09 mai, 2025 - 19:35 • Alexandre Abrantes Neves
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Tem sido uma campanha em crescendo, pelo menos, na confiança e no reconhecimento nas ruas. O perfil de um Rui Tavares mais tímido e pouco conhecido da campanha das legislativas do ano passado desapareceu e o líder do Livre está outro – mais espontâneo, com mais críticas “soundbite” aos adversários e também mais ambicioso.
São tudo ingredientes para o banquete de festa que o Livre quer servir a 18 de maio – a quarta força política nacional. “É muito importante que o Livre dispute esse quarto lugar à Iniciativa Liberal (IL)”.
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A meta foi traçada na feira de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, num ambiente de palavras de apoio e de agradecimento a Rui Tavares pela atenção dada aos problemas dos feirantes. Desde aí, Rui Tavares tem esclarecido pouco mais, numa estratégia de quem não quer dar um passo maior do que a perna e tem medo de agoirar.
“Isso não dá sorte”, diz repetidamente Rui Tavares, perante as perguntas dos jornalistas sobre uma meta específica de deputados a eleger. Apesar de rejeitar convictamente comprometer-se com um número, o porta-voz do partido vai deixando pistas e, na visita a uma feira em Barcelos, convidou os jornalistas a “fazer as contas, como dizia o outro”.
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Com os objetivos já assumidos de eleger, pelo menos, três deputados em Lisboa, dois em Setúbal e no Porto e um em Aveiro, Braga e Leiria, a meta para a bancada parlamentar do Livre chega à dezena exata – mais do dobro dos quatro que existem atualmente.
A expectativa é ambiciosa, ainda para mais se se olhar para as sondagens que mostram que o objetivo de ser a quarta força política é difícil e que até pode ficar em sexto lugar, atrás da CDU. Perante os números, o porta-voz do Livre rejeita estar preocupado e diz que é apenas “uma questão de tempo” – e parece confiante de que isso vai acontecer, mesmo que seja só para próxima legislatura que “os portugueses queiram inverter o ciclo político”.
A estratégia para alcançar o objetivo parece ser virada mais para o exterior e para os adversários do que para o interior do partido. Rui Tavares tem falado inúmeras vezes de uma direita “a radicalizar-se” e – aproveitando a boleia da greve na CP e a polémica sobre a lei da greve – o líder do Livre elegeu agora um trocadilho de eleição: “Uma direita que não gosta de direitos”.
A frase promete prolongar-se até ao final da campanha, para se referir à AD e aos capítulos que ainda estão por escrever na greve da CP, mas também à IL. Os liberais tornaram-se no alvo predileto de Tavares, desde as críticas constantes ao “motosserrismo” até ao “perigo” da revisão constitucional desejada por Rui Rocha. A estratégia divide-se em dois ramos da mesma árvore – em parte, Tavares quer roubar ao homónimo o lugar de quarta força política, mas também pretende minar uma solução governativa à direita.
Essa seria, para o Livre, a cereja no topo do bolo: se a um reforço de votação se juntasse a entrada para uma gerigonça 2.0. O pedido tem sido feito diariamente por Tavares, que tem noção de que será um sonho impossível de alcançar se não tiver Pedro Nuno Santos a esforçar-se pelo mesmo e consciente de que também não governará sozinho.
O líder do PS já disse que está disponível para “dialogar com todos”, mas para o Livre isso não chega. Os apelos ao secretário-geral socialista são para deixar “um discurso derrotista” que “vinca o voto útil” e que tenta “inutilmente” concentrar o eleitorado à esquerda.
Sem grande troco do PS, Tavares tem reforçado que só é possível “mobilizar o eleitorado “e “virar o ciclo político” se os parceiros à esquerda se mostrarem prontos para uma alternativa clara, que dê condições de governabilidade – de alguma forma, também pedido pelo Presidente da República, quando disse que só empossava um executivo com estabilidade para governar.
“É muito importante que o Livre dispute esse quarto lugar à Iniciativa Liberal".
A tentativa de desconvencer o voto útil veio também para cima da mesa no comício de quarta-feira à noite em Braga, quando Tavares traçou diferenças com os restantes partidos à esquerda. Não se referiu a nenhum adversário em específico, mas definiu-se como a “esquerda radicalmente moderada e moderadamente radical quando necessário” e como o “único partido” capaz de não desiludir um voto verde e ecologista.
A confiança de Tavares para pressionar Pedro Nuno e para assumir a meta de ser a quarta força política tem razão de ser. Rui Tavares é cada vez mais reconhecido nas ruas, recebe pedidos do povo para a próxima legislatura e até desabafos sobre quem está desiludido com o sistema político.
Exemplo disso são os atrasos em ações de campanha devido à forte adesão da população – como, por exemplo, nas feiras de Carvalhos em Vila Nova de Gaia e de Barcelos, onde os comerciantes receberam a comitiva do Livre com sorrisos e onde até houve abstencionistas a anunciar que vão votar no Livre.
O embalo dá-lhe força para andar na rua e deixar recados aos adversários, mas também responsabilidade e Rui Tavares sabe disso. Na feira em Carvalhos, perante os pedidos de uma feirante (Lina da Fruta, que gerou popularidade na comitiva) para ter “mais rasgo”, o porta-voz disse “concordar” e que “tudo se aprende”. No mesmo dia, num comício em Braga, recordou uma iniciativa do género há quase uma década para assumir que a missão de profissionalizar o partido ainda decorre: “Fizemos um jantar com apoiantes aqui no dia da final da Liga dos Campeões. Veio só uma pessoa. Estávamos a começar [risos]”, assumiu.
Outro ponto passa por reconsolidar a imagem de união interna no partido. Joacine Katar Moreira não deve sequer ser mencionada durante a campanha, mas o mesmo não se espera de Francisco Paupério. O cabeça-de-lista às europeias do ano passado (e que foi eleito numas primárias onde a direção do partido falou em “viciação de resultados”) surgiu logo ao segundo dia de campanha no Cais do Sodré, em Lisboa, onde foi recebido com um enorme sorriso e abraço por Rui Tavares.