12 fev, 2025 - 06:00 • Manuela Pires
O presidente da Câmara de Oeiras recandidata-se a um último mandato e não esconde que ficava satisfeito com o apoio do PSD à sua candidatura independente. Em entrevista à Renascença, Isaltino Morais elogia Luís Montenegro que está a lutar no Governo para seguir uma política ao centro.
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Já anunciou a recandidatura à Câmara de Oeiras. Foi eleito pela primeira vez em 1985, em 2013 falha a eleições, mas depois de sair da prisão e de cumprir a pena volta a vencer em 2017, até agora. Já lá vão quase 40 anos. Este é o último mandato e gostava de ter o apoio do PSD?
Ter o apoio do PSD é mais uma questão psicológica porque, do ponto de vista do interesse eleitoral, eu julgo que os eleitores de Oeiras se habituaram de tal forma a votar em mim como candidato independente que, neste momento, não imaginam outra situação. Não me parece que, neste momento, seja relevante ter ou não ter o apoio do PSD.
Para si pode não ser relevante, mas para o PSD poderá ser relevante recuperar esta câmara na Área Metropolitana de Lisboa?
Sim, para o PSD poderá ser, mas eu não estou a ver qual seria o modelo. Sabe que hoje ser candidato por um partido é redutor, as pessoas estão habituadas a votar numa lista independente. Se existir essa hipótese de o PSD apoiar a minha candidatura teria de ser mesmo apoio do PSD ao candidato independente.
Mas a direção do PSD definiu que o partido pode apoiar candidaturas independentes?
Nesse caso não posso fazer nada, quer dizer, posso manifestar a minha satisfação pelo facto do PSD apoiar a minha candidatura, mas isso é um problema do PSD, não é meu.
Nos últimos tempos tem havido uma aproximação ao PSD, esteve no jantar de Natal do PSD Oeiras e nas últimas autárquicas a estrutura local queria que fosse o senhor o candidato e Rui Rio aceitava.
Sim, em 2021 estivemos quase. Mas o PSD, se pensar a longo prazo, obviamente que em 2029 eu não me posso candidatar e a disputa será mais renhida, e o PSD pode pensar que pode ganhar a câmara daqui a quatro anos e, para isso, é importante que tenha um bom relacionamento comigo.
Isaltino Morais tem um bom relacionamento com o PSD de Luís Montenegro?
Só houve dois dirigentes com quem não tive relacionamento, foi com o Marques Mendes em 2005, mas esteve pouco tempo e rapidamente foi substituído pelo Luís Filipe Menezes, e depois com Passos Coelho, já como primeiro-ministro. Com Rui Rio, com Luís Montenegro, antes e depois de eles serem líderes, sempre tive o melhor relacionamento. Repare, eu estava muito mais próximo do Rio do que do Passos Coelho, por uma razão muito simples, porque Rui Rio é um social-democrata e o Passos Coelho é um homem de direita.
E Luís Montenegro é social-democrata ou está mais à direita?
O Luís Montenegro é um homem que está a fazer um esforço de se recentrar, e, portanto, está ali numa tensão entre os que o puxam para a social-democracia e os que o puxam para a direita. Não é fácil o papel dele, mas julgo que ele está a fazer um esforço. É claro que, de vez em quando, tem de ter ali uns tiques à direita, porque a pressão do Chega é muita, mas acho que as políticas do Montenegro são, indiscutivelmente, políticas ao centro, centro-esquerda. Só assim é que se defendem os pobres, a classe média empobrecida e, portanto, não é com políticas de direita que se defendem os portugueses.
Mas voltemos às autárquicas. Já teve contactos com o secretário- geral do PSD com vista a um possível apoio à sua recandidatura?
Sim, não lhe vou dizer que não falamos, mas falamos cordialmente, mas sem aprofundar as situações. Quer dizer, até hoje nunca tivemos assim uma conversa, digamos, substancial sobre a matéria. Mas, como lhe digo, a metodologia a levar por diante ainda não foi estabelecida.
Mas o que responde a um convite formal para apoiar a sua recandidatura?
Que fico satisfeito, não lhe podia dizer mais nada. Neste momento, eu tenho oito vereadores em 11 e tudo indica, por aquilo que são algumas indicações que me chegam, que, provavelmente, até vou aumentar a representação. Se o PSD decidir, ‘vamos apoiar o Isaltino’, a única coisa que posso dizer é que fico satisfeito por isso.
E é gratificante voltar a estar ao lado do PSD no final da sua carreira autárquica?
Sim, desse ponto de vista, é gratificante, com certeza, reconhecerem ao fim de tantos anos.
"As pessoas não devem demitir-se dos cargos enquanto não forem julgadas"
Ao fim de nove anos, o Ministério Público deduziu acusação no caso Tutti-Frutti, são 60 arguidos acusados de vários crimes, entre eles corrupção, prevaricação e tráfico de influência. Nesta lista há quatro presidentes de junta de freguesia de Lisboa do PSD e dois deputados que vão suspender o mandato. Concorda que nesta fase do processo se exija a suspensão do mandato aos deputados?
Não conheço os contornos deste processo, se têm natureza criminal ou não, ou se são meras irregularidades administrativas, ou mesmo questões de ética. Considerando todos os processos que também já vivi nesta matéria, acho que estamos realmente a viver uma época muito complicada e que contribui não só para o descrédito da classe política, mas sobretudo cria alguns entraves a pessoas que, eventualmente, seriam capazes de ter vocação para desempenhar funções políticas, e que têm receio de o fazer porque ao mais pequeno deslize podem ser objeto de investigação, e hoje basta uma denúncia qualquer para isso acontecer.
Se cada vez que um político que é objeto de uma investigação, e é constituído, arguido ou acusado, se vai demitir do exercício das suas funções, então, nesse caso, estamos realmente a dar corpo àqueles que dizem que estamos a assistir a uma judicialização da política.
Mas o contrário também existe, a politização da justiça, aqui não há ninguém virgem. Eu nunca vi uma coisa assim como estamos a assistir nos últimos anos com os políticos a atirarem à cara uns dos outros que é arguido, desonesto.
Mas neste caso devem suspender os mandatos de deputados?
Ou a Assembleia da República legisla de uma forma muito assertiva e determina o que é que o Ministério Público pode ou não pode fazer, ou então é óbvio que as pessoas não podem demitir-se ou suspender mandatos enquanto não forem julgadas. E enquanto o crime não é provado em julgamento. E mesmo assim a justiça não é infalível, a justiça comete erros como outras dimensões da nossa vida.
Depois de alguém ser condenado, só depois é que se determina quais são as sanções acessórias.