09 mai, 2025 - 17:00 • Susana Madureira Martins
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Pedro Nuno Santos admite dialogar com todos os partidos no pós-eleições de 18 de maio e isso inclui o PSD. Em entrevista à Renascença, o líder do PS diz que só tem o foco na vitória, mas vai procurar a “maioria estável” com todos os partidos, incluindo com os social-democratas, salientando que foi o que fez na última legislatura. “Numa vitória do PS acontecerá o mesmo”, acredita.
Numa pausa na campanha eleitoral em Castelo Branco, onde concedeu a entrevista à Renascença e que aconteceu praticamente em simultâneo com o anúncio da eleição do Papa e com o primeiro discurso de Leão XIV, Pedro Nuno Santos não pede a maioria absoluta, mas também não acha impossível ao PS obtê-la. “Não excluo nada”, diz o secretário-geral socialista.
Aos pensionistas, Pedro Nuno Santos garante que terão aumento extraordinário permanente já em 2026, mas reconhece que é preciso “avaliar a capacidade da economia”. Quanto ao IVA zero, o líder do PS, reconhece que pode ser um primeiro passo para lidar com a incerteza económica mundial.
Quanto à TAP, cuja intenção de privatização não surge no programa eleitoral do PS, Pedro Nuno Santos garante que, se vencer as eleições, é para avançar ainda na próxima legislatura, mas nos moldes que sempre defendeu: a alienação apenas “parcial” da companhia aérea.
Vamos começar pela atualidade e por esta intenção manifestada pelo primeiro-ministro de mexer na lei da greve. Já falou em autoritarismo Luís Montenegro, mas quem é afetado pela greve não precisa de ter um sinal para ser o menos prejudicado possível?
Claro que precisa. Nós temos essa preocupação, nomeadamente, as pessoas que são atingidas pelas consequências da greve. Isso implica que um Governo, perante um pré-aviso de greve, tente fazer o que está ao seu alcance, obviamente dentro daquilo que o Estado pode e a empresa pode, mas fazer o que está ao seu alcance para tentar evitar a greve. Não conseguindo evitar a greve, garantir que há serviços mínimos. O Governo não fez o que estava ao seu alcance, primeiro para evitar a greve, segundo para fixar serviços mínimos. Não é a primeira vez que isto acontece, aconteceu exatamente o mesmo com a greve do INEM.
Quando fui ministro das Infraestruturas, as greves que tive na CP tiveram sempre serviços mínimos decretados. E, portanto, aqui houve uma falha. Portanto, o Governo falhou.
Um primeiro-ministro não pode, ao fim de dois dias de greve, chantagear ou ameaçar os trabalhadores com a alteração da lei, não é só os trabalhadores da CP, são também todos os trabalhadores, mesmo aqueles que foram atingidos pelos efeitos negativos da greve. O direito à greve é um dos direitos mais importantes que nós conquist´mos com a democracia. Por isso, eles não podem ser postos em causa, só porque a greve vem perturbar a campanha do ainda primeiro-ministro.
Em 2019, chegou a defender uma revisitação desta lei da greve, na altura do rescaldo da paralisação dos motoristas dos combustíveis das matérias perigosas. Falou, então, de uma revisitação para assegurar que situações limite não aconteçam. Pensa agora de maneira diferente?
Não. Quer dizer, a greve dos motoristas das matérias perigosas foi uma greve muito desafiante para a própria ordem pública, não tem paralelo.
Não era um conflito contra o Governo ou contra uma empresa pública, era entre motoristas e os seus empregadores, que eram empresas privadas, mas a verdade é que o governo, e eu em particular, já que fui eu pessoalmente, que estive a coordenar as negociações entre os motoristas e as empresas, e a verdade é que nós conseguimos parar aquela greve e minorar os impactos.
Mas a lei da greve podia ser melhorada?
Não vou alinhar nisso, porque aquilo que Luís Montenegro está a fazer é desviar as atenções da incompetência do seu governo na gestão de situações difíceis como são as greves. Temos aqui um primeiro-ministro e um governo que lidam mal com a greve e que lida mal quando as coisas não são de acordo com aquilo que é o seu desejo.
Em relação à campanha eleitoral, esta semana ouvíamos Capoulas Santos em Évora pedir que o PS se lembrasse do que aconteceu em 2022, em que as sondagens não eram propriamente favoráveis ao Partido Socialista e que depois António Costa acabou por ter mesmo uma maioria absoluta. O cenário e o ânimo do PS não são propriamente animadores…
Porquê?
