Legislativas 2025

Pedro Nuno à caça do eleitorado total. Indecisos, pensionistas, fileiras do Chega, da AD e toda a (outra) esquerda

15 mai, 2025 - 00:57 • Susana Madureira Martins

Depois de perder as legislativas de 2024 por 50 mil votos, o líder do PS aposta na reta final da campanha em vários tabuleiros e quer pescar votos em todo o lado, nomeadamente aos “envergonhados” da AD e ao "centrão", onde - dizem os especialistas - se ganham eleições.

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“Os democratas-cristãos só podem votar no PS”. A frase dita por Basílio Horta, autarca do PS em Sintra e fundador do CDS, num almoço de campanha em Queluz, na terça-feira, é o espelho da abrangência eleitoral desejada por Pedro Nuno Santos. É total e abrange as diversas franjas, do centro aos extremos.

“O Partido Socialista é um partido de todos os portugueses”, disse já esta quarta-feira Pedro Nuno Santos, precisamente quando foi questionado sobre o perfil do eleitorado que está a disputar. “Queremos o voto de todos os portugueses”, acrescentou o líder do PS.

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Pensionistas, a joia da coroa socialista em disputa com a AD

Na direção socialista é assumido que o partido está a disputar diretamente com a AD o eleitorado dos pensionistas e reformados, após ter estado anos instalado numa zona de conforto onde o PSD tinha muitas dificuldades em entrar, na sequência dos anos e cortes exigidos pela troika.

Ainda em 2024, Luís Montenegro apresentou-se como o agente de “reconciliação” do PSD com os pensionistas e prometeu, por exemplo, o aumento do Complemento Solidário para Idosos, iniciando uma estratégia de aproximação com um eleitorado altamente apetecível e, sobretudo, numeroso.

O PS tem centralizado o seu discurso na desmontagem desta estratégia da AD. Ainda esta quarta-feira, Pedro Nuno Santos referiu como “falsidades” e “meias-verdades” de Luís Montenegro sobre o aumento de pensões. “Falso. Cumpriu a lei. Era só o que faltava”, disse o líder socialista no almoço desta quarta-feira na Costa de Caparica.

Nesta campanha, na cartilha do PS para os pensionistas fica a garantia de que terão aumento de pensões extraordinário e permanente. A percentagem, maior ou menor, dependerá da capacidade financeira do momento.

Outra garantia que é deixada com frequência por Pedro Nuno Santos é que serão “inaceitáveis” mexidas na Segurança Social que impliquem a privatização do sistema. Os socialistas só admitem mexer na legislação laboral para, por exemplo, garantir a redução do horário semanal de trabalho das 40 horas para as 37,5.

Os “envergonhados” da AD e o "centrão"

“Nós viemos falar para todos”. Uma frase quase messiânica de Pedro Nuno Santos, em resposta aos jornalistas esta quarta-feira no mercado do Livramento, em Setúbal, mas que revela a disputa em todos os segmentos do eleitorado.

“Eles governam para uma minoria, nós governamos para todos”, é, aliás, uma das frases feitas mais ditas pelo líder socialista nos comícios de Norte a Sul do país.

É nesta narrativa que encaixa, por exemplo, a proposta do IVA zero permanente para os alimentos essenciais e que está previsto entrar em vigor em julho, se o PS vencer as eleições. “Governar para todos” é também entrar pelo eleitorado do centro, que, para Pedro Nuno Santos, é uma necessidade absoluta para ganhar eleições.

A moderação a que se agarrou e que diz sempre ter existido poderá também servir para chegar a esse eleitorado que votou em Montenegro e possa estar desiludido. “Há muita gente que votou na AD e que hoje está envergonhada”, disse Pedro Nuno esta quarta-feira aos jornalistas.

O líder socialista acredita que “um cidadão português não gosta de ter um primeiro-ministro que mistura política com negócios”, referindo-se implicitamente ao caso Spinumviva. “Também queremos que esse eleitorado sinta que pode confiar no Partido Socialista”, assumiu Pedro Nuno.

Admitir dialogar com todos, inclusive com o PSD, como Pedro Nuno Santos admitiu na entrevista à Renascença, e admitir até “cedências” como fez esta quarta-feira em Setúbal, pode ser lido como fazendo parte dessa moderação e uma resposta a um eleitorado do centro a quem pode desagradar ceder o apoio a um líder do PS acantonado à esquerda.

Também Fernando Medina, ex-ministro das Finanças de António Costa, se dirigiu a esta fatia do eleitorado para argumentar sobre aquelas que considera serem as vantagens de votar no PS. “Falar para aqueles que pensam que este Governo está em funções há pouco tempo e que devemos dar capital de crédito”, disse Medina no comício da Aula Magna, em Lisboa, dirigindo-se, no fundo, ao "centrão" que está indeciso.

É aqui que cabe também um potencial eleitorado que possa ter dúvidas sobre uma eventual “coligação radical”, como lhe chama Pedro Nuno, entre a AD e a Iniciativa Liberal (IL).

O ex-ministro do PS Duarte Cordeiro disse-o claramente no comício desta semana na Figueira da Foz: “Luís Montenegro tem o dever de ser transparente e dizer até onde está disponível de para negociar com a IL”, considerando que “isto é fundamental para o eleitorado do centro e dos pensionistas que têm de saber”.

É na sequência desta eventual coligação da AD com a IL que surge a frase de arranque deste artigo e dita por Basílio Horta, fundador do CDS e atual autarca do PS em final de mandato.Não pode haver um democrata-cristão em Portugal que possa aceitar isto”, disse Basílio num almoço na Amadora, defendendo que “os democratas-cristãos só podem votar no PS”.

Invocar o medo da “motosserra orçamental” dos liberais serve como bilhete de entrada no eleitorado centrista que resta e que vê na IL um adversário, mais do que um parceiro. Basílio, por lapso ou não, chama-lhe “Intervenção Liberal”, alertando que pela “primeira vez temos uma ameaça séria de ter os direitos sociais em causa”.

A outra esquerda

Na tentativa de moderação e de uma aproximação ao centro, Pedro Nuno Santos tem, de alguma maneira, deixado a descoberto a relação com os partidos de esquerda à esquerda do PS – PCP, Bloco de Esquerda e Livre. Não os tem tratado propriamente a pontapé, mas esfriou as relações a bem do voto útil da esquerda.

O líder socialista não fala para esses partidos, lembra-os apenas como parceiros da "Geringonça" com quem diz ter conseguido dialogar e dar “estabilidade política” como secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e prefere falar para o eleitorado dessa área política.

“O eleitorado mais à esquerda do PS pode olhar para o PS como uma força progressista de avanço de defesa do Estado Social e era importante que, em muitos círculos onde eles não vão conseguir eleger deputados que pudessem, através do PS, dar o contributo para derrotarmos a AD e termos um governo progressista”, disse esta quarta-feira Pedro Nuno aos jornalistas.

É uma estratégia que tem irritado profundamente os partidos à esquerda do PS, com o porta-voz do Livre, Rui Tavares, a defender, em alternativa, o círculo nacional de compensação como forma de aproveitar totalidade dos votos, sem nenhum ser desperdiçado, opção a que o PS se vem opondo.

Recuperar o eleitorado da extrema-direita

O PS distingue sempre o Chega do eleitorado que vota no partido liderado por André Ventura. E Pedro Nuno quer entrar por esse voto muito associado ao descontentamento social e político com os partidos tradicionais. Os tais que “vão engrossando as fileiras da extrema-direita”, como se lhes referiu Fernando Medina no comício da Aula Magna.

Pedro Nuno, nas declarações que fez esta quarta-feira aos jornalistas, explicou que deseja esse “eleitorado que tem confiado no partido populista de extrema-direita em Portugal. E porquê? Porque há pessoas que estão zangadas, achando que as suas vidas estão a marcar passo, não atam nem desatam e estão zangadas. Só que o Chega não tem a solução para os seus problemas”.

A inflexão do PS no tema da imigração, assumindo uma alternativa à manifestação de interesse e a necessidade de uma entrada regulada, foi uma maneira de responder a um eleitorado que perceciona os imigrantes como um risco de segurança que é preciso controlar, apesar de os dados dizerem o contrário e de serem considerados trabalhadores fundamentais que contribuem para a Segurança Social.

Há uma fatia específica do eleitorado que se fixou no Chega e que, ao longo do tempo, se tem tornado um problema para o PS que é o dos jovens. Pedro Nuno quer chegar-lhes, mas durante o período oficial de campanha não tem falado especificamente para eles, pelo menos com a frequência com que tem falado para os pensionistas.

Aos jornalistas, esta quarta-feira, o líder do PS não os esqueceu, mas para acusar o Governo de Montenegro. “Infelizmente, a AD não foi o Governo para os jovens que disse que ia ser. As medidas que a AD tomou na área da habitação permitiram uma minoria dos jovens comprar a casa. Mas a maioria ficou ainda mais longe de conseguir comprar a casa.”

Ao mesmo tempo, Pedro Nuno aproveitou para lamentar que a AD “acabou com a devolução das propinas, que nós temos no nosso programa, que defendemos e que tínhamos quando estávamos a governar. Atrasaram a entrega do Porta 65”. Mas a tecla do eleitorado jovem não é carregada nos comícios.

No domingo, dia de eleições, a abstenção poderá ser a amiga perversa do PS. É muito ao eleitorado descontente que permaneceu anos na abstenção que o Chega vai buscar votos. O entendimento entre os socialistas é que se essa fatia de votantes faltar à chamada, o PS poderá dar a volta à história de desvantagem que tem sido ditada pelas sondagens e ter uma chance de ganhar as eleições.

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