19 mar, 2025 - 16:01 • Sandra Afonso
Anunciou em 2023 que seria candidato à Presidência da República em 2026. Se alguém duvidou, fica desde já esclarecido. Tim Vieira diz à Renascença que decidiu avançar e “já não dá para ir para trás”.
O empresário já tem uma página oficial na internet e mais de metade das assinaturas necessárias. As restantes serão reunidas na rua e acredita que este não será um problema.
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Assume-se como independente, sem ligações a partidos, às forças armadas ou universidades. Garante ainda que irá pagar do próprio bolso a campanha, que deverá rondar 500 mil euros.
Admite ainda que a queda do Governo retira visibilidade aos candidatos presidenciais sem partido, porque Portugal vai ter quatro eleições em menos de um ano.
Ainda assim, o investidor, que participou no programa televisivo "Shark Tank" em 2015, defende o escrutínio e que os cargos governativos não sejam acessíveis apenas a políticos profissionais.
Acaba de lançar um livro com o título "O Melhor Está Para Vir". No seu caso, passa pela Presidência da República ou ainda está a ponderar a candidatura a Belém?
Não, a candidatura está em força, vamos avançar e vamos para Belém. Decidi avançar e já não dá para ir para trás. Começo a ter mais apoio e as pessoas vêm falar comigo e dizem que é preciso alguma coisa diferente, precisamos mudar. Fez-me mesmo acreditar que temos de fazer isso acontecer. Se não fizermos nada, somos parte do problema.
Para mim, isto é sério. Já temos assinaturas, já passamos de metade, estamos agora a começar uma campanha na rua para pedir mais assinaturas. As assinaturas não vão ser um problema.
E tem algum apoio partidário?
Não, sou independente. Não estou ligado a partidos, não estou ligado a grupos, não venho das mesmas universidades de muitos líderes que temos, não sou das Forças Armadas, sou mesmo um candidato sem partido e sem fardas. O meu único partido é Portugal. E eu acho que é isso que também me faz mais forte, posso trabalhar com os partidos todos, posso ouvir as pessoas nos partidos e posso trazer o foco do que é bom para Portugal e não para os partidos.
Estamos agora a ver os partidos a porem à frente as coisas partidárias, em vez de estamos a pôr o país. Vamos entrar em eleições outra vez e temos que começar a ver o que queremos em comum e focar nisso.
O impacto que teve no Governo a empresa familiar do primeiro-ministro fez com que reconsiderasse a candidatura à Presidência, sendo Tim Vieira um homem de negócios?
Acho que o escrutínio é fundamental na política e em tudo, mas também não devemos estar agora com medo de avançar porque achamos que temos de ser pobrezinhos ou ter poucochinho para entrarmos na política. Se começarmos a fazer isso, um dia vamos só ter pessoas que só podem viver da política e só podem estar na política. É preciso trazer o talento de todos os lados.
Se continuamos só à espera de pessoas que precisam de ser políticos para estar na política, se calhar vamos ter mais pessoas que roubam malas no aeroporto e pequeninos em pensamento. Eu acho que é uma mais-valia pessoas que fizeram acontecer, fizeram crescer, criaram impacto, lutaram para dar melhores condições a empregados, a clientes, a stakeholders, à comunidade.
"Sou mesmo um candidato sem partido e sem fardas"
E como é que vai financiar esta candidatura? Tem apoios?
A minha campanha sou eu, não tenho vergonha de dizer que estou a apoiar a minha própria candidatura. Não preciso estar a dizer que vou entrar em dívidas.
Ouvi Marques Mendes dizer que, se calhar, vai entrar em dívida para fazer a campanha dele, depois de ter tido uma vida como um advogado numa das grandes firmas de advogados. Não devíamos estar a dizer que vamos precisar de dinheiro para financiar as nossas campanhas. Se podemos e temos, devíamos avançar. Assim, até se calhar temos menos lobbies, menos agendas, menos pessoas a quem devemos.
E já tem uma estimativa de orçamento?
Sim, acho que hoje em dia uma campanha não pode ser por menos de 500 mil euros. Nós estamos também a fazer uma campanha um bocadinho de guerrilha, diferente, e estamos a usar os meios de comunicação social. E vamos ver como é que as televisões fazem isso acontecer, porque temos o direito de ser ouvidos.
A atual crise política e as eleições legislativas antecipadas deverão prejudicar a campanha para as presidenciais?
Sem dúvida. Eu já estava a querer ir com toda a força para a nossa campanha presidencial. Mas estamos agora com quatro novas eleições em 11 meses. Temos agora a 23 de março na Madeira. Dia 11 ou 18 as legislativas. Temos em setembro as autárquicas. Depois é que é em janeiro de 2026 as presidenciais.
É difícil para candidatos que não têm partidos, prepararem-se e serem ouvidos e isso tudo, com toda essa instabilidade na política. Mas, ao mesmo tempo, por causa dessa instabilidade na política, devemos procurar pessoas diferentes. Pessoas que vêm do negócio, de pagar salários e de pagar impostos, sabem que precisamos de um país mais estável. Um país que atrai investimento.
Agora vamos ficar, outra vez, em águas de bacalhau. Vai haver legislativas, não vamos ver nada acontecer. Estávamos a falar em aeroportos, pontes, túneis e comboios. Vamos parar tudo. E a verdade é que nada fica melhor. E isso não é o que os portugueses precisam.
Nasceu na África do Sul, mudou-se para Portugal há cerca de 10 anos. Como é que é ser "imigrante" em Portugal?
Eu acho que fui imigrante na África do Sul. Porque quando estava lá diziam que eu era português.
Aqui, obviamente, sempre fui muito bem acolhido. Nunca senti que não estava no meu país. Nunca senti que estava com alguma desvantagem. Pelo contrário, muitas pessoas, se calhar por estar cá, pensaram de uma maneira diferente. Por ter um network do mundo, ter já uma história, deram-me valor. Gostava de trazer esse mindset para o país e fazer acreditar que Portugal pode ser bom para imigrantes e emigrantes.
Estive agora em Genebra, onde a comunidade portuguesa quase sente que não querem que eles voltem para cá. Para regressarem, têm de pagar à volta de 40% da pensão. Subiu com as taxas, os impostos das pensões que vêm da Suíça. Eu acho que isso é uma vergonha e muito triste.
Portugal também precisa de imigrantes, mas que sejam legais, que respeitem os nossos valores, que dão valor às mulheres, que também não estão a mudar a nossa cultura.
Os nossos emigrantes lá fora são exemplares. São pessoas que investem, crescem e são parte desse país em que entraram.
Sente que o discurso anti-imigração que cresce na Europa também aumenta em Portugal?
Eu estava a mentir se dissesse que não. Por isso é importante pôr uma linha na terra e dizer como é o imigrante que nós queremos, precisamos, e a quem conseguimos dar uma vida melhor. Mas, antes de acontecer isso, também precisamos de ver como é que vamos tomar conta das vidas dos portugueses cá.
Eu acho que está a ser difícil nós termos essa resposta porque não há um plano. Nós não estamos a dar a melhor saúde aos portugueses, não estamos a dar melhor educação aos portugueses. Como é que vamos dar isso aos imigrantes?
Um dos negócios que tem em Portugal é uma academia, que até há pouco tempo não era reconhecida pelo Ministério da Educação, apesar de seguir um currículo e ter um plano de avaliações. Esta situação já está resolvida?
Essa situação está quase resolvida, agora não sei, porque estamos com o Governo, outra vez, basicamente a cair. Nem consigo responder e é isso que faz as coisas difíceis.
Temos mais de mil crianças, mais de dois mil pais, todos à espera e com expectativas. Foi a votos no Parlamento e não aconteceu. Sei que ia ser posta outra vez em votação, com algumas mudanças, e acredito que passava, mas agora está tudo no ar. Como é que conseguimos planear para o futuro, como é que conseguimos construir um futuro se nunca sabemos o dia da manhã.
"Não devemos estar agora com medo de avançar porque achamos que temos de ser pobrezinhos ou ter poucochinho para entrarmos na política"
Tem vários negócios, já investiu em diferentes áreas, considera-se um empresário de sucesso?
Já tive muito mais insucessos que sucesso. Às vezes precisamos passar os insucessos para termos alguns sucessos. Foi o que aconteceu. Falou na Brave Generation Academy, se calhar não é o negócio de mais sucesso em termos financeiros, mas é o projeto que está a ter mais impacto nas pessoas. Estou a criar impacto, eu acho que isso é sucesso.
Ficou conhecido dos portugueses pela sua participação no "Shark Tank", um programa de televisão em que alguns investidores avaliavam ideias de negócios onde podiam investir. Fez bons negócios na altura?
Houve negócios que eram pequenos. Eu acho que foi um programa muito importante para o tempo em que aconteceu, porque estávamos numa crise - parece que estamos sempre a voltar à crise - e os bancos não estavam a investir em negócios. Foi um dos sucessos deste projeto, as pessoas começarem a perceber que havia outras formas de financiamento.
Houve projetos que não tiveram sucesso, há outros que ainda estão a andar, e há outros que puxaram. Mas eu acho que é isso. Portugal não pode estar com medo do falhanço. Hoje temos de ter coragem e temos de experimentar e fazer acontecer, se queremos ter mais unicórnios, empresas que vão empregar melhor.
Continua a investir em projetos novos?
Agora, já não estou a investir tanto, estou mesmo concentrado na educação, porque o nosso projeto oferece bolsas, abrimos em campos dos refugiados, no Quénia, temos crianças no Afeganistão, temos várias iniciativas.
Ainda ouço muito o que está a acontecer no ecossistema dos negócios, porque eu sei que o futuro deste país é sobre essa criatividade, ainda gosto de estar com o pé no terreno.
E lança agora este livro, "O Melhor Está Para Vir". Como é que o podemos descrever? É autoajuda para empreendedores?
É um livro muito honesto, muito transparente, com histórias minhas, dos portugueses do mundo, histórias dos meus insucessos e como ultrapassá-los. É um livro de coisas pequenas que fazem grandes diferenças. É um livro sobre o futuro que eu acho que Portugal também podia ter.
É um livro que vai mostrar que a vida não é sempre o Facebook, o Instagram, onde está tudo perfeito, que passamos tempos difíceis e que precisamos de família, precisamos de amigos e precisamos de fé para ultrapassar esses desafios. É uma boa apresentação do Tim Vieira.