10 mai, 2025 - 20:14 • Alexandre Abrantes Neves
É o “objetivo maior”, assumiu Rui Tavares este sábado, mas o PS vai ter de ceder a condições. O porta-voz do Livre está cada vez mais empenhado em mostrar como uma alternativa de governação à esquerda é possível e vai dando passos concretos do que espera dessa nova geringonça, com o objetivo aparente de querer pressionar Pedro Nuno Santos.
“Se Pedro Nuno Santos quer ser primeiro-ministro, Pedro Nuno Santos vai ter de discutir o círculo de compensação nacional”, afirmou, de forma convicta, o líder do Livre, em resposta a Pedro Nuno Santos que, em entrevista à Renascença, rejeitou essa hipótese, dizendo que dificultaria uma derrota da AD.
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Tavares esclarece que este não é um dos sete pontos essenciais para começar a negociar (onde se encontram, entre outras, a defesa do SNS e audições parlamentares prévias aos nomeados como ministros), mas garante que é uma condição para se formar um governo justo e que olhe para os problemas das pessoas.
“Basta desta injustiça de termos os portugueses a viver num país de dois sistemas. Porque nós temos dois sistemas políticos. Não há outra maneira de dizer isto. Nós temos multipartidarismo no litoral e depois temos bipartidarismo no interior”, defendeu, para, nas entrelinhas seguintes, acusar o PS de incoerência: “Nos Açores, o PS governou durante 16 anos e não se queixou do círculo de compensação a nível regional”.
Esta medida, cujo debate na sociedade civil se tem acentuado nos últimos anos, consiste na criação de mais um círculo eleitoral, a partir do qual se elegeriam deputados para o parlamento com os chamados “votos desperdiçados”, ou seja, os boletins que não se traduzem em eleitos nos círculos tradicionais.
Para Rui Tavares, esta matéria serviu também para expandir o leque de críticas que tem feito à Iniciativa Liberal (IL), o principal alvo desde o início de campanha.
Após a visita a uma cooperativa no concelho de Sintra, Tavares mostrou-se ciente de que a criação de mais um círculo eleitoral está dependente também do aval do PSD. E, para esse objetivo, a IL podia “estar a fazer mais”, colocando também a questão como uma condição para um possível acordo com a AD.
“Quem nos dera a nós que a IL tivesse a mesma força de dizer ao PSD: ‘Meus caros amigos, querem um governo? Então têm de discutir o círculo de compensação nacional’”, desafiou.
A hipótese tem sido rejeitada por Pedro Nuno, para Luís Montenegro nem se equaciona e, na leitura de Rui Tavares, é um absurdo: ter uma solução de bloco central seria “indesejável” para o país. Mas, perante a abertura recorrente do líder do PS a dialogar com a AD, o porta-voz do Livre prefere renovar o alerta.
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“Uma das hipóteses que está em cima da mesa, e essa é indesejável para o país, é um bloco central, porque entrega a oposição à extrema-direita”, alertou, durante a visita à feira de Alverca este sábado.
O porta-voz do Livre não aprofunda o tema, mas aproveita-o para insistir que o próximo governo “tem de respeitar o parlamentarismo” e que tem de saber dialogar com o parlamento. E, numa altura em que assume que a grande estratégia é roubar votos à direita, Tavares parece piscar o olho e mostrar-se como a alternativa confiável aos eleitores que fugiram da esquerda depois da maioria absoluta de António Costa.
“Está na raiz dos nossos problemas termos tido um governo de António Costa. Tinha a arrogância da maioria absoluta e não ligava ao Parlamento e nós criticávamos António Costa por isso. E depois, com o governo de Montenegro, que nem tem a maioria absoluta, governou com uma arrogância, pouco falando com o Parlamento”, atirou.
O porta-voz do Livre completou a tríade. Além das críticas à IL pela falta de compromisso na revisão da lei eleitoral e dos ataques à AD pela “arrogância”, Rui Tavares também não deixou o Chega escapar ileso este sábado.
De visita à feira de Alverca, e numa altura em que André Ventura já se envovleu em trocas acesas de palavras com a comunidade cigana nesta campanha eleitoral, Rui Tavares cruzou-se com comerciantes ciganos, logo numa das primeiras bancas onde parou para distribuir panfletos. Lindo Cambão não hesitou.
“Espero mais força vossa para combater André Ventura, esse senhor está a trazer ódio para Portugal, os nossos filhos não têm segurança por causa desse senhor”, afirmou, para rapidamente acrescentar que, apesar das queixas, não dá troco: “Isto é como os cães: se não lhes ligar, eles não mordem”.
Lindo trabalha na Câmara Municipal de Torres Vedras, aos fins-de-semana ajuda a família na feira e, na essência, diz ter a vida orientada. Mas sabe que não é assim com todos. “Se um cigano for pedir emprego a um café eles não lhes dão, tem de esconder a sua identidade”, sublinha.
Logo ao lado, Adelino Silva complementa: “Se eu quiser comprar um apartamento, eu não posso dar a cara. Tem de ir um advogado e eu só vou no dia em que é para assinar o contrato”, disse, olhos nos olhos, a um Rui Tavares que ia anuindo com a cabeça e que recuperou a promessa de sexta-feira em Almada: o combate ao anticiganismo.
“É alguém que quer subir, ficar mais famoso, ter mais poder, à conta de rebaixar aqueles que muitas vezes já são estigmatizados”, criticou.