentes da República. Quem é que se parece mais com qualquer um desses nomes? É o almirante.