16 mai, 2025 - 07:00 • Diogo Camilo
Estão em todo o lado em altura de eleições, mas a maioria diz que não presta atenção nem se sente influenciada por elas. As sondagens existem para todos os gostos, tamanhos e feitios, são realizadas por órgãos de comunicação e partidos e todos os anos fazem movimentar centenas de milhares de intenções de voto e de euros.
Nos últimos dias de campanha, as sondagens internas e as que são públicas foram tema de conversa dos dois líderes de AD e PS: se Luís Montenegro afirmou na terça-feira que tinha “números melhores” que mostravam o crescimento da coligação; Pedro Nuno Santos, no dia seguinte, disse que o PS estava a ser “largamente subestimado nas sondagens”.
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No entanto, nem a AD, nem o PS responderam às perguntas da Renascença sobre quantas sondagens internas realizaram para esta campanha eleitoral, ao contrário das restantes forças políticas no Parlamento.
A juntar a este cenário temos seis casas de sondagens a realizarem inquéritos nestas eleições para diferentes órgãos de comunicação. E todas têm diferentes maneiras de escolher quem é questionado, como é feita a entrevista ou como são distribuídos aqueles que dizem que não sabem em quem votar.
Neste artigo dissecamos quanto custam as sondagens e quanto estão a gastar os partidos com elas, os possíveis conflitos de interesses entre empresas e forças políticas, o que os barómetros dizem (ou não dizem) e as diferenças entre as várias casas de sondagens e os estudos que realizam.
AD e PS não mostram números, mas os orçamentos de campanha entregues à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP) revelam que as duas forças políticas são as que gastaram mais dinheiro em estudos de mercado: 1 milhão de euros para a coligação de PSD e CDS e 600 mil euros para os socialistas.
Até há um ano, quem realizava as sondagens internas da AD era a Pitagórica, que agora faz os seus inquéritos para quatro órgãos de comunicação - a TVI, a CNN Portugal, o Jornal de Notícias e a TSF.
À Renascença, a empresa admite que nenhuma das sondagens realizadas na altura em que trabalhava para o PSD e a AD foram publicadas na página da ERC, onde são depositadas todas as sondagens divulgadas. “A lei não proíbe”, justifica o administrador Alexandre Picoto.
E é verdade. A lei das sondagens, que é de 2000, não proíbe os partidos de realizarem sondagens internas e de não as divulgarem: apenas é obrigatório depositar a sondagem se esta for divulgada num órgão de comunicação social.
A ameaça disso acontecer levou uma sondagem interna do PS a aparecer na página da ERC, no início de abril. O barómetro, realizado pela Metris, tem 1.022 inquiridos em simulação de urna, e colocou o PS à frente da AD.
António Gomes, o diretor-geral da GfK-Metris, não confirma que haja mais sondagens internas realizadas pelo PS, referindo que a sondagem em questão foi depositada na página da ERC por haver “possibilidade de ser mencionada”, não especificando por quem.
Se os partidos divulgarem as sondagens internas, não serão responsabilizados. Mas se as sondagens internas que forem divulgadas não estiverem no depósito da ERC, as empresas que as realizaram podem ser sujeitas a uma contraordenação até 250 mil euros.
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A Renascença questionou ainda o responsável sobre um eventual conflito de interesses, já que a Metris pertence ao mesmo grupo que a GfK, que realiza o trabalho de campo das sondagens para o Expresso e SIC, e que a Intercampus, que realiza as sondagens para o Correio da Manhã, CMTV e Jornal de Negócios, que indicou que são “completamente diferentes” e que não vê problemas, “desde que as equipas sejam independentes”.
António Salvador, o diretor-geral do grupo GfK Portugal e fundador da Intercampus, acompanha o discurso e diz que são “equipas completamente distintas”.
Questionado sobre se pode dar-se o caso dos mesmos entrevistadores realizarem trabalhos para sondagens de diferentes empresas, o diretor diz que os entrevistadores “não são exclusivos” e que, portanto, podem ser convidados a realizarem sondagens para diferentes casas, incluindo outras fora do grupo, como a Aximage ou a Pitagórica.
À Renascença, o Chega avança que realizou cinco sondagens nacionais e uma dúzia de sondagens distritais, com um custo de 60 mil euros - o mesmo que está estabelecido no orçamento de campanha do partido para estas legislativas.
No ano passado, o partido foi investigado por partilhar uma sondagem realizada pela Intercampus e publicada por uma empresa brasileira que não está credenciada para divulgar sondagens em Portugal. Desde então, o partido encomenda as suas sondagens à Aximage, a mesma empresa que realiza sondagens para o Diário de Notícias.
Questionado sobre um eventual conflito de interesses, o partido diz que “todas as empresas fazem sondagens para diversos partidos e órgãos de comunicação social”.
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Dos outros partidos mais pequenos, apenas a Iniciativa Liberal realizou uma única sondagem, para definir a sua estratégia de campanha para estas eleições.
Livre, Bloco de Esquerda e CDU avançaram à Renascença não ter realizado qualquer sondagem interna.
Sim, desde logo porque servem para diferentes fins. Embora possam ter intenções de voto de cada partido, muitas têm como propósito a avaliação qualitativa de temas ou o teste de estratégias de campanha. Alguns têm ainda cenários eleitorais ou distribuição de deputados, mas essas custam mais.
As sondagens internas são também, dado o nível de detalhe e a base de inquiridos, mais caras que as sondagens que estamos habituados a ver nos órgãos de comunicação.
A Renascença tentou procurar saber como está o mercado das sondagens para os órgãos de comunicação social, através de fontes do setor dos estudos de mercado.
Os valores de custo das sondagens têm em conta a amostra da sondagem, mas também o tipo de inquérito que é realizado, mas muitos são contratados em pacote e de forma anual, com alguns casos em que a fatura dos órgãos de comunicação baixa porque a mesma empresa está a realizar sondagens para um partido político.
Há que ter também em conta se o tratamento de dados é realizado pela empresa que faz o trabalho de campo ou pelo instituto ou empresa que é responsável pelo estudo, sabendo também que este pode incluir IVA.
No entanto, e apesar da grandeza destes valores, o verdadeiro campo de ação das empresas de sondagens são os estudos de mercado que realizam para empresas de telecomunicações ou grandes empresariais em Portugal, como a Sonae.
Valores representativos das sondagens, por número de inquiridos e tipo de inquérito
A resposta pode parecer surpreendente, mas os eleitores acham que não.
Os estudos pós-eleitorais das últimas eleições mostram que dois terços dos portugueses não prestam atenção às sondagens e que os mais atentos têm o voto mais decidido antes da campanha eleitoral do que aqueles que dizem não prestar atenção às sondagens.
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À pergunta "Esteve atento às sondagens durante a campanha eleitoral?", 33% das pessoas disseram ter estado "nada atento" e 34% responderam "pouco atento", enquanto 25% disseram que estiveram “bastante” atentos e apenas 8% declararam ter estado “muito” atentos às sondagens.
Historicamente, homens prestam mais atenção do que as mulheres e os mais atentos às sondagens são também os que têm o voto decidido antes da campanha eleitoral.
Há uma lista de 13 empresas creditadas a realizarem sondagens em Portugal. Dessas, seis empresas diferentes estão a fazer sondagens para órgãos de comunicação.
Duas delas realizaram sondagens através do método mais fiável, o de simulação de urna - o ICS/ICSTE e a Intercampus -, enquanto uma empresa faz parte dos seus inquéritos de forma online, considerado o método menos fiável - a Aximage.
Outros dos aspetos que podem levar a pequenas discrepâncias é a forma como a amostra é obtida e as quotas para lá chegar.
Enquanto a amostra obtida pela Universidade Católica é completamente aleatória e depois é realizada uma ponderação aos números, duas das casas das sondagens usam números desatualizados dos cadernos eleitorais para as sondagens - a Intercampus vai buscar o dos cadernos eleitorais de 2023 e a Consulmark2 usa os Censos de 2021, ou seja, a população que Portugal tinha há quatro anos.
O tipo de inquérito também influencia a taxa de resposta e a percentagem de indecisos: as sondagens com um painel fixo, como da Aximage, têm maior percentagem de pessoas a responder que sondagens como do CESOP ou ISCTE; e os inquéritos online ou que têm a intenção de voto como primeira pergunta também surgem com menor percentagem de indecisos do que aqueles que colocam a pergunta das intenções de voto no fim da sondagem.
Mesmo depois de terem os resultados das intenções de voto, as empresas também diferem na maneira como distribuem os indecisos: Aximage, Intercampus, Consulmark2 e Pitagórica fazem a distribuição proporcional daqueles que dizem não saber em quem votar, enquanto o CESOP apenas tem em conta os indecisos que disseram ter a certeza que vão votar e o ICS/ISCTE usa um outro método, o da imputação múltipla.
Ainda assim, João António, o diretor do CESOP assume à Renascença que "não há uma forma melhor de fazer as coisas" no que toca a sondagens, referindo que é necessário assumir que os barómetros são "instrumentos com erro" associado.
Eis as empresas e como é que cada uma realiza as suas sondagens.
Aximage
- Realiza sondagens para o Diário de Notícias e o Chega;
- Parte das entrevistas são feitas por inquérito online (CAWI) e outra parte por inquérito telefónico (CATI);
- A empresa tem um painel fixo com cerca de nove mil nomes, de pessoas mais abertas a responder a sondagens, que são aleatoriamente escolhidas. A amostra é depois estratificada a partir da região, sexo, idade, escolaridade com base na população portuguesa, embora não seja especificado o ano;
- Distribui os indecisos de maneira proporcional;
CESOP/ Universidade Católica
- Realiza sondagens para a RTP, a Antena 1 e o Público;
- Entrevistas feitas por inquérito telefónico (CATI);
- São gerados de forma aleatória números de telemóvel com base numa amostra que não é estratificada. Os valores são depois ponderados, tendo em conta o sexo, idade, região e voto nas legislativas passadas;
- Distribui os indecisos de forma proporcional, tendo em conta o peso de cada partido nas intenções diretas de voto, mas apenas usa os indecisos que disseram ter a certeza que iam votar;
Consulmark2
- Realiza sondagens para o jornal Nascer do Sol;
- Entrevistas feitas por inquérito telefónico (CATI);
- É feita a seleção por quotas de género, idade e região em listas telefónicas, tendo em conta a população nos Censos de 2021;
- Distribui os indecisos de maneira proporcional;
Intercampus
- Realiza sondagens para o Correio da Manhã, CMTV e Jornal de Negócios;
- Uma das sondagens foi feita por método de simulação de urna (CAPI), as outras por inquérito telefónico (CATI);
- A amostra é estratificada por sexo e região de maneira proporcional. Os dados são obtidos através do Recenseamento Eleitoral da população portuguesa no final do ano de 2023;
- Distribui os indecisos de maneira proporcional;
ICS - ISCTE
- Realiza sondagens para a SIC e o Expresso;
- Três das sondagens foram feitas por método de simulação de urna (CAPI), a outra por inquérito telefónico (CATI);
- A amostra é estratificada por sexo, idade, instrução, região e dimensão dos agregados com base na população dos cadernos eleitorais do final de 2024;
- Indecisos distribuidos por imputação múltipla, de acordo com uma série de perguntas relacionadas com a inclinação política, a aproximação a partidos ou tendências de comportamento de voto;
Pitagórica
- Realiza as sondagens para a TVI, CNN Portugal, Jornal de Notícias e TSF;
- As sondagens são feitas através de inquérito telefónico (CATI);
- A amostra é aleatória com base em quotas por distrito, sexo e idade, com base nos dados do Recenseamento Eleitoral da população no final de 2024;
- Distribui os indecisos de maneira proporcional.