10 mar, 2025 - 06:30 • Diogo Camilo
Um ano depois das legislativas de 10 de março, Portugal vê-se novamente no caminho de eleições. A reação dos portugueses ao terramoto político do último mês é ainda imprevisível, mas as primeiras sondagens começam a mostrar um reforço da confiança no Governo de Luís Montenegro - e uma penalização de todos os outros partidos, em particular o Chega e o Bloco de Esquerda.
Na atualização da Sondagem das Sondagens, o agregador da Renascença que junta todos os inquéritos de intenções de votos às legislativas, a AD surge à frente, com 32%, em empate técnico com o PS, que tem 28,4%, devido às margens de erro de ambos.
No entanto, a grande história é outra: depois de inúmeras notícias sobre a situação da Spinumviva, dos esclarecimentos de Luís Montenegro, de duas moções de censura, de um pedido de comissão parlamentar de inquérito e de um anúncio de moção de confiança do Governo, a coligação de PSD e CDS sai reforçada em 2 pontos percentuais - mais do que tinha subido em 11 meses de governação.
Quando ocorreu a primeira baixa do Governo, com a demissão de Hernâni Dias a 28 de janeiro, e quando foi noticiada pela primeira vez a empresa familiar do primeiro-ministro, a 15 de fevereiro, as intenções de voto da AD na Sondagem das Sondagens estavam nos 30%.
Na Sondagem das Sondagens, as intenções de voto na AD subiram 1,3 pontos na primeira sondagem, realizada pela Pitagórica para TVI, CNN Portugal, JN e TSF entre 23 e 27 de fevereiro, e subiram mais 0,7 pontos na segunda sondagem, realizada entre 3 e 6 de março.
A explicação para subir com a segunda sondagem, apesar do resultado mais baixo na primeira, está relacionado com a amostra mais fraca do primeiro inquérito (apenas 400 inquiridos), ao qual a Sondagem das Sondagens atribui um menor peso.
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Em relação às eleições de há um ano, a AD foi a segunda força política que mais subiu: de 28,8% para 32% são 3,2 pontos percentuais, para o melhor resultado da coligação na Sondagem das Sondagens desde a última semana de campanha nas últimas legislativas.
Já o PS permanece praticamente igual nas intenções de voto ao que estava antes de toda a polémica com a empresa familiar de Luís Montenegro. Os socialistas caíram ligeiramente com a primeira sondagem divulgada por TVI/CNN/JN/TSF - de 28,5% para 28,2% -, mas recuperaram para os 28,4% com a segunda sondagem.
Contas feitas, estão quatro décimas acima do que estavam há um ano, nas eleições legislativas de 10 de março de 2024.
Pode ver os resultados atualizados da Sondagem das Sondagens aqui:
Com a Aliança Democrática de PSD e CDS a reunirem 32% das intenções de voto, o segundo partido que mais cresceu no último ano é a Iniciativa Liberal: depois de 4,9% nas eleições legislativas subiram mais de um ponto e têm agora 6,1% na Sondagem das Sondagens.
Os dois mais recentes inquéritos não mudam muito a opinião sobre os liberais, mas fazem do partido o único que não caiu com a crise política - subiu uma décima.
E, mais importante, a Iniciativa Liberal está agora isolada como 4ª força política na Sondagem das Sondagens, não tendo nenhum partido da esquerda a fazer-lhe sombra através de margens de erro.
Através do seu líder, Rui Rocha, a IL já anunciou que irá votar ao lado de PSD e CDS no Parlamento na moção de confiança desta terça-feira e não é descabido começar a pensar num cenário de coligação ou acordo pós-eleitoral para formar maioria.
Olhando ao histórico das legislativas, e somando os 6,1% da IL aos 32% da AD, o resultado não fica longe dos 41,4% que o PS conseguiu em 2022 - e que deu a António Costa uma maioria absoluta, com 120 deputados.
Os dois partidos que mais caem na Sondagem das Sondagens têm em comum um início de ano complicado, a mãos com a justiça devido a polémicas que aconteceram dentro de casa.
O Chega, que teve 18,1% nas eleições de março do ano passado, caiu mais de dois pontos e está agora nos 15,8% no agregador da Renascença.
A primeira queda deu-se ao longo do ano, com eleições europeias decepcionantes pelo meio, e que levaram o partido de André Ventura a registar 17,4% das intenções de voto a 26 de janeiro.
MOÇÃO DE CONFIANÇA
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O caso de Miguel Arruda, acusado de roubar malas em aeroportos, foi noticiado na semana anterior, mas nenhuma sondagem captou a opinião do eleitoradoface aos acontecimentos seguintes - que resultaram na saída do deputado do partido.
Em fevereiro foram noticiados outros casos, como a acusação de prostituição de menores ao dirigente do Chega em Lisboa, Nuno Pardal Ribeiro, ou da investigação a um deputado, Pedro Pessanha, por violação de menor.
Com a sondagem desta semana da Pitagórica, o Chega é o que cai mais (1,5 pontos percentuais) na Sondagem das Sondagens e regista o seu pior resultado desde novembro do ano passado, depois de ter avançado com uma moção de censura em fevereiro e ter anunciado o voto contra na moção de confiança desta terça-feira, que levará à queda do Governo.
O Chega pode ser o partido que mais cai em termos absolutos, mas o Bloco de Esquerda parece estar a atravessar uma tempestade com as duas sondagens divulgadas este domingo.
Antes da crise política, o partido já era dos que mais caía em relação ao ano passado: intenções de voto de 4,0%, depois de 4,4% nas legislativas, para uma queda de quatro décimas. Nada de grave, mantendo-se acima de CDU e Livre, os adversários diretos pelos votos à esquerda.
No entanto, a crise política foi antecedida por uma crise interna: no final de janeiro, foram noticiados despedimentos de cinco trabalhadoras que ainda amamentavam e situações laborais questionáveis dentro do partido, que usa os direitos das mulheres e laborais como bandeira.
Crise política
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Mariana Mortágua e o BE começaram por desmentir as notícias, mas dias depois admitiu que o partido “não fez tudo bem”.
Com as duas sondagens conhecidas agora, os bloquistas caem na Sondagem das Sondagens para os 2,5% de intenções de voto, abaixo de CDU e Livre, que têm 3,3% e 3,2%, respetivamente.
A descida de 1,5 pontos percentuais num mês e de 1,9 pontos em relação às legislativas representa a percentagem mais baixa registada pelo partido na Sondagem das Sondagens, que agrega inquéritos desde 2016.
É preciso recuar às primeiras eleições do partido, em 1999 com Francisco Louçã, para encontrar um resultado em legislativas que se assemelhe às intenções de voto que o Bloco de Esquerda regista atualmente.