Por causa das sondagens.
O PS já tem um histórico e uma experiência com sondagens.
Aliás, devia haver um trabalho de reflexão profundo da parte das empresas de sondagens. Porque nós o ano passado, por exemplo, a tracking poll da TVIC-CNN dava-nos a seis dias das eleições nove pontos de diferença face à AD e depois ficámos a 0,8. Mesmo a empresa de sondagens do Centro de Sondagens da Católica para a RTP dava-nos seis pontos atrás, três dias antes das eleições e nós ficámos a 0,8.
Aquilo que verificamos é que o PS é subestimado nas sondagens e as empresas de sondagens já deveriam ter percebido isso e feitas as alterações necessárias para garantir que não há uma subestimação sistemática do PS.
Aquilo que Luís Montenegro está a fazer é desviar as atenções da incompetência do seu governo na gestão de situações difíceis como são as greves. Temos aqui um primeiro-ministro e um governo que lidam mal com a greve e que lida mal quando as coisas não são de acordo com aquilo que é o seu desejo.
A verdade é que o seu próprio discurso é muito cauteloso, ao contrário, por exemplo, do do líder do PSD, Luís Montenegro, que já fala numa governação para oito anos. O Pedro Nuno Santos evita também apelar sequer à maioria absoluta, fala numa maioria estável.
Luís Montenegro não tem noção nem humildade democrática e, de facto, não me coloco na mesma posição porque acho que nós temos que ter respeito democrático pelas pessoas que só vão votar no dia 18 de maio. Aquilo que devo fazer ao longo desta semana é conseguir dialogar com os portugueses, mobilizá-los para termos uma grande vitória no dia 18 de maio e estamos absolutamente convencidos que vamos ter uma vitória, vamos conseguir derrotar a AD.
Mas o cenário da maioria absoluta para o PS neste momento é impossível?
Vamos lutar para ter o melhor resultado possível, eu não excluo nada. Vamos lutar para termos uma vitória, para derrotarmos a AD, que é um mau governo. Tem um líder político que esgotou a sua credibilidade, tem um governo que esgotou o seu projeto, não conseguiu resolver os principais problemas, antes pelo contrário, agravou-os. Não há, de facto, nenhuma razão para que a AD pense ganhar as eleições, perderam a confiança dos portugueses e não conseguiram resolver nenhum problema, acrescentaram problemas aos que já tínhamos.
Acredita que é possível essa maioria absoluta para além da maioria estável de que tem falado?
Acho que podemos ganhar as eleições e ter uma maioria que nos permita governar. E é nisso que vou estar concentrado na próxima semana, a dialogar com as pessoas, conviver com elas.
Acredita na viragem, na chamada viragem a que o PS sempre fala, a partir do fim de semana a meio da campanha?
Na realidade, não sei sequer se nós precisamos de falar de viragem, porque com as diferenças que nós temos agora, fazendo o paralelo com as diferenças que tínhamos há um ano, elas são menores agora, nem sequer sei se é preciso falar em viragem. O que eu sei é que nós temos de conseguir ter as pessoas connosco a votar para ganharmos e liderarmos aqui uma mudança segura, com estabilidade, que Luís Montenegro não consegue dar. Ele é mesmo o principal fator de instabilidade política em Portugal. A AD não vai dar nunca estabilidade, se ganhasse as eleições, iria apenas continuar a instabilidade que Luís Montenegro nos trouxe nos últimos dois meses.
Recentemente o ex-secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, admitiu uma solução do tipo bloco central e dizia também que o país podia caminhar para uma situação limite. Admite que, a prazo, a situação do país possa obrigar a isso?
Acho que o bloco central é uma solução má para a democracia em Portugal. Ainda para mais quando nós temos outra força política, uma força política populista de extrema-direita. Nem o PS, nem o PSD, podem deixar que a oposição seja o Chega. Isso seria dramático para a democracia portuguesa, a alternativa ao PSD somos nós, a alternativa ao PS é o PSD. Para garantirmos a qualidade e a saúde da nossa democracia, é assim que deve continuar a ser. E para isso, o PS e o PSD não podem estar comprometidos com a mesma governação. Isso não quer dizer que em matérias essenciais da vida de um Estado e de um país, na área de soberania, nomeadamente, não deva haver entendimentos entre a maioria das forças políticas, desde logo entre as duas maiores. Áreas como a Defesa, política externa, justiça, devem-se procurar entendimentos alargados.
Entendimentos entre o PS e este líder do PSD, o primeiro-ministro, são possíveis?
Luís Montenegro tem a sua credibilidade afetada, por razões óbvias, toda a gente as conhece, esgotou a confiança, perdeu a confiança do país. É, no entanto, o líder do PSD e nós não participamos nas escolhas do PSD.
Se o PS vencer as eleições, num conjunto de matérias muito importantes para o Estado português, deve procurar ativamente entendimentos com o PSD.
Acho que o bloco central é uma solução má para a democracia em Portugal. Ainda para mais quando nós temos outra força política, uma força política populista de extrema-direita. Nem o PS, nem o PSD, podem deixar que a oposição seja o Chega. Isso seria dramático para a democracia portuguesa
Nesta primeira semana de campanha, o Pedro Nuno Santos já disse que poderá usar da sua experiência de negociador no Governo de António Costa para formar uma maioria estável após as eleições. Não ficou claro com quem quer dialogar. Com a esquerda e com mais quem? Com o PSD, com o CDS?
Nós temos de esperar pela configuração parlamentar, que sairá do dia 18 de maio e depois, de acordo com a configuração parlamentar, com o Parlamento que tiver saído das eleições, logo veremos qual é a solução que nos permita garantir estabilidade política.
No último ano, o PSD que decidiu, por sua iniciativa, excluir o Chega de qualquer solução, teve da parte do PS todas as condições de governabilidade. E eu acho que numa vitória do PS acontecerá o mesmo. Portanto, nós vamos esperar pelos resultados eleitorais, vamos ver a configuração parlamentar que sair das eleições e depois logo veremos com quem é que nós teremos de dialogar para garantir estabilidade política em Portugal.
Mas não só à esquerda?
Vamos ter de ver qual é a configuração parlamentar. Não vale a pena estarmos a antecipar cenários, porque depois saem muitas vezes furados no próprio dia das eleições e por isso não vou estar aqui a especular. Logo veremos com quem é que teremos de dialogar para assegurar estabilidade política em Portugal. Tenho a certeza de que conseguiremos fazer isso, e obviamente invoquei a minha experiência, porque foram quatro anos de negociação intensa, na qual ninguém acreditava. Muita gente achava que era impossível fazermos acordo, conseguimos o acordo, achavam que era impossível passar o primeiro Orçamento, passámos o primeiro orçamento. Diziam que era impossível passar os seguintes e passámos os seguintes. E isso deve ser muito trabalho, capacidade de dialogar, de ceder, de ouvir. Eu tenho essa capacidade.
Com o centro de direita também ou com o que a esquerda normalmente chama de direita democrática?
Eu não excluo que nós tenhamos de dialogar com o PSD.
Em relação à sua própria liderança, e no caso, num cenário de derrota, se perder estas eleições a sua liderança no PS não está em causa?
Não há cá cenário de derrota, eu vou ganhar estas eleições.
Mas há um cenário, todos os cenários têm de estar em cima da mesa?
Não. Para nós só está o cenário de vitória, nós estamos a trabalhar para ganhar estas eleições, o país precisa de uma mudança, de fechar este ciclo.
Isso não é irrealista?
Claro que não é irrealista. Irrealista? Não, não é irrealista. Quando queremos um objetivo, nós temos de estar focados nele. E o objetivo em que nós estamos focados é conseguir ter a confiança do povo português e é só nisso que nós estamos a trabalhar, não vou perder energia com mais nenhum cenário que não seja o de ganharmos as eleições.
E se isso não acontecer?
Percebo o esforço, mas quando nós queremos alguma coisa, nós temos de estar focados nela e nem dar chance que cenários negativos ganhem espaço no nosso tempo e na nossa cabeça.
E espaço no partido também…
Não, nem no partido, nem no nosso pensamento. No nosso pensamento só está o cenário de vitória. Conseguirmos ter as pessoas connosco, mobilizá-las para derrotarmos a AD e termos um Governo que permita Portugal avançar.
Tem centrado nos últimos dias parte do seu discurso nos pensionistas. Vai propor um novo aumento adicional e permanente de pensões para 2026?
Aquilo que temos dito é que devemos sempre promover aumentos acima do que a lei prevê para as pensões mais baixas e fizemos isso quando estivemos nos governos liderados por António Costa, fizemos seis aumentos extraordinários em oito anos e agora na oposição voltamos a fazer. Aquilo que temos de fazer em cada momento é avaliar a capacidade da economia para suportar esses aumentos.
Aquilo que os mais velhos sabem, que os pensionistas sabem, é que podem confiar no PS porque nós não estamos a dizer que queremos fazer uma coisa que nunca tínhamos feito. Nós estamos a dizer que queremos fazer uma coisa que já fizemos muitas vezes.
Esse é o argumento do atual Governo, esperar para ver se é possível.
Não, não é. Há uma diferença muito grande. É que aquilo que o Luís Montenegro diz é que quer, se houver possibilidade, é dar um bónus, como anuncia em agosto, na festa do Pontal e dar um bónus sem repetição. Ora, nós não aceitamos essa ideia. Aquilo que nós queremos é fazer aumentos que sejam permanentes, que se repitam, não é dar um bónus que se dá num mês e depois no mês seguinte não se repete.
Ainda não é possível neste momento garantir o que quer que seja?
É possível garantir que vamos fazer aumentos extraordinários acima do que a lei prevê. Isso é possível. Agora, temos de ver, em cada momento, até onde é que podemos ir. Mais vale fazermos aumentos menores do que esse bónus, mas que sejam permanentes, que se repitam todos os meses e ao longo da vida.
E acha que o PS já se reconciliou com carreiras como as forças de segurança e os professores, que só conseguiram ver respondidas reivindicações com a AD?
Foram as contas públicas certas e o excedente que permitiram a este governo da AD fazer esses aumentos. Portanto, foi a gestão orçamental do governo de António Costa que permite hoje fazermos isso. Segundo, o governo de António Costa foi interrompido ao fim de dois anos.
Em relação aos professores, por exemplo, sempre houve uma recusa em responder a esta reivindicação do tempo de serviço.
Havia negociações em curso com várias classes profissionais. Depois há outra coisa, que é as minhas posições pessoais, ainda antes de eu imaginar que ia haver eleições. Defendi, como comentador, que o Estado tem a obrigação de cumprir o contrato que tem para com os seus trabalhadores. Tenho um contrato com os professores, tinha de cumprir o contrato com esses professores. Foi sempre a minha posição.
Foram as contas públicas certas e o excedente que permitiram a este governo da AD fazer esses aumentos. Portanto, foi a gestão orçamental do governo de António Costa que permite hoje fazermos isso. Segundo, o governo de António Costa foi interrompido ao fim de dois anos.
Mas o que lhe pergunto é se o PS se reconciliou com essas carreiras, não é o Pedro Nuno Santos.
Claro, mas sou eu que lidero o PS e, ao longo da minha campanha, disse sempre que tínhamos que chegar a acordo e eu cheguei a reunir com as forças de segurança durante a campanha e assumi o compromisso. Temos de explicar às pessoas que aquilo que a AD defendeu e cumpriu ou executou era aquilo que todos os partidos defenderam na campanha e que, portanto, qualquer partido que ganhasse as eleições, nomeadamente o PS, ia concretizar aquilo que a AD concretizou.
Pode garantir algumas melhorias nestas carreiras das forças de segurança, militares, professoras?
Nós temos uma Administração Pública que, em várias áreas, tem dificuldade em recrutar e em reter e nós só conseguiremos ter um Estado a funcionar e um setor privado a beneficiar de um Estado que funciona bem se nós conseguirmos recrutar e reter trabalhadores no Estado.
Dentro daquilo que for a capacidade orçamental do Estado, nós devemos procurar de forma ativa valorizar as carreiras da Administração Pública.
Em relação à TAP, não o temos ouvido falar do futuro de uma empresa que já tutelou como Ministro. O programa eleitoral fala da TAP, mas não fala da privatização. Pergunto-lhe se o PS e o Pedro Nuno Santos já desistiram da privatização?
A minha posição é muito consistente ao longo dos anos sobre a TAP, porque eu era ainda Ministro das Infraestruturas, tínhamos acabado de fazer uma reestruturação polémica, mas que permitiu salvar a TAP, que já vai no terceiro ano consecutivo a dar lucro. Quando fizemos a intervenção na TAP, eu defendi que se devia abrir o capital da TAP para a entrada de um parceiro da indústria, não um grupo financeiro, mas um grupo de aviação, defendi também que o Estado não perdesse a maioria do capital e a minha posição é esta: abrir um processo de privatização parcial do capital da TAP sem que o Estado perca a maioria do capital.
E se o PS vencer as eleições, se formar governo, é possível lançar essa privatização na próxima legislatura?
Sim, aliás, este Governo já o estava a fazer, sabia que não tinha apoio parlamentar para privatizar a maioria do capital e, portanto, estava , julgo eu, a iniciar um processo com vista à privatização parcial do capital da TAP e esse processo será continuado por nós.
Com todo o contexto internacional, a prazo, e em vez de estarmos a falar de investir percentagens do PIB em Defesa, podemos começar a falar de uma economia de guerra? O seu IVA zero pode ser o começo disso?
O cenário com que nós nos confrontamos é de grande incerteza. Os primeiros três meses de 2025 são três meses em que a economia cai, o legado do ponto de vista da economia que o Luís Montenegro nos deixa é uma economia a cair com um número de trabalhadores envolvidos em processos de despedimento coletivo que é o maior dos últimos 12 anos, portanto, a situação é de alguma preocupação. O nosso cenário macroeconómico não só é mais realista que o da AD, que é uma completa impossibilidade, é uma brincadeirinha, não tem qualquer adesão à realidade, mas as nossas políticas em matéria de economia são também aquelas que nos preparam melhor para um cenário de incerteza. O IVA zero é um bom contributo para um cenário, por exemplo, perante uma guerra comercial num processo inflacionista, se nós tivermos inflação como consequência de uma guerra comercial, o IVA zero vai ajudar as nossas famílias a enfrentar esse tempo de incerteza.
Sobre os votos desperdiçados nas eleições legislativas, como é que isto se resolve, tendo em conta que, em 2024 tivemos 1 milhão e 200 mil votos desperdiçados nas legislativas? A possibilidade de resolver isto é a criação de um círculo nacional de compensação?
Não há perspetiva nenhuma de fazer uma alteração constitucional ao nosso sistema eleitoral, isto está completamente fora da agenda, não está nem no nosso horizonte, nem julgo que está no horizonte da AD, essa questão não se coloca. Por isso é que é tão importante que num conjunto de distritos onde partidos à esquerda do PS não têm possibilidade de eleger deputado, que esses votos possam ser concentrados no PS, porque isso garante que podemos derrotar a AD e que esses votos tenham uma utilidade na derrota de um governo de direita.
Não há perspetiva nenhuma de fazer uma alteração constitucional ao nosso sistema eleitoral, isto está completamente fora da agenda, não está nem no nosso horizonte, nem julgo que está no horizonte da AD, essa questão não se coloca.
Algo que a esquerda à esquerda do PS não gosta?
Eu percebo, mas num conjunto de distritos, esses votos nalguns desses partidos não vão se traduzir na eleição de um deputado, mas se forem votos no PS vão permitir derrotar a AD. Não é só derrotar a AD. Por exemplo, vejamos o caso de Castelo Branco. Se tivermos um conjunto de votos que hoje estão a ir para partidos que não têm hipótese nenhuma de eleger um deputado no distrito de Castelo Branco, mas se vierem para o PS, não só nós temos mais hipótese de derrotar a AD, como podemos garantir que é eleito um deputado do PS em vez de eleito um deputado do Chega. Em Castelo Branco, o deputado do Chega foi o último a ser eleito e esteve em disputa com o PS, e portanto nós podemos, não só com votos em alguns distritos que não permitem eleger deputados para o Livre, para o Bloco ou para o PCP, se forem no PS, permitem não só derrotar a AD, como até diminuir o número de deputados do Chega.
É por isso que tem feito um caminho para o discurso ao centro e para não se acantonar à esquerda?
O meu discurso, do ponto de vista de substância política, não se altera, eu acho que as pessoas olham para a forma e para alguma tranquilidade e serenidade com que estou nestas eleições e interpretam isso como uma moderação do programa. O nosso programa já era moderado há um ano, desse ponto de vista não se alterou, nós somos um partido de centro-esquerda, isso não se alterou, nós temos uma visão do Estado social, público e universal, achamos que o Estado, do ponto de vista económico, não se substitui ao setor privado, mas tem um papel importante no desenvolvimento industrial das nossas economias, e desse ponto de vista nós continuamos com o mesmo programa.
Não há o fantasma de, vencendo as eleições, o programa radicalizar-se à conta de outros partidos de esquerda?
Tal como não aconteceu em 2015, e havia também esse receio. Em 2015 isso não aconteceu, em 2025 isso também não acontecerá